Política

Mulheres no Legislativo

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 “[Nós, mulheres], temos uma visão muito mais ampliada [da realidade]. Não somos iguais [aos homens] e nem devemos buscar a igualdade [em relação a eles]. Devemos, sim, respeitar as [nossas] diferenças, e mais, nos unirmos em torno delas”.

                                                                                                                                                                           A frase exprime a opinião deixada pela ex-deputada Adriete Elias (DEM) durante entrevista concedida ao projeto Mulheres no Legislativo da Alego. Essa mineira de Itaúna, que se radicou em Catalão no início da década de 1980, viria, mais de duas décadas depois, a exercer seu mandato parlamentar na 16ª Legislatura da Alego (2007-2011).  Essa entrevista foi concedida em 10 de junho de 2021.

Integrando, na época, os quadros do MDB, ela compôs, então, a bancada oposicionista na Casa. Naquela altura, o governo estadual era comandado por Alcides Rodrigues (PP). A oposição, no Parlamento goiano, contava, ao todo, com 14 deputados estaduais e reunia ainda outras duas legendas: o PT e o PSC. 

Como uma autêntica descendente de italianos, Adriete fala sobre sua trajetória e sustenta, com entusiasmo, uma prosa que se estende por quase duas horas. Esbanjando um otimismo, por vezes desconcertante, ela transita por assuntos que vão da vida pessoal à política, sem qualquer constrangimento. Ser otimista, aliás, é uma característica que a própria entrevistada reconhece como uma qualidade marcante de sua personalidade. Algo que nem mesmo os infortúnios trazidos pela passagem de uma pandemia avassaladora, que já ceifou a vida de quase 600 mil brasileiros e poupou, por pouco, a do seu próprio marido, parece capaz de abalar.   

Em janeiro deste ano, seu esposo, Adib Elias (Podemos), que exerce, pela terceira vez, o cargo de prefeito de Catalão, testou positivo para covid-19 e ficou internado, em estado grave, por quase 60 dias. Ele ainda se recupera das sequelas deixadas pela doença. 

Muito além de primeira dama

Ao lado do esposo, a ex-deputada se esmera em mostrar que seu papel vai muito além de fiel primeira-dama. Estendendo seus cuidados aos mais de 110 mil catalanos, Adriete, que lidera, também pela terceira vez, a Secretaria de Assistência e Promoção Social do município, se esforça, agora, para conter as variantes do vírus, que segue se alastrando pelo estado. “É realmente um grande aprendizado. A gente está aprendendo, a gente está se reinventando. Mas essa reinvenção nossa vai ser por pouco tempo, se Deus, nosso senhor quiser! Eu acho que o ano que vem vai ser um ano diferente para todo mundo, para todos nós”, vaticinou.

Estampando no rosto o entusiasmo que lhe é característico e que nem a máscara de proteção, usada durante toda a entrevista, foi capaz de esconder, ela segue lançando as suas previsões para o futuro próximo. “Eu acredito demais que, daqui pra frente, com essa vacina que está saindo para todos, nós vamos voltar à nossa vida normal. Principalmente, nós, brasileiