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Chagas: avanços no controle e novos desafios

Chagas: avanços no controle e novos desafios

Dia da Conscientização e Enfrentamento à Doença de Chagas é comemorado anualmente em 14 de abril

A Doença de Chagas, historicamente associada à transmissão pelo inseto barbeiro, apresenta um novo cenário epidemiológico no Brasil. Embora os casos relacionados ao vetor tenham diminuído nas últimas décadas, especialistas alertam para o crescimento de outras formas de contágio, como a transmissão oral e congênita.

De acordo com o cardiologista Marcellus Sousa Arantes, a redução da transmissão vetorial está relacionada a melhorias nas condições de moradia, saneamento básico e ações de controle com inseticidas. A substituição de casas de barro e madeira por edificações de alvenaria reduziu os focos do barbeiro, principalmente em regiões como o norte de Goiás, o oeste da Bahia e o norte de Minas Gerais, onde tradicionalmente havia maior concentração da doença.

Apesar dos avanços, o médico ressalta que outras formas de transmissão vêm ganhando relevância, especialmente na região amazônica. A infecção por via oral, por meio da ingestão de alimentos contaminados com fezes do barbeiro, como frutas silvestres mal higienizadas (entre elas o açaí), tem sido responsável por novos casos. Ele também destaca a importância da atenção à transmissão congênita — da mãe para o bebê durante a gestação —, que pode passar despercebida em gestantes assintomáticas.

A doença, também conhecida como tripanossomíase americana, é causada pelo parasita Trypanosoma cruzi. Além da transmissão vetorial, pode ser adquirida por transfusão de sangue contaminado, transplante de órgãos e acidentes laboratoriais. Muitas vezes assintomática na fase aguda, a infecção pode evoluir de forma silenciosa e gerar complicações graves nas fases crônicas, como alterações cardíacas (cardiomiopatia chagásica) e distúrbios digestivos (megaesôfago e megacólon).

No Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado nesta segunda-feira (14), o Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), promoveu uma série de ações voltadas à conscientização, prevenção e reconhecimento de profissionais que atuam na linha de frente do enfrentamento à enfermidade. O estado é hoje considerado referência nacional na prevenção da transmissão vertical da doença.

Como parte da programação, a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) realizou uma sessão solene com entrega de certificados de Honra ao Mérito a especialistas das esferas estadual, municipal e federal. 

Nesta semana, representantes da SES-GO, do Ministério da Saúde e de municípios como Goiânia e Anápolis se reúnem para discutir a implantação de novas estratégias, alinhadas às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o combate a doenças negligenciadas, entre elas a Doença de Chagas.

Entre as iniciativas em destaque está o 1º Simpósio de Doença de Chagas do Estado de Goiás, voltado a estudantes de graduação e profissionais da saúde. O evento debate o panorama atual da doença nos âmbitos global, nacional e regional, além de apresentar estratégias de triagem, manejo clínico e projetos de extensão desenvolvidos pela Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a SES-GO.

Goiás é um dos poucos estados que realizam testagem para Chagas em 100% das gestantes atendidas pela rede pública. A triagem ocorre por meio do programa Teste da Mamãe, iniciativa pioneira que contribuiu para a escolha do estado como sede de projeto-piloto do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para eliminação da transmissão vertical da doença.

Outro avanço foi a criação, em outubro de 2024, da Associação Goiana de Portadores de Doença de Chagas (AGPDC), primeira entidade do tipo na região Centro-Oeste. Com foco em acolhimento e políticas públicas específicas, a associação visa fortalecer a rede de apoio aos pacientes. No mesmo ano, foi sancionada a Lei Estadual nº 23.031/2024, que instituiu o  Dia da Conscientização e Enfrentamento à Doença de Chagas, celebrado anualmente em 14 de abril.

 

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