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A campanha de prevenção ao suicídio, conhecida como Setembro Amarelo, traz, neste ano de 2022, o lema “A vida é a melhor escolha”. Criada desde de 1994, por meio de um movimento organizado pelos pais do jovem americando Mike Emme, que cometeu suicídio com apenas 17 anos, a data passou a ser celebrada como um importante marco, abordando um assunto sobre o qual ainda existe um grande tabu.  O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

Inspirado no caso Emme, o Setembro Amarelo foi adotado em 2015, no Brasil, pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em conjunto com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e Centro de Valorização da Vida (CVV), com o objetivo de popularizar a discussão em torno do problema, a fim de ajudar a identificar sinais de alerta e incentivar a prevenção ao suicídio. 

Os mais recentes dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que, somente em 2021, cerca de 700 mil pessoas perderam suas vidas dessa maneira, enquanto outros levantamentos da instituição demonstram que, lamentavelmente, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos. O principal fator pode estar no fato da adolescência ser considerada uma fase crítica, na qual o jovem ainda está transitando entre a infância e a adultez. 

Jovens precisam de mais atenção

Já sabendo que a adolescência é marcada por um aumento das conexões entre diferentes partes do cérebro, o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (INSM) está realizando um estudo focado em compreender o que está por trás das oscilações de humor e comportamentos de risco que marcam essa fase. 

Estudos mostram que nesse período ocorrem grandes mudanças nas conexões cerebrais, especialmente aquelas relacionadas ao córtex pré-frontal, área responsável pelo desenvolvimento de pensamentos mais complexos, tão necessários para o aprendizado e para a aquisição de novas habilidades socioemocionais.

Entretanto, elas não são as únicas mudanças que ocorrem nessa época da vida. Outras importantes alterações hormonais acontecem, obrigando o jovem a ter que lidar também com a sua sexualidade. Afora, tudo isso, ainda é na adolescência que o indivíduo precisa traçar planos para o seu futuro e escolher uma profissão, dentre tantas outras coisas. É uma verdadeira montanha-russa que acontece nessa fase e exige muita atenção da família para que seja atravessada com segurança. 

“O jovem que apresenta dificuldade em percorrer esse período da vida, também deve ser amparado por profissionais da saúde, especialmente psicólogos e, ainda, psiquiatras em casos mais significativos”, alerta Patrícia Almeida, que faz parte do quadro de psicólogos da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Ela explica que formar uma rede de apoio pode fazer toda a diferença para a saúde mental.

Almeida reitera que “o diálogo, ainda, é o que salva, especialmente quando permite surgir a afetividade entre os membros de uma família”. Ela salienta que atualmente ofertar um tempo para o outro tem sido cada vez mais difícil. Então, os pais precisam fazer um esforço para proporcionar momentos, onde o menor possa falar abertamente sobre seus sentimentos. Dessa forma, a família tem maiores chances de estabelecer vínculos mais fortes e saudáveis com seus pares.   

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Sinais de alerta podem prevenir suicídio

“Os pais devem ficar atentos porque a maioria dos suicídios é precedida por sinais de alerta verbais ou comportamentais. O jovem pode mencionar sobre: sentir grande culpa ou vergonha, ter a percepção de ser um fardo para os outros ou até ser mais direto e falar em querer morrer. Outros sinais importantes são sensação de vazio, desesperança, aprisionamento ou falta de razão para viver; sentir-se extremamente triste, ansioso, agitado, raivoso; com dor insuportável, seja emocional ou física”, observa a psicóloga que tem como abordagem nos seus atendimentos a gestalt-terapia.

Além disso, Almeida entende que algumas mudanças comportamentais podem fazer soar o alerta para todos que convivem com o adolescente, como por exemplo: afastar-se dos amigos; distribuir itens importantes como se fosse uma despedida; fazer coisas muito arriscadas; mudanças extremas de humor, dentre outros. Todos estes podem ser sinais de que alguma coisa não está bem e precisam ser levados em consideração pela família. 

A detecção precoce e o tratamento da depressão e dos transtornos são essenciais para a prevenção do suicídio, lembra a psicóloga da Alego. “O apoio psicossocial de profissionais habilitados para lidar com esse tema, a presença da família, dos amigos, da escola e da comunidade como um todo são fundamentais. Fornecer empatia, informações verdadeiras e adequadas, reduzir o estigma podem ajudar sobremaneira”, ensina Almeida.   

