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Celebração estimula a leitura entre os brasileiros. Ler é transformador porque pode melhorar o indivíduo e a sociedade

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O livro é reverenciado como vetor de conhecimento, na medida em que é um objeto de fundamental importância para o desenvolvimento das sociedades e para o crescimento intelectual do indivíduo. É ele que permite ao ser humano registrar fatos importantes da sua história e repassar tais fatos às sociedades posteriores. 

Mas, afinal, o que é um livro? Didaticamente, define-se o livro como um conjunto de folhas de papel ou de qualquer outro material semelhante que, uma vez encadernadas, formam um volume. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), um livro deve conter pelo menos 50 folhas. Caso contrário, é considerado um folheto. 

O primeiro livro de que se tem relatos foi formado por trechos de um poema sobre um rei da Mesopotâmia, escrito em cerâmica e pedra. No entanto, o primeiro livro impresso foi a Bíblia, em 1455, pelo alemão Johannes Gutenberg. 

Em termos internacionais, no dia 23 de abril é comemorado o Dia Mundial do Livro, data escolhida pela Unesco para celebrar esse objeto tão importante. Mas essa celebração também existe em termos nacionais. Neste sábado, 29 de outubro, é celebrado o Dia Nacional do Livro. A data foi criada em 1810 em comemoração à fundação da Real Biblioteca, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Na época, foi trazido para o local um grande acervo da Real Biblioteca Portuguesa. Hoje, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro é a maior da América Latina e está entre as dez maiores do mundo.

O primeiro livro editado no Brasil foi a obra de Tomás Antônio Gonzaga “Marília de Dirceu”, em 1808. 

O escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986) dizia que o livro é uma extensão da memória e da imaginação. Nesse sentido, a psicóloga e jornalista Ana Cristina Krebs explica que o hábito da leitura pode implicar muitos ganhos para pessoas de todas as idades. “A leitura pode ser considerada um bom exercício para o cérebro, já que tem a capacidade de aumentar as conexões neurais e, por isso, em termos de estrutura, ela também pode promover uma espécie de proteção contra as doenças degenerativas.”  

Ela afirma que, em termos de saúde mental, a leitura não influencia somente sobre a estrutura do cérebro, mas ela também faz bem para a alma. “Ela interfere no mundo simbólico, melhora o vocabulário, o senso crítico, a capacidade da pessoa se fazer compreendida pelos demais, torna a pessoa mais empática e criativa, melhora a concentração, promove melhor capacidade de organização do pensamento, diminui o estresse, promove o conhecimento e atualiza a pessoa frente ao seu mundo. Dessa forma, a leitura acaba formando uma proteção para pessoa, pois implica muitos ganhos, inclusive para a saúde mental.”    

Por fim, a psicóloga reforça que a leitura promove uma mudança na estrutura cerebral. “Há a promoção de um aumento no número de conexões, fazendo com que o cérebro possa encontrar caminhos e respostas mais rápidas para as questões com as quais se depara diariamente.” 

Programa Leitura Todo Dia 

Em Goiás, foi lançado há pouco mais de um ano uma plataforma online que visa estimular a leitura de obras clássicas: o Programa Leitura Todo Dia – Clássicos do Pensamento. A iniciativa atende alunos do 1º ano do Ensino Médio e visa contemplar cerca de 1,2 mil estudantes de 30 escolas da rede pública estadual. O objetivo é estimular os estudantes à leitura, bem como melhorar os indicadores de ensino-aprendizagem.  

A Leitura Todo Dia tem como proposta a leitura de um livro a cada dois meses e, ao término de cada obra, os estudantes devem participar de uma master class. As leituras e discussões serão sempre em torno de obras clássicas, porém com temas da atualidade, a fim de provocar reflexões sociohistóricas, com debate sobre razão, verdade, conhecimento, ética, política, arte, religião e dentre outras temáticas. 

Iniciativa parlamentar 

A deputada Delegada Adriana Accorsi (PT) celebra a data e afirma que o livro é uma das invenções mais enriquecedoras da humanidade. “É um dos elementos essenciais para o desenvolvimento da cultura e da civilização, estimula a criatividade e o mais importante: leva cultura a quem o lê, traz conhecimentos e valores a cada página.”  

A parlamentar acrescenta que os livros, mesmo tendo surgido há centenas de anos, continuam maravilhando as gerações e registrando os principais acontecimentos históricos, mantendo vivas as histórias de diferentes tempos e lugares. “Consciente da importância dos livros, sou autora do projeto de lei que institui o programa ‘óculos falantes’ para os deficientes visuais nas bibliotecas e nas redes de ensino de Goiás, contribuindo com o acesso à leitura para todos e todas.”

De autoria do deputado Alysson Lima (PSB), o projeto de lei nº 1359/20, apensado ao de nº 1163/20, do deputado Paulo Trabalho (PL), propõe instituir o prêmio Jovens Escritores nas escolas públicas de Goiás. O objetivo das proposituras é incentivar os jovens à literatura. Em sua justificativa, Trabalho diz que o povo goiano, sobretudo os jovens, possui grande potencial no que diz respeito à criatividade e tal fomento pode vir a lapidar futuros escritores, poetas e artistas. 

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O parlamentar diz que o incentivo à educação é uma das prioridades que devem sempre ser propostas pelo Poder Legislativo. Ele observa que, ao longo dos anos, o Brasil tem vivenciado uma gradativa desidratação do seu sistema de educação, seja pela falta de interesse por parte dos jovens, que carecem de novos estímulos para o aprendizado, seja pelos professores que também se sentem desestimulados, principalmente pela falta de estrutura, pelos baixos vencimentos e por conta também da violência que rodeiam as escolas. A matéria aguarda a primeira fase de votação em Plenário. 

Outra proposta de destaque que tramita na Alego é de autoria do deputado Álvaro Guimarães (UB). Em fase de primeira discussão e votação, o projeto de lei nº 6914/19 visa instituir a política pública “Leitura para todos” em bibliotecas e escolas públicas e privadas do estado. O objetivo é facilitar o acesso de alunos com deficiência visual à leitura de livros e outros materiais didáticos por meio do uso de tecnologia, viabilizando o acesso em igualdade. 

Os locais mencionados na propositura deverão, de acordo com o texto, disponibilizar equipamentos de tecnologia assistiva para alunos com deficiência visual, em salas de leitura. Os equipamentos descritos na matéria são computadores com câmera e softwares de auxílio à leitura, inteligência artificial acoplável aos óculos, capaz de realizar a leitura de materiais impressos e reproduzir o conteúdo por áudio, além de equipamento de tecnologia que viabilize o acesso do deficiente visual à leitura de livros e materiais impressos. 

Paixão pelos livros leva leitora a virar escritora  

Em entrevista à Agência de Notícias da Casa de Leis, a autora do livro “Donas de si” e fundadora da Plataforma CriAtivas, Flay Alves, trata de sua trajetória como escritora, que começou pela paixão pela leitura.  

De onde veio a sua paixão pelos livros?  

Desde criança eu sempre gostei de ler. Esse foi um gosto incutido por minha irmã, que adorava ler e pegava livros emprestados na biblioteca da cidade. Lembro que no começo eu lia bastante Pedro Bandeira, poesias, juvenis, saga Crepúsculo. Sou muito imaginativa, e isso me ajudou a alimentar minha imaginação e foi uma ferramenta importante para eu sonhar. Como eu vivia em uma cidade pequena com um contexto limitado, quando eu lia, eu sentia que eu ampliava meus horizontes perceptivos, também.  

Como você se tornou escritora? 

A partir do gosto pela leitura, percebi que gostava de escrever. Comecei escrevendo sobre as paixonites da adolescência. A vontade de me tornar escritora veio do apreço pela leitura e, aos poucos, percebi que eu não me via fazendo outra coisa. Quando eu sai da minha cidade, aos 19 anos de idade, estava decidida a me tornar escritora. Escolhi o curso de jornalismo porque o via como uma graduação que me daria ferramentas para lapidar minha escrita e meu texto até chegar na etapa de me lançar na escrita e encontrar caminhos para que eu pudesse viver como escritora.  

Há quanto tempo está em atuação? Quais livros já publicou e quais são os títulos e temáticas? 

Estou nesse mercado desde 2018, quando eu comecei a entrar em contato com editoras para publicar meu primeiro livro. Então, estou nesse caminho há quatro anos. Publiquei o livro “Donas de si”. A primeira edição foi 100% independente, a segunda edição já saiu pela editora Letramento e, agora, estou preparando para publicar um livro chamado “Entre risos, amores e tropeços”, coletânea de textos que quero lançar em 2023. “Donas de si” é um livro-reportagem que conta a história de mulheres imigrantes que foram vítimas de violência de gênero. São mulheres do Norte e Nordeste que migraram para Goiás e na trajetória delas há situação de violência de gênero, são inúmeras situações de violência. É o desdobramento do meu trabalho de conclusão de curso. O segundo livro que citei é fruto da produção literária depois que comecei a trabalhar com o digital. À medida que fui trabalhando com o digital, eu postava muitos textos e fui vendo o feedback do público, fui me relacionando e construindo um diálogo com os leitores e, depois de três anos trabalhando com o digital, percebi que tinha alguns temas recorrentes. Eu falo muito sobre risos, amores e o caos da vida. Foi assim que surgiu a proposta desse segundo livro. É um livro que traz a perspectiva da leveza e isso é um dos meus valores inegociáveis enquanto escritora e marca. Quero que as pessoas saiam do livro se sentindo mais leves e humanas. Quero reformar o fato de que as escritoras negras escrevem o que quiserem, pois há muito a questão de que as escritoras negras são enquadradas como aquelas que escreveram apenas sobre questões raciais.  

