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A história de luta dos primeiros heróis vacinados

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A enfermeira Josilane explica que o mais difícil foi cuidar do psicológico da equipe formada por 150 pessoas no Hospital de Base | Foto: Davidyson Damasceno/Ascom Iges-DF

Os mesmos olhos que viram pacientes intubados, familiares aflitos e equipes inteiras correndo contra o tempo para enfrentar um vírus letal e salvar vidas, hoje veem uma luz no fim do túnel. Por trás das máscaras, uma nova feição surge nos rostos dos primeiros colaboradores vacinados do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF). O sentimento pela vacina tão esperada é definido em uma palavra: esperança.

A visão no horizonte de um futuro melhor, porém, é uma realidade diferente da vivida desde 5 de março de 2020 no Distrito Federal (e no mundo inteiro). Durante os mais de 300 dias de atuação no combate à Covid-19, os profissionais do Iges tiveram uma caminhada marcada por incontáveis lutas e desafios.

“Hoje eu encaro a Covid-19 como uma doença transmissível como outras que precisam ser respeitadas e prevenidas, mas sem medo”Josilane Pereira, enfermeira

No início, o medo e as incertezas da enfermeira Josilene Cardoso Pereira, 41 anos, eram disfarçados pelas máscaras e vestimentas. Assumir a equipe de enfermagem da UTI Covid-19 no Hospital de Base foi um marco na vida da profissional. “Desde o primeiro dia, passei a gerir não só a equipe, como também conflitos, dúvidas e busca por capacitações. O mais difícil foi lidar com o psicológico de todos”, conta. Josilene ficou responsável por 150 funcionários, entre enfermeiros e técnicos de enfermagem.

“Eu acho que me sobrecarreguei bastante, porque, como eu era uma referência, sempre tentava me manter firme para não deixar as pessoas desmotivadas”, relata. O suporte da enfermeira estava em casa, com o marido e a filha de 3 anos. A decisão de continuar perto deles fez com que os cuidados com a higienização, que já eram habituais, se intensificassem. “Foi a maneira que encontrei para lidar com a situação. Eles foram minha força para seguir.”

Nádia Bueno, enfermeira, foi realocada várias vezes durante a pandemia | Foto: Divulgação/Iges-DF

Com o passar do tempo e com novas informações sobre a doença, a turbulência de sentimentos foi abrandando, e Josilene ganhou mais confiança. “Hoje eu encaro a Covid-19 como uma doença transmissível como outras que precisam ser respeitadas e prevenidas, mas sem medo”, diz.

Grata por ter sido uma das primeiras contempladas com a vacina, Josilene dedicou o momento à memória dos colegas que partiram. “Muitos deles não conseguiram chegar até aqui, mas devem ser lembrados por terem dedicado suas vidas para salvar outras vidas”, ressalta a enfermeira, imunizada com a primeira dose da CoronaVac na última quarta-feira (20), segundo dia de vacinação no Distrito Federal.

“Apesar dos problemas, tudo foi muito bom porque cresci profissionalmente e aprendi muito como ser humano.”Nádia Bueno, enfermeira

Um dia antes, o técnico de enfermagem Aguinaldo Vaz de Oliveira, 53 anos, havia se tornado o primeiro colaborador do Iges a receber a CoronaVac. Ele é responsável por acompanhar o fluxo de pacientes infectados que precisam de assistência no Pronto-Socorro do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). “Ver um paciente infectado receber alta é sempre um momento de alegria”, afirma. “E saber que daqui para frente vamos conseguir, cada vez mais, reduzir o número de infectados é melhor ainda.”

Após um mês atuando no ambulatório do HRSM, Aguinaldo foi convidado pela gestão do hospital para trabalhar na linha de frente do pronto-socorro. “Em abril, aceitei o desafio”, relata. “Muitas pessoas opinaram dizendo que não era uma boa ideia, mas eu pensava assim: ‘se ninguém aceitar a proposta, como vamos ajudar quem precisa? Alguém tinha que aceitar’”.

