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Doador de Medula Óssea

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Salvar vidas, poder livrar, ainda que uma única pessoa, da morte. A possibilidade pode parecer um ato exclusivamente divino, mas em alguns casos, ela pode estar ao nosso alcance. Quando uma pessoa é identificada como compatível com um paciente que aguarda um transplante de medula óssea, o milagre de fazer renascer, pode acontecer. 

Mas para que essa situação se concretize e saia do campo da possibilidade, um longo caminho precisa ser percorrido. E o primeiro passo dessa caminhada depende de um ato voluntário, dado, em 75% dos casos, por uma pessoa totalmente desconhecida do paciente que necessita do transplante. Isso porque, para que o procedimento se efetive, é necessária a doação de medula de outra pessoa e, apenas 25% dos pacientes conseguem um doador compatível no seu núcleo familiar.  

A diretora técnica da Rede Estadual de Hemocentros de Goiás (Rede Hemo), Ana Cristina Novais, explica que a doação de medula óssea pode ser aparentada ou não aparentada. No primeiro caso, o doador é uma pessoa da própria família, em geral um irmão ou um dos pais. “Havendo um irmão totalmente compatível (100%) esse será a primeira escolha para ser um doador. Caso contrário, inicia-se a busca de alternativas para a realização do transplante”, esclarece.

Essa busca é feita no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea, o Redome, criado em 1993, para reunir informações de pessoas dispostas a doar medula óssea a quem precisa de transplante. Desde 1998, é coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), no Rio de Janeiro. No Redome, ficam armazenados os dados de todas as pessoas que se cadastram no Brasil como doadores.  É uma busca que pode significar a diferença entre a vida e a morte. 

Novais segue explicando que, quando é confirmado o diagnóstico de transplante de medula, o paciente é cadastrado no Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme). Os dados do Rereme e do Redome são cruzados para verificar a compatibilidade entre pacientes e doadores. Essa busca é automática. “Assim que o paciente entra no Rereme, cadastrado por seu médico, acontece a primeira tentativa de encontrar um doador. A partir daí, o próprio sistema refaz a busca todos os dias.”

Contatos

Desse cruzamento de registros pode surgir um resultado preliminar apontando uma lista de possíveis doadores compatíveis. A partir daí, o médico assistente, junto com a equipe especializada do Redome, analisa qual desses possíveis doadores tem chance de ser mais compatível com o paciente. Na sequência, são feitos contatos com os voluntários e solicitados os exames complementares.

O problema é que as chances de encontro entre o doador e o receptor são pequenas. Segundo a  diretora da Rede de Hemocentros, estima-se que as chances de compatibilidade sejam de um para 100 mil, ou seja, a cada 100 mil doadores, um será compatível com o paciente. Aí é que está a importância de campanhas que incentivem mais pessoas a se cadastrarem como doadores. Quanto mais doadores, maiores as probabilidades de compatibilidade. 

A jornalista Luciana Paiva, de 34 anos, é uma das cerca de 226 mil pessoas cadastradas no Redome no estado de Goiás. Frequentadora contumaz do Hemocentro, já que é doadora de sangue, conheceu, no local, a necessidade também de doadores de medula óssea. Ela conta que quando soube como era o procedimento para a doação, caso fosse compatível com algum paciente, ficou com receio, já que a retirada da medula é feita por punção, mas diante da possibilidade de salvar uma vida, venceu os medos.

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“Tenho medo, mas a vontade que encontrem um doador compatível é muito maior. Poder contribuir com a saúde de alguém, com a sua qualidade de vida… ainda mais nessa pandemia, estar saudável e ainda podendo auxiliar o outro, é uma dádiva e fico muito feliz em ajudar”, sintetiza Luciana. 

O receio da jornalista é comum, mas, de acordo com Ana Cristina Novais, esses medos são infundados. Ela esclarece que existem dois métodos para doar a medula, sendo que a escolha do procedimento mais adequado é do médico. E detalha: “Na doação de medula óssea por punção direta, será retirada do doador a quantidade necessária, que é menos de 10%, sob anestesia geral e em centro cirúrgico. Os doadores passam por uma pequena cirurgia de aproximadamente 90 minutos”.

Já no segundo caso, prossegue Ana Cristina, o doador voluntário recebe, por cinco dias a administração de um medicamento, via subcutânea, para a mobilização de células precursoras até o sangue periférico. Depois disso, ele passa por um procedimento chamado aférese, em uma ou duas vezes, ambulatorialmente, para a obtenção de células-tronco circulantes (no sangue periférico). “Nesse caso, não há necessidade de internação, nem de anestesia, sendo todos os procedimentos feitos pela veia. Nos dois casos, a medula óssea do doador se recompõe em apenas 15 dias.”

Não só leucemia

Embora a leucemia seja a doença mais conhecida que pode ter a cura com o transplante de medula óssea, uma série de outras enfermidades também pode ter o tratamento como indicação. Ana Cristina Novais explica que o transplante é indicado para doenças relacionadas com a fabricação de células do sangue e com deficiências no sistema imunológico.

Além das leucemias originárias das células da medula óssea, pacientes com linfomas, doenças originadas do sistema imune em geral, dos gânglios e do baço e anemias graves (adquiridas ou congênitas), podem ser tratados com o transplante. Outros males não tão frequentes, como as mielodisplasias, doenças do metabolismo, autoimunes e vários tipos de tumores, também podem ter a solução no procedimento. No total, o transplante de medula óssea pode ser indicado para o tratamento de um conjunto de cerca de 80 doenças. 

Além disso, como somos uma população miscigenada, quanto maior o banco de doadores, maiores as chances de se encontrar um doador com genes compatíveis. Motivos não faltam para compreender porque é tão importante que mais e mais pessoas se cadastrem como voluntários.  

Um dos grandes entusiastas da doação de medula óssea é o presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, deputado Gustavo Sebba (PSDB). Como médico, ele entende a importância da doação para salvar vidas. E lembra que, para muitos pacientes, que já tentaram as outras terapias disponíveis, o transplante é a última esperança de cura. “Por isso a doação é tão importante, especialmente se considerarmos a dificuldade para encontrar doadores compatíveis. Quanto mais doadores, maiores são as chances.” 

Segundo o parlamentar, a Comissão de Saúde já analisou várias matérias que incentivam ou regulam a doação de medula óssea em Goiás. Ele próprio já apresentou um projeto que trata do tema, mas que acabou não virando lei. “Infelizmente, meu projeto, que visava conscientizar doadores de sangue sobre a importância de se cadastrar no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea, foi vetado integralmente, mas tenho confiança de que a mera assunção do tema já desperta a responsabilidade e solidariedade das pessoas, gerando novos doadores.”

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O parlamentar aproveita a data para conclamar as pessoas a se tornarem doadoras: “Meu recado a todos é que não esperem um familiar precisar. Milhares de famílias estão hoje lidando com a necessidade de tratar uma leucemia ou um linfoma e a melhor garantia de tratamento é o transplante de medula. O doador de medula salva vidas. É um gesto de imensa nobreza”, resume.

Além do índice de compatibilidade ser baixo, não são todas as pessoas que podem ser doadoras. Para se cadastrar como doador de medula óssea, é preciso ter entre 18 e 35 anos de idade, estar em bom estado geral de saúde, não ter doença infecciosa ou incapacitante e não ter câncer, doença hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico.

O cadastro é feito exclusivamente nos hemocentros. Em Goiás, além do Hemocentro Coordenador, em Goiânia desde 2019, todas as unidades da Rede Hemo no interior são capacitadas para fazer o cadastro. As unidades ficam em Rio Verde, Jataí, Catalão, Ceres, Formosa, Quirinópolis, Iporá e Porangatu. 

Após o cadastro e o cruzamento de dados entre os dois sistemas, se for detectada a compatibilidade, o provável doador é acionado e como o cadastro é nacional, ele pode estar em qualquer lugar do País. Todas as despesas de deslocamento e hospedagem são custeadas pelo Ministério da Saúde. Antes do transplante, é realizada mais uma série de exames, que vão mostrar se o procedimento poderá mesmo ser concretizado. 

Transplante realizado, outras etapas precisam ser vencidas, entre elas a possibilidade de rejeição do receptor. Segundo Ana Cristina Novais, o sucesso de um transplante depende de diversas variáveis. “Varia muito de paciente para paciente.

Existem vários fatores decisivos que ajudam a prognosticar a taxa de sucesso em um caso particular. Isso inclui história médica, qualquer tratamento realizado antes do transplante, como quimioterapia ou radioterapia, idade do paciente, estado geral de saúde, grau de pareamento com o doador, tipo de transplante, se foi autólogo, alogênico ou sangue do cordão umbilical”, explica.

Programação em Goiás 

Diversas atividades vão marcar o dia 18 de setembro em todo o mundo. Em Goiás, a Rede Estadual de Hemocentros vai promover o Dia D para Cadastro de Doação de Medula Óssea, que visa  intensificar a campanha para o cadastro. A campanha será realizada entre 8 e 12 horas, no Hemocentro Coordenador, em Goiânia (os hemocentros do interior vão antecipar a campanha para sexta-feira,dia 17). 

A Rede Hemo também vai disponibilizar nas redes sociais um vídeo explicativo, desmistificando a doação de medula óssea, além de outro vídeo de um familiar de paciente que está aguardando doação de medula, como forma de sensibilizar e estimular a doação.

Fora da campanha, o cadastro pode ser feito a qualquer momento na Rede Hemo, e, também na unidade móvel, que pode realizar ações em toda a região Metropolitana da Capital. Para solicitar o serviço bastar entrar em contato com o Hemocentro Coordenador pelo telefone (62) 3231-7925. Nesse caso, o Hemocentro envia uma equipe ao local e solicita que seja disponibilizado um espaço para coleta das amostras.

Outro recado importante vai para quem já realizou o cadastro em um hemocentro: os dados do cadastrado precisam ser sempre atualizados. Isso pode ser feito pelo site http://redome.inca.gov.br/ ou pelo aplicativo ‘Redome’ disponível nas lojas de aplicativos do celular. No sítio, o voluntário pode também gerar sua carteira de doador e  uma declaração de que é doador de medula óssea. 

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