Saúde
Novas diretrizes irão nortear o futuro do tratamento cirúrgico e medicamentoso do diabetes e obesidade
O avanço das medicações para o controle do diabetes e da obesidade levou a Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO) a criar diretrizes sobre o uso desses tratamentos de forma integrada. O documento deverá ser publicado nas próximas semanas na revista científica British Journal of Surgery e irá orientar médicos sobre a combinação de tratamento cirúrgico e farmacológico para otimizar o controle do diabetes tipo 2 e outras complicações relacionadas à obesidade. Esse será o primeiro consenso do mundo que abordará as melhores estratégias de tratamento para cada tipo de paciente.
Dr. Ricardo Cohen, atual presidente da IFSO, explica que, como outras doenças crônicas complexas – o câncer, por exemplo – doenças metabólicas como diabetes e obesidade exigem abordagens personalizadas.
“Entre os temas, as diretrizes irão apontar quais pacientes se beneficiam de tratamentos combinados e quais as recomendações para o início das medicações, antes ou depois de operar”, antecipa Cohen. Segundo ele, a obesidade e o diabetes são doenças crônicas e multifacetadas. Isso quer dizer que não existe uma ‘bala de prata’ para tratá-la. Existem pacientes que vão se beneficiar só do tratamento cirúrgico, outros só com medicações e um bom número irá se sair melhor ao combinar as estratégias para o melhor resultado”, explica Cohen.
SOCIEDADES BRASILEIRAS TAMBÉM TERÃO NOVAS DIRETRIZES
Tendo em vista alguns obstáculos ainda existentes para o tratamento da obesidade e do Diabetes no Brasil, como por exemplo, a adesão ao tratamento e a dificuldade de acesso aos medicamentos em pacientes do SUS, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica (SBCBM), juntamente com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e ABESO – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica também estão produzindo diretrizes conjuntas para nortear o trabalho de médicos no país.
O trabalho começou a ser realizado em março de 2023 e deverá ser concluído e publicado em 2025 na Revista Científica ABCD (Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva), de acordo com o presidente da SBCBM, Antônio Carlos Valezi.
ACESSO AO TRATAMENTO ADEQUADO AINDA É OBSTÁCULO NO BRASIL
Enquanto a ciência avança no tratamento do diabetes tipo 2, o acesso ao tratamento – clínico e cirúrgico – ainda é um desafio no Brasil. A pesquisa Vigitel 2023 mostra que a prevalência do diabetes varia entre diferentes regiões, com maior incidência em São Paulo (12,1%) e menor em Rio Branco (5,6%). Nove em cada dez casos são de diabetes tipo 2, frequentemente relacionado à obesidade e ao excesso de peso. Apesar do crescimento na taxa de diagnóstico, o acesso a tratamentos avançados, incluindo a cirurgia metabólica, é limitado, especialmente para populações de baixa renda.
Segundo levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) menos de 1% da população que atende aos critérios de indicação têm acesso ao tratamento cirúrgico do diabetes tipo 2. Para o presidente da SBCBM, Antônio Carlos Valezi, é essencial ampliar o acesso à cirurgia metabólica.
“É muito mais barato ter um bom controle da diabetes do que um controle ruim, porque um controle ruim significa tratamentos muito caros para complicações como ataque cardíaco, derrame, diálise, retinopatia. Portanto, se olharmos para o longo prazo, estaremos melhor servindo nossos pacientes e também provavelmente gastando menos dinheiro”, aponta.
CIRURGIA METABÓLICA
A cirurgia metabólica, uma variação da cirurgia bariátrica, não apenas reduz o peso, mas também estimula a produção do hormônio GLP-1, que pode aumentar até 20 vezes após o procedimento. Esse hormônio promove a secreção de insulina pelo pâncreas, controlando os níveis de açúcar no sangue. Estudos mostram que a intervenção cirúrgica é eficaz para o controle do diabetes, especialmente quando o tratamento clínico falha. Entretanto, os critérios para indicação são rigorosos, incluindo IMC entre 30 e 34,9, idade entre 30 e 70 anos, e diagnóstico da doença por no mínimo dois anos e máximo de dez anos.
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