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No ar como Abraão em “Gênesis”, Vitor Novello fala com exclusividade ao iG Gente

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Vitor Novello
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Quando a pessoa tem um dom, não tem para onde fugir, nem motivo para isso. Um exemplo é Vitor Novello, que dá vida ao profeta Abraão, em sua juventude, na trama bíblica “Gênesis”, da RecordTV. Em uma rápida busca na Wikipédia, é possível se certificar de que o ator fez seu début na televisão com apenas dois anos, no folhetim “Corpo Dourado”, e que, em 2006, com dez, interpretou Tonzinho em “Malhação”. Já no ano seguinte, pôde ser visto no elenco do quadro Dancinha dos Famosos, do “Domingão do Faustão”, e como o Zé Luís de “Paraíso Tropical”.

Somam-se a isso o Marquinhos de “Três Irmãs”, o Serginho de “Insensato Coração”, o Jeferson de “Cheias de Charme” e o retorno à vigésima terceira edição da novelinha da Globo, batizada de “Malhação: Seu Lugar no Mundo”, como Luan. Ah, e ainda tem os papéis de sua primeira passagem pela emissora da Barra Funda, como o Yohan de “Milagres de Jesus” e o Felipe de “Conselho Tutelar”. Mas, se você pensa que os trabalhos terminaram, informamos que se enganou. Ele também está no ar na reprise de “Topíssima”, como o vilão Vitor. Confira o bate-papo!

1. Como é fazer parte de “Gênesis” e dar vida a Abraão?

Uma aventura. Abraão traz consigo todo um imaginário coletivo preestabelecido, e, no meu entendimento, o trabalho foi uma negociação entre essa força histórica inegável e a minha presença e existência como ator, algo que, a meu ver, também não vale a pena abrir mão. Fico feliz e grato pela confiança de viver um personagem tão importante historicamente.

2. O que acredita que esse personagem tem a ensinar ao público?

Acho que Abraão traz consigo a força de sua personalidade, a luta pelo amor, mas não perde a capacidade de dialogar, de tentar entender a diferença do pensamento e respeitá-la. Ele não é alguém que passa por cima das outras pessoas, mas, sim, alguém que quer ouvi-las. Para o nosso mundo de hoje, acredito que estas são qualidades que pode nos ensinar: a escuta, o diálogo.

3. Abraão é apresentado em três fases da trama. Como foi se preparar para essa “passada de bastão” com os outros dois atores?

Essa construção coletiva se deu, principalmente, por meio de conversas que tivemos eu, o Rafael Sun e o Zécarlos Machado. Cada ator traz sua assinatura, e é importante que seja assim, mas há algo em comum que foi pensado coletivamente e que, de alguma forma, nos é indicado com sucesso pelo próprio texto. Acho que mais do que uma ideia, um personagem acontece, de fato, em suas ações, suas relações com as situações apresentadas, e foi sobre isto que conversamos: a relação com Sarai, o amor pelas crianças, e por aí vai…

4. Além de “Gênesis”, podemos vê-lo no ar na reprise de “Topíssima”. Você assiste? É crítico?

Sim, assisto! Gosto de analisar o trabalho para aprender com ele. Sou e sempre fui muito crítico, mas, ao longo do tempo, tenho aprendido também a ser mais generoso nesse olhar. Assistindo a “Topíssima” e “Gênesis”, gosto de ambas, mas vejo Abraão como uma atuação mais madura. Estamos aprendendo constantemente, é ou não é?

Vitor Novello
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5. Você obteve destaque na TV ainda criança. O que perdeu e ganhou trabalhando desde cedo e tendo a vida observada pelo público?

Você viu?

Como tudo na vida, ganham-se coisas, e perdem-se outras. Ganhei a possibilidade de ter vivido e seguir vivendo com o que amo fazer, o que me enche de alegria e gratidão. Perdi, é claro, algumas viagens e momentos na infância, o que faz parte do combo dessa escolha quando se assume essa responsabilidade logo cedo. Talvez por esse motivo eu adore ser criança de vez em quando. Olhando para isso tudo, fico orgulhoso dessa trajetória.

6. Durante a pandemia, você chegou a lançar o livro de poesias “Par ou Ímpar”. Como nasceu a ideia e o que o inspira nesse trabalho?

“Par ou Ímpar” nasceu de um encontro, a princípio, despretensioso com o dramaturgo, ator e poeta Herton Gustavo Gratto. De uma conversa surgiu a troca de poemas que já havíamos escrito, e, dessa curadoria, veio a ideia do livro. Ele estimula o “eu lírico, que, de alguma forma, parte das crianças que ainda nos habitam (olha aí a tal vontade mencionada na resposta anterior), de perceber o que acontece à nossa volta, ou à volta de que nós acontecemos”. Escrevo não em busca de algo em si, mas para me conhecer.

7. Você também escreveu uma peça abordando a preservação do meio ambiente. Qual a sua relação com ele e como pretende tocar as crianças?

Sim! Escrevi esse espetáculo com o Tiago Herz, baseado numa conversa sobre um conto de Mia Couto chamado “O Cego Estrelinho” e o livro “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, de Aílton Krenak. Na quarentena, tenho estudado bastante e me dado conta, cada vez mais, de que eu quero que a minha produção estética como artista não esteja desconectada de uma ética. Por que fazer tal coisa aqui e agora? É uma pergunta que para mim se torna cada vez mais importante. Vivemos um momento de emergência climática, causada pela nossa espécie. Pensar-se como parte da natureza e não tê-la como recurso infinito é um ponto de partida que achamos proveitoso compartilhar com os pequenos, em forma de uma experiência lúdica e divertida.

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8. Além de ator e autor, também é músico e tem uma banda. Acha que existe discriminação com atores que cantam como muito já se ouviu no passado?

Confesso que não estou tão por dentro desse preconceito! Se há, considero uma bobeira, porque não acho que nós somos uma coisa fixa que precisa se manter durante uma vida. Já pensou? Eu mudo toda hora, estou em movimento e não faço ideia do que farei artisticamente daqui a cinco anos, por exemplo. Não dá pra prever! Adoro a música e estar perto desse universo, com todo respeito e admiração por quem está trilhando esse caminho há tempos.

9. Como analisa a atual fase da arte no país e vislumbra o futuro?

Difícil ter uma resposta para essas questões! Eu sempre tento ser otimista, mas, ao mesmo tempo, é triste ver pessoas descredibilizando o trabalho dos artistas de modo geral, dizendo que são vagabundos etc. Quem fala isso não ouve música? Não vê novela ou filme? Acho importante pensarmos sobre esse discurso vazio. Apesar desse lado triste — de tentarem descredibilizar a arte e tirar sua força de transformação social e política —, me sinto emocionado em presenciar tantos lutando diariamente no sentido inverso e outros que nem conheço fazendo transformações em seus universos. Vamos ver como será depois que esse momento dificílimo e de pouco amparo passar. Sigo na tentativa de praticar o otimismo. Tomara que as coisas se aqueçam; é bom para quem faz e para quem consome, que somos todos nós!

10. Com tantos projetos, tem mais novidades a caminho que já pode adiantar?

Algumas coisas estão aí no forno, vamos ver quando saem! A pesquisa sobre dramaturgia tem me encantado, e outro lado que venho descobrindo é o da pedagogia. Amo crianças e comecei neste ano a dar aulas de teatro em uma escola de musicais onde estudei por dez anos quando era mais novo, a Catsapá. Arte e cultura só têm a ajudar na formação dessas meninas e meninos! Quanto à atuação, há perspectivas acerca de um futuro próximo, mas as atividades estão em suspensão devido ao momento preocupante que vivemos. Estou animado e, ao mesmo tempo, paciente, tentando aprender com Abraão.

Fonte: IG GENTE

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