Mesmo seguindo todos os protocolos e devidamente paramentado, o técnico acabou contraindo o vírus. “Foi bem difícil, pois tive muitas dores de cabeça e no corpo, além de sintomas gripais. Graças a Deus, não tive problema de oxigenação”, relembra. Atualmente, ele faz tratamento para dor na cervical, sequela da Covid-19. “Apesar de todos os sofrimentos e as dificuldades, valeu a pena. Agradeço a todos os profissionais de saúde que lutaram e continuam lutando contra essa pandemia. Vamos vencê-la.”

“Fomos descobrindo tudo aos poucos, com bastante resiliência e dedicação”, explica o médico Belchior Júnior da UTI do Base | Foto: Davidyson Damasceno/Ascom Iges-DF

Aprendizado na profissão e na vida

Assim como tantos colegas de profissão em todo o mundo, a enfermeira Nádia Bueno, 30 anos, não imaginava que atuaria diretamente para conter uma pandemia. Com sete anos de experiência, sendo mais de um ano dedicado à unidade de pronto atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante, ela foi realocada diversas vezes para áreas da linha de frente contra a Covid-19.

“Antes do coronavírus, eu atuava no Núcleo de Qualidade, com o pessoal de Ensino e Pesquisa”, lembra. “O atendimento era feito em uma tenda para pacientes com dengue. Quando a pandemia começou, o espaço passou a atender apenas aqueles com doenças respiratórias, e a UPA a oferecer UTI [unidade de terapia intensiva] para os necessitados.”

Nos mais de 10 meses de epidemia global, Nádia passou pelas áreas de assistência ao paciente, gestão de leitos, segurança ao paciente e vigilância epidemiológica. “Eu não tinha experiência em nenhum desses setores, mas fui aceitando as oportunidades”, conta. “Apesar dos problemas, tudo foi muito bom porque cresci profissionalmente e aprendi muito como ser humano.”

Durante a batalha, a enfermeira teve que se ausentar após ser contaminada pelo coronavírus em novembro do ano passado. Os sintomas foram leves, mas a preocupação era não transmitir para ninguém. “Eu não fiquei com medo por mim, mas pelas pessoas que estavam comigo”, relata. A pausa no trabalho também era motivo de aflição. “Fiquei preocupada com meus pacientes, queria poder ajudar.”

Para Nádia, que recebeu a primeira dose na semana passada, a chegada da vacina marca o início de novos tempos. “O que a gente passou aqui não foi fácil, mas ver isso agora é como uma luz no fim do túnel”, afirma, emocionada.

“Não podemos afrouxar, pois ralamos muito nos últimos tempos para conter o número de infectados no DF. Todas as medidas sanitárias devem continuar até que toda a população seja vacinada”Belchio Júnior, médico

Meses de isolamento rigoroso

Chefe da UTI Covid do Hospital de Base, Belchior Oliveira Júnior, 38 anos, assumiu o cargo em junho de 2020. A decisão o obrigou a se afastar da família e dos amigos. “O mais difícil foi o começo, porque tudo era muito incerto, e a gente estava aprendendo a lidar com a doença e a combatê-la. Não tinha resposta certa ou errada. Fomos descobrindo tudo aos poucos, com bastante resiliência e dedicação”, relembra.

Com a chegada do imunizante, o médico vê cada vez mais próxima a possibilidade de resgatar os mais de seis meses de afastamento das pessoas amadas. “Valeu a pena me isolar, porque pude protegê-las. Durante todo esse tempo, não teve uma vez que eu consegui me esquecer da pandemia ou relaxar. Eu sempre me lembro das pessoas internadas que precisam de ajuda e me solidarizo com elas”, ressalta o médico, vacinado na última quarta-feira (20).

“Ver um paciente infectado receber alta é sempre um momento de alegria”Aguinaldo de Oliveira, técnico de enfermagem

O momento ainda é de prevenção. “Não podemos afrouxar, pois ralamos muito nos últimos tempos para conter o número de infectados no DF. Todas as medidas sanitárias devem continuar até que toda a população seja vacinada”, alerta Belchior. “No futuro, acredito que vamos conseguir voltar a ter uma vida normal, como era antes da pandemia.”

De 19 de janeiro, primeiro dia de vacinação no Iges-DF, até essa sexta-feira (29), foram vacinados 6.041 colaboradores do instituto.

*Com informações do Iges-DF

Fonte: Governo DF

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