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Qual foi o impacto da pandemia no seu trabalho como escritora?  

A pandemia me ajudou a abraçar o digital como uma das ferramentas de disseminação do meu trabalho literário. Quando a pandemia veio, eu já trabalhava como escritora e já havia lançado o “Donas de si”. A pandemia veio para fazer essa transição e viver 100% da minha escrita, criei produtos e serviços ao redor da minha escrita, até então, eu produzia conteúdo para empresas e clientes de social posts e blogs. Eu incentivo outras mulheres a fazerem isso também, a produzirem produtos e serviços ao redor da sua escrita. Vejo que a pandemia me ajudou nesse processo de viver e criar produtos ao redor da escrita e, agora, ao redor da minha empresa, a Criativas.  

Acredita que a pandemia teve impacto no hábito de leitura dos brasileiros? 

Sim, teve impacto tanto no faturamento que se gasta para livros quanto na forma dele. Teve impacto no hábito, pois quando a pandemia chegou, as pessoas se movimentaram para enxugar o orçamento. Houve corte de gastos pelas famílias, pelo País. Nisso, muitas pessoas pararam de comprar livros. A pandemia impacto na forma de se ler, muitas pessoas aderiram ao livro digital, ao Kindle, ao Scoob, e a outras plataformas de leitura de livros digitais. Mudou também os interesses de leitura, as pessoas estão buscando livros sobre cuidado da saúde mental e emocional, formas de cuidar do corpo, empreendedorismo, marketing digital. Foram temas que entraram em destaque pelo contexto da pandemia.  

O livro é um produto caro no Brasil? 

Sim, é caro para o leitor e para o escritor. Se o escritor se propõe a lançar o livro, quando vai olhar os processos de publicação, ele percebe que é um processo caro. Ele precisa se preparar financeiramente para investir naquele sonho e projeto. Para os leitores também é caro. É caro pela questão dos hábitos de leitura no nosso País e também pelas políticas públicas que poderiam ser regulamentadas para que o acesso aos livros fosse mais acessível. Pelos hábitos de leitura, se tornam caros, pois a figura que mais estimula a criança a ler é o professor ou a mãe, isso está registrado em dados na pesquisa Retratos da Leitura no País. A percepção de valor não é alta e por ele parecer ser caro, muitas vezes, é preferível investir em outras formas de entretenimento para a criança. Mas, culturalmente, as famílias não têm esse hábito de investir nos livros como forma de entretenimento. Muitas famílias não tem renda para investir nem em brinquedos nem em livros, aí entra o aspecto social. Nesse ponto, as políticas públicas precisam ser usadas. Qual é o contato de uma criança com livros senão em casa? É na escola. Nesse caso, os livros são mais voltados para o didático, é preciso diversificar os temas e formatos para incentivar o hábito.  

Livro físico e livro digital podem “caminhar” juntos? 

Podem sim, caminhar juntos. O livro digital vem como mais uma forma de entregar sua obra para o público. “Donas de si” foi publicado nos dois formatos. Às vezes, o escritor não pode investir na impressão do seu livro, mas pode investir na diagramação, revisão e, assim, entregar o livro na sua versão digital. Porém, à medida que forem caminhando juntos, a gente precisa refletir sobre a forma de ler. Essa forma mudou. É uma leitura interativa e multilinear. É preciso pensar nas possiblidades de narrativas para reter a atenção do público que deixou de ser passivo e agora faz parte, cada vez mais, daquela história. É preciso pensar nas formas de interação.  

Qual a importância de termos uma data específica para celebrar o Dia Nacional do Livro? 

Gosto dessas datas, elas geram essa produção de conteúdo debates e reflexões sobre a importância do livro para reconstruirmos imaginários e distribuirmos conhecimento. É o momento de ampliar a reflexão e consciência das pessoas. Eu também convido as pessoas para lerem, cada vez mais, autores e autoras nacionais de diferentes cantos do Brasil. Não só Rio de Janeiro e São Paulo, mas também do Norte e Nordeste, pois trazem muito de sua cultura local e isso enriquece nossa leitura.

Fonte: Assembleia Legislativa de GO

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