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Dia de Combate ao Alcoolismo

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A data em que é celebrado o Dia de Combate ao Alcoolismo, 18 de fevereiro, é uma oportunidade para conscientizar a população acerca da doença e os prejuízos causados por ela. Conforme apontou estudo realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), cerca de 85 mil mortes a cada ano são 100% atribuídas ao consumo de álcool nas Américas. O levantamento realizado no período de 2013 a 2015, e divulgado em abril de 2021, apontou também que o consumo per capita é 25% superior à média global. 

“As bebidas alcoólicas são drogas lícitas e o seu consumo já foi bem absorvido pela sociedade”, assinala o deputado Gustavo Sebba (PSDB), presidente da Comissão de Saúde do Parlamento goiano. “Porém, o abuso dessas substâncias pode gerar complicações sociais e sanitárias graves”, alerta. 

Sebba frisa a importância de abordar a pauta ao ressaltar que, “por isso, precisamos sempre dar atenção a esse tema, tanto com políticas reativas como com campanhas preventivas. É nesse segundo ponto que entra o Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo. Essa é uma data importante para reacender a discussão, quebrar preconceitos e fazer alertas. Precisamos tratar o alcoolista como um paciente, sem marginalizá-lo. Essa pessoa precisa ser abraçada pela sociedade para que tenha condições de controlar a sua dependência. A família precisa ser amparada para que enfrente todos os dissabores dessa luta”, ressalta o parlamentar.

Gustavo avalia ainda que, “para a maioria de nós, o uso de álcool não tem maiores efeitos, mas uma pequena parcela é afetada gravemente”, diz. E complementa que, “a pessoa desenvolve uma dependência que arrasta a sua vida para baixo, põe sua saúde em risco, põe a vida de terceiros em risco e até mesmo a sua vida financeira e profissional é ameaçada. Trata-se de uma parcela pequena, mas precisamos considerar que as bebidas alcoólicas são consumidas com frequência por milhões de brasileiros, então esse percentual baixo representa muita gente”, acentua Sebba. 

“Por isso é tão importante desenhar políticas públicas para tratar da saúde mental das pessoas, tanto de forma preventiva quanto reativa. Da mesma forma, é fundamental ampliarmos o debate e sermos transparentes e pedagógicos acerca desse problema”, especifica. 

Para o deputado, “a data de hoje cumpre parte dessa demanda, mas não podemos nos resumir a isso. O poder público precisa ter constância nas suas ações e precisa, acima de tudo, ser efetivo na sua comunicação, chegando a todos, do acadêmico ao analfabeto, do rico ao pobre, do religioso àquele que não crê”, destaca. 

Por fim, Sebba salienta que, “o alcoolismo pode afetar qualquer um e suas consequências se estendem para toda a família e amigos, por isso precisamos ampliar essa discussão”.

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Vidas resgatadas

Sebastião, hoje aos 63 anos, compartilha sua história, quando, graças ao Alcoólicos Anônimos (AA), há 15 anos, conseguiu resgatar sua vida. Hoje, se considera um homem feliz, ao contar que, “foi na irmandade onde ouvi, pela primeira vez, afirmarem que alcoolismo é uma doença”, explica, e alerta aos que passam pelo mesmo problema, para a necessidade de buscar ajuda. “É humanamente impossível conseguir sozinho”, reitera.

Ele relembra que durante os 20 anos em que fez uso de bebidas alcóolicas, tentou todo tipo de promessa para deixar o vício, sem sucesso. “Primeiro tentei deixar de beber pela minha mãe que dizia que eu estava me destruindo e destruindo a vida dela. Depois foi pelo meu pai, que chamava minha atenção, que não havia me criado para aquilo”, diz. 

Da mesma forma que foi repreendido pelo patrão ao afirmar que apesar de eu ser um bom profissional, perdia a credibilidade entre os colegas. “Nas segundas-feiras, chegava bêbado para trabalhar, quando não mandava alguém ligar com uma mentira. Comecei até a ‘matar’ parentes para não ir ao trabalho”, lamenta.

