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Estímulo fiscal pode impactar mais inflação que atividade econômica

Estímulo fiscal pode impactar mais inflação que atividade econômica

Estímulo fiscal pode impactar mais inflação que atividade econômica

Estímulo fiscal pode impactar mais inflação que atividade econômica

O Banco Central avalia que o impacto sobre a inflação de "estímulos fiscais significativos" tende a ser maior que os efeitos almejados para a atividade econômica em um ambiente de ociosidade reduzida da economia, conforme ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira (13), que alerta ainda que o cenário fiscal pode afetar a taxa neutra de juros do país.

Em meio às negociações do governo eleito para ampliar gastos públicos, o documento ressalta que o tema fiscal foi debatido "de forma extensa" na reunião da semana passada do Copom.

“Em ambiente de hiato do produto reduzido, o impacto de estímulos fiscais significativos sobre a trajetória de inflação tende a se sobrepor aos impactos almejados sobre a atividade econômica”, disse.

A ata afirma que o BC discutiu a evolução do hiato do produto – margem que a atividade tem para crescer até atingir sua capacidade máxima – e observou uma redução no grau de ociosidade no terceiro trimestre em função de revisões de dados e divulgações de variáveis domésticas. Porém, diante do efeito do aperto monetário, o comitê avalia que o hiato deve se ampliar ao longo do horizonte relevante.

Segundo a ata, a existência de capacidade ociosa na economia e a confiança sobre a sustentabilidade da dívida são fatores determinantes para uma política fiscal expansionista atingir os impactos almejados sobre a atividade.

"O Comitê julgou que há ainda muita incerteza sobre o cenário fiscal prospectivo e que o momento requer serenidade na avaliação de riscos. O Comitê reforça que seguirá acompanhando os desenvolvimentos futuros da política fiscal e seus potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva", afirmou.

O BC decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano em reunião na semana passada, quando deu recados ao governo eleito ao dizer que há "elevada" incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e ressaltou que acompanhará com atenção o quadro das contas públicas.

A equipe de Lula na transição de governo está negociando com o Congresso a aprovação de uma PEC que poderá permitir uma ampliação de gastos superior a R$ 160 bilhões em 2023 e 2024 – o texto ainda está em tramitação e pode ser alterado. O objetivo é bancar o Bolsa Família ampliado, recompor despesas de ministérios e ampliar investimentos públicos.

Taxa neutra

O documento repetiu a reunião de outubro do Copom ao afirmar que a política fiscal pode afetar a inflação por meio da demanda agregada, preços de ativos, grau de incerteza na economia e expectativas de inflação, mas agora incluiu mais um elemento que pode ser impactado: a taxa de juros neutra – que não estimula nem contrai a atividade.

Em seu último Relatório de Inflação, o BC considerou a taxa neutra de juros em 4% ao ano. Uma nova edição do documento será divulgada nesta quinta-feira (15).

Uma eventual elevação nos juros neutros do país poderia forçar o BC a operar com um nível mais alto da taxa básica de juros, a Selic, do que o estimado anteriormente para levar a inflação a suas metas.

Na visão da economista da XP Tatiana Nogueira, a ata trouxe elementos mais duros na comparação com o comunicado da semana passada, embora não traga novidades em relação às sinalizações sobre seu balanço de riscos.

"(O BC) incluiu um canal a mais que a expansão fiscal tem (de impacto) sobre a inflação. (...) Ele incluiu o juro neutro também. Mais gasto fiscal faz com que o juro neutro fique mais elevado", afirmou.

A autoridade monetária avaliou ainda que dados recentes reforçam a expectativa do Comitê de desaceleração do ritmo da atividade econômica no país, que deve se acentuar nos próximos trimestres.

Em meio ao cenário de incertezas, o BC ressaltou que suas projeções de inflação tiveram leve aumento no horizonte relevante, em função da elevação das projeções para preços livres em prazos mais curtos e uma revisão da projeção de preços administrados em prazos mais longos.

"No que diz respeito a 2024, o Comitê notou com preocupação uma elevação na média das expectativas", disse.

No comunicado da semana passada, o BC informou que, em seu cenário de referência, as estimativas para a inflação estão em 6% para 2022 (contra 5,8% na reunião anterior), 5% em 2023 (contra 4,8% antes) e 3% em 2024 (ante 2,9%).

As metas para o IPCA estão definidas em 3,5% para este ano, 3,25% em 2023 e 3% em 2024, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos nos três casos.

O documento aponta que alguns membros do Copom notaram movimento benigno de commodities em reais e ressaltaram riscos de queda adicional à frente, enquanto outros membros enfatizaram o caráter volátil desses preços em ambiente de estoques pressionados.

"Todos avaliaram que a inflação corrente não surpreendeu de forma relevante em relação à expectativa ou alterou substancialmente o entendimento a respeito da dinâmica futura de inflação", disse.

O Copom também avaliou a velocidade do processo de desinflação global, apontando que esse movimento pode se tornar mais lento, apesar de um relaxamento em pressões sobre as cadeias de produção e queda de preços de commodities.

"Diante da disseminação das pressões inflacionárias para o segmento de serviços, que possui caráter mais inercial, em ambiente de mercado de trabalho apertado em diversos países, o processo de desinflação deve ser não linear e mais lento do que o observado em episódios recentes", disse.

Fonte: EBC Economia

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