Com novo depoimento, Justiça aceita ter novo julgamento do caso Patrícia Aimeiro
Os pais da engenheira Patrícia Amieiro , morta em junho de 2008 , celebraram o recurso aceito pela Justiça do Rio de Janeiro para que os policiais militares acusados do homicídio fossem submetidos a novo julgamento. No requerimento, o advogado Alexandre Dumans utilizou como um dos argumentos o surgimento do depoimento de uma testemunha, em setembro do ano passado, que afirma ter visto a vítima viva e baleada dentro de seu carro. Em dezembro de 2019, os PMs foram absolvidos da acusação de homicídio. Dois deles foram condenados apenas pelo crime de fraude processual.
"Eu peço as autoridades que estão com o caso da minha filha que olhem com bastante carinho o nosso caso e que seja marcado logo um novo julgamento. Essa testemunha contou que minha filha estava viva e eles acabaram com a vida dela. Ela poderia estar aqui hoje conosco. Deus sabe. Eles têm que ser presos, tem que ser feita Justiça. É o pedido de uma mãe que sofre há 12 anos. Eles têm que ser presos e pagar pelo que fizeram com a minha filha", ressaltou a mãe de Patrícia, Tânia Amieiro.
Para o pai de Patrícia, o momento é de renovar a esperança de que o caso terá uma resolução que ele considera mais justa.
"O taxista viu que eles deram um tiro, mataram nossa filha, sumiram com o corpo. São uns maus-caracteres, bandidos. A Justiça vai ser feita dessa vez. Espero que seja", disse Antonio Celso Franco.
Logo após o depoimento do taxista que testemunhou o caso ao Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), o órgão entrou com um pedido no Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), no dia 23 de setembro, para que o novo depoimento fosse incluído no processo. No mesmo dia, a juíza Viviane Ramos de Faria, da 1ª Vara Criminal do Rio, acatou a solicitação. Até então, não se sabia da existência de nenhuma testemunha ocular no momento da abordagem dos PMs à vítima.
Para sustentar a necessidade de os policiais passarem por um novo julgamento, o advogado da família alegou, em recurso apresentado à Justiça, que o depoimento da nova testemunha vai de encontro à versão apresentada pelos militares e, também, por entender que a decisão dos jurados, no júri popular, colidiu frontalmente com as provas apresentadas nos autos.
O que diz a nova testemunha
Após 12 anos do crime, um taxista afirma ter visto a engenheira sendo retirada do próprio carro com vida por policiais militares que atiraram contra o veículo. O homem diz ter ficado em silêncio durante anos por medo, mas decidiu se manifestar após ouvir em uma rádio uma mensagem sobre o papel do cidadão. No depoimento, ele conta que viveu com um "peso na consciência" e se arrepende por não ter testemunhado e causado sofrimento à família da vítima.
Ao MPRJ , o taxista contou que havia encerrado uma corrida em São Conrado, na Zona Sul, e seguia para a Zona Oeste quando presenciou o carro de Patrícia, um Palio, passando em alta velocidade no Elevado do Joá. Logo depois, disse ter ouvido diversos disparos de arma de fogo vindos de uma viatura da Polícia Militar. Em seguida, ele narra que o veículo perdeu o controle, sofreu colisões e caiu do viaduto.
A testemunha disse ainda que parou o seu carro a poucos metros do local e viu o veículo atingido capotado. Dois policiais com fuzis seguiram naquela direção, um deles correndo. Outra viatura chegou ao local. Depois, um dos PMs puxou alguém pelo braço para fora do veículo. Ele caiu em seguida e tentou novamente puxar a pessoa. Nessa hora, o taxista viu uma jovem, loira, com sangue no rosto. Ela mexeu os braços, tentando limpar os ferimentos. Um policial teria colocado as mãos na cabeça, expressando desespero, enquanto outro agente dizia: "calma, que a gente vai resolver". Por fim, a testemunha afirmou que saiu do local achando que a moça seria socorrida pelos policiais.
Relembre o caso
Patrícia tinha 24 anos quando desapareceu voltando de uma festa no Morro da Urca, na Zona Sul do Rio. Ela ia em direção à sua casa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade. Na saída do Túnel do Joá, o carro dirigido pela engenheira foi alvo de uma série de disparos de arma de fogo. Os policiais Marcos Paulo e William Luís foram acusados de atirar por acreditarem que o motorista do carro era um traficante.
Ainda segundo a polícia, com os tiros, Patrícia perdeu o controle do veículo, que colidiu em dois postes e uma mureta. O carro da engenheira foi encontrado na beira do Canal de Marapendi, na Barra da Tijuca, com o vidro traseiro quebrado e o porta-malas aberto. O corpo da jovem nunca foi encontrado. Para a polícia e o Ministério Público, o corpo foi retirado do veículo e o carro jogado no canal pelos policiais para impedir que o homicídio fosse descoberto.
Em 2011, a Justiça declarou a morte de Patrícia, alegando que, além de possuir vínculos estreitos com a família — eliminando a possibilidade de ela ter sumido espontaneamente.
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