Mas foi só quando passou uma noite na cadeia que conseguiu encontrar um caminho para a libertação. “Lá, eu jurei para mim mesmo que precisava fazer algo por mim. Foi quando busquei ajuda”, explica. 

Emocionado, Sebastião conta que ao sair da prisão, a delegada teve uma conversa com ele e recomendou que procurasse o AA, e foi o que ele fez. Anos depois, em uma das reuniões da irmandade, para sua surpresa, encontrou a delegada como palestrante. “Ela salvou a minha vida”, ressalta. 

Diante da experiência que viveu, Sebastião afirma que o alcoolismo é a doença da negação. “Quando a gente bebe, bebe o dinheiro da escola dos filhos, de pagar as contas e acredita que no dia seguinte conseguirá o dinheiro de volta. O que não é verdade”, reitera. 

Sebastião, durante os anos como integrante do AA, explica ter aprendido que para deter a doença é preciso evitar o álcool por 24 horas. “É um dia de cada vez. Além de aplicar os 36 princípios ensinados lá”, conta.

Hoje, comemora ter outra vida. “Estou rejuvenescido. Me alimento bem, durmo e me cuido. Vou ao médico regularmente. Também consegui recuperar minha família, e formar minha filha. Meu filho não se formou, mas trabalha como radialista.  Minha casa, que era a mais feia da rua, posso considerar entre as melhores”, comemora. 

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Grupos de apoio

A fim de dar suporte aos familiares e amigos de alcoólicos foram criados os grupos do Al-Anon há 55 anos e há 48 em Goiás. Conforme ressalta a responsável pelo serviço de divulgação da entidade, Vera Maria (nome fictício a fim de preservar o anonimato dos membros dos grupos), afirma que, “é uma data importante, porque remete à sociedade a importância de um olhar mais consciente da problemática do alcoolismo”, avalia. 

Vera prossegue ao assinalar que o número de famílias que enfrentam o problema com a doença é imenso. “O alcoolismo, foi definido como uma doença pela OMS, que também é considerada uma doença da família. O grupo trabalha pela recuperação dos próprios membros e daqueles que precisam encontrar ajuda”, explica. 

Ao ressaltar a importância da existência dos grupos de apoio, Vera destaca o sofrimento dos familiares de alcoólicos em decorrência dos efeitos nocivos da doença. “Os membros das famílias se tornam pessoas inseguras, nervosas e ansiosas”, explica. E prossegue ao dizer que, “todos esses fatores trazem uma grande sobrecarga emocional. Por isso, é denominada a doença da família”, afirma.

Outro ponto abordado por Vera é a dificuldade de procurar por auxílio por parte da maioria das pessoas. “Geralmente, elas têm receio de buscar ajuda, seja por negação da doença ou mesmo por vergonha de que as pessoas saibam que existe um familiar com esse problema”, pontua. 

Vera acentua também que o alcoolismo não escolhe cor, posição social, escolaridade nem sexo. “Nenhuma família está isenta de ter que enfrentar esse tipo de problema”, alerta.

Reuniões

Durante o período de pandemia, a maioria dos grupos realizou reuniões on-line, mas atualmente, dos oito existentes em Goiás, dois já realizam encontros semanais presenciais. No Brasil, são mais de 500 grupos em atuação. Vera explica ainda que para se tornar membro do Al-Anon, não são cobradas taxas ou mensalidades, e basta ter parente ou amigo com a necessidade de apoio. 

Vera esclarece também que o programa da entidade é baseado em 36 princípios adotados pelos Alcoólicos Anônimos. São 12 passos, 12 tradições e 12 conceitos de serviços. (Essas e outras informações podem ser acessadas no site do Al-Anon). “O programa é simples, mas de conteúdo bastante profundo, para dar o suporte necessário aos familiares e amigos dos alcoólicos”, finaliza. 

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