Se o adolescente se isolar por algum momento, os pais podem sugerir uma terapia on-line já que os mais jovens são extremamente adeptos às novas tecnologias,  Almeida comenta que a terapia on-line é uma ferramenta que pode colaborar muito para dar a devida assistência a esses jovens, pois muitas vezes eles ficam mais à vontade usufruindo desse formato de terapia. “Essa modalidade de atendimento, inclusive, foi o que permitiu muitas pessoas perceberem que não estavam sozinhas durante a pandemia”, salientou Patrícia.  

Por fim, a prática de atividade física regular também foi elencada como sendo extremamente benéfica no combate ao suicídio, graças a produção de neurônios como a endorfina e a serotonina, mais conhecidos popularmente como neurônios do bem-estar. “Por isso, incorporar uma simples caminhada na rotina diária é tão aconselhável para os nossos pacientes”, pondera Almeida, 

Discutir o assunto pode colaborar para eliminar esse tabu

“Por ser considerado um importante problema de saúde pública, com impactos na sociedade como um todo, o suicídio vem sendo debatido mais abertamente em todos os meios, abrindo a possibilidade de derrubar o estigma existente sobre esse assunto”, preconiza a psicóloga da Alego. É sabido que ao longo do tempo, por razões religiosas, morais e culturais, o suicídio foi considerado um grande pecado, talvez o pior deles. 

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Possivelmente por esta razão, ainda, seja tão presente o medo e a vergonha de falar abertamente sobre esse importante problema de saúde pública. Entretanto um tabu, arraigado em uma cultura por séculos, não desaparece sem o esforço e o envolvimento de toda a sociedade. A prevenção do suicídio não se limita à rede de saúde, mas deve ir além dela, sendo necessária a existência de medidas em diversos âmbitos na sociedade, que poderão colaborar para a diminuição das taxas de suicídio. A prevenção deve ser também um movimento que leve em consideração os aspectos biológico, psicológico, político, social e cultural, no qual o indivíduo é considerado como um todo em sua complexidade.

A imposição do tabu, a dificuldade em buscar ajuda, a falta de conhecimento e de atenção sobre o assunto por parte dos profissionais de saúde e a ideia errônea de que o comportamento suicida não é um evento frequente, condicionam barreiras para a prevenção. Lutar contra esse tabu é fundamental para que a prevenção seja bem-sucedida.

Seminário Setembro Amarelo na Alego 

Por iniciativa da Comissão da Criança e Adolescente e da Escola do Legislativo, a Alego realiza, nos dias 13 e 14, o seminário “Setembro Amarelo: Estratégias para a Proteção da Saúde Mental de Crianças e Adolescentes” com temas relacionados a promoção da saúde e combate ao suicídio. As palestras vão acontecer nos períodos matutino e vespertino e serão ministradas por profissionais renomados nas suas áreas de atuação. 

O evento tem como objetivo promover discussões sobre os maiores problemas da atualidade que ameaçam as crianças e adolescentes, como crimes cibernéticos, abuso sexual, violência doméstica, depressão e suicídio, com propostas de ações e estratégias de enfrentamento a esses males, de forma a capacitar a sociedade e, em especial os servidores, para atuar na proteção dos direitos da infância e da juventude. 

O evento é aberto para toda a sociedade e as inscrições podem ser realizadas através do fone 3221-3199 ou presencialmente na Seção Administrativa da Escola do Legislativo . 

Palestras do dia 13/09

“Principais Causas de Comportamento Suicida em Crianças e Adolescentes e Fatores de Proteção” com Daniela Sacramento Zanini – Professora do Curso de Psicologia da PUC-GO

“Políticas para a Primeira Infância e para a Promoção da Saúde Mental e do Desenvolvimento Saudável” com Cida Alves – Professora do Curso de Psicologia da UFG

Palestras do dia 14/09

“Prevenção à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes por Meio da Internet” com Elenice Mara Matos Novak – Professora da Universidade Federal do Paraná

“A importância do Brincar Livre e da Conexão com a Natureza para o Desenvolvimento e a Saudável das Crianças e Adolescentes” com João Paulo Mello Amaral – Coordenador do Programa Criança e Natureza do Instituto Alana e Conselheiro do Greenpeace Brasil. 

Fonte: Assembleia Legislativa de GO

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