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RJ: após escalonamento das atividades, BRT é registrado com aglomerações
A decisão da prefeitura do Rio de Janeiro de escalonar os horários das atividades econômicas, publicada no mais recente decreto de medidas restritivas contra o avanço da Covid-19 , não impediu que as cenas de aglomerações nos transportes públicos se repetissem nesta segunda-feira (15), três dias após a determinação entrar em vigor.
No corredor Transoeste, o mais movimentado do modal, uma manhã de caos provou que os passageiros, por falta de opção, continuam expostos ao risco de contaminação em filas extensas e ônibus superlotados. O novo regime de escalonamento das atividades econômicas prevê que serviços operem das 8h às 17h, a administração pública, das 9h às 19h, e o comércio em geral, das 10h30 às 21h.
A Estação BRT Mato Alto, em Guaratiba, Zona Oeste do Rio, já estava lotada por volta das 6h30. Por integrar fluxos provenientes de alguns dos bairros mais populosos do Rio, como Campo Grande e Santa Cruz, o ponto tem uma das maiores demandas do corredor. Ao longo da pandemia, a baixa quantidade de ônibus disponíveis à população — muitos em más condições — levou a estação a protagonizar imagens alarmantes de desrespeito às normas sanitárias. Não foi diferente nesta segunda (15).
Moradora da Travessa Piraquê, em Guaratiba, a diarista Maria José Pereira, de 55 anos, pega o BRT todo dia para a Barra da Tijuca, onde trabalha. Na fila da bilheteria, ela mostra um hematoma no braço esquerdo que, segundo conta, resultou de uma queda que sofreu enquanto outros usuários do serviço disputavam vagas dentro de um veículo.
“É um inferno. Isso não é vida para ninguém. Tiraram as opções que a gente tinha (tinha van, tinha outros ônibus). Agora, ou vai nesse ou não vai. Quando você chega na fila, quando chega um BRT, eles são capazes até de matar você para conseguir uma vaga. Olha aí, meu braço está roxo. Estou sem conseguir levantar o braço desde quinta-feira”, desabafa.
Segundo Maria, a nova tabela de escalonamento da prefeitura , que foi publicada na quinta-feira e entrou em vigor na sexta, não surtiu efeito algum sobre a qualidade do serviço prestado.
“(O movimento de sexta para cá) Está a mesma coisa. Aqui não tem melhora. Tinha que ter mais ônibus”, diz ela.
O ajudante de pedreiro Leandro da Silva, de 41 anos, relata o medo de se infectar por Covid-19 nos ônibus superlotados do corredor. Como Maria, ele não viu melhora no serviço a partir de sexta-feira (12), quando a determinação entrou em vigor.
“Está a mesma coisa ou pior. Tenho muito medo de me infectar dentro do ônibus. Mas fazer o quê, né? Temos que pegar isso todo dia. Ou vai, ou passa fome. Fica em casa sem trabalhar…”, diz o homem, que mora em Guaratiba e trabalha em Jacarepaguá.
Funcionário desabafa
O decreto municipal foi inócuo também na visão de motoristas. Um piloto do BRT, que não quis se identificar, expressou indignação pelos riscos sanitários a que se submete todo dia:
“Está normal. Mesma coisa, não mudou nada. Talvez esteja até mais cheio. Continuamos expostos”.
A estação BRT Mato Alto é parada de algumas das principais linhas do corredor Transoeste, como as expressas 13 (Mato Alto x Alvorada) e 12 (Pingo D’Água x Alvorada) e a paradora 25 (Mato Alto x Alvorada). Na manhã desta segunda-feira, os ônibus passavam no ponto a intervalos de 10 a 20 minutos — uma frequência insuficiente frente à demanda, dizem passageiros.
Não bastassem as aglomerações , muitos usuários que passaram pela estação dispensavam o uso de máscara, que, também por determinação municipal, é obrigatório em transportes públicos. Contudo, durante a permanência da nossa equipe no local — que durou cerca de uma hora e meia —, nenhum servidor do BRT ou da Guarda Municipal foi visto orientando os passageiras sobre a necessidade de proteção facial.
A presença de agentes nos arredores da estação também foi menor do que no dia 4 de março. Apenas duas viaturas monitoravam a estação — uma da Polícia Militar e outra da Guarda Municipal, do grupamento Lixo Zero.
Por volta das 7h25, um ônibus da linha 20 (expresso Santa Cruz x Salvador Allende) enguiçou por vazamento de óleo a cerca de 200m da estação. Segundo o motorista, o veículo carregava cerca de 300 pessoas — e a maioria resolveu ir andando para a estação Mato Alto e pagar uma nova passagem, descrente de que um outro veículo seria enviado para atender aos passageiros prejudicados.
“Mostra! Tem que mostrar mesmo!”, gritava um outro passageiro, ele mesmo agarrado à porta aberta de outro ônibus, sem conseguir se mexer. “Tá osso”, desabafou uma usuária que tinha acabado de percorrer a pé as centenas de metros que separavam a estação do ponto em que o ônibus enguiçara.
A diarista Neila Cristina, de 48 anos, estava entre os passageiros que resolveram esperar por um outros ônibus à beira da pista, junto ao motorista.
“Quando pegamos lá no Curral Falso, o ônibus já veio bem devagar. Quando chegou aqui, simplesmente pifou. E todos os dias é isso. Não tem como. Não adianta reclamar. Eu acho um absurdo… E eles não tomam providência em nada. O motorista disse que enviariam um outro ônibus, vazio. Mas, se isso acontecer, será um grande milagre”.
Segundo ela, o escalonamento das atividades econômicas não fizeram diferença no serviço oferecido pelo BRT:
“Infelizmente, é um inferno que a gente vive. Todos nós que saímos para trabalhar cedo. De sexta para cá, não mudou nada. E só falam que mudou, mas ninguém vê mudança para quem realmente anda no BRT”.
A diarista diz que se atém à fé para não se contaminar por Covid-19 no ônibus:
“É só Jesus que nos guarda. Uns andam com máscara, outros não. E com o BRT lotado, não tem como. Saio de casa todo dia e digo: “Senhor, nos guarde”.
Cerca de 15 minutos depois, um ônibus vazio, com um itinerário diferente do original — linha 25 (semiexpresso Mato Alto x Jardim Oceânico) —, chegou ao local para buscar os passageiros que aguardavam na pista.
A concessionária do BRT foi questionada se a frota disponível havia sido ampliada para prevenir a contaminação por Covid-19. Em nota, a empresa respondeu que “o BRT está trabalhando com toda a sua capacidade de operação, de forma a atender a demanda de passageiros nos três corredores, sobretudo nos horários de pico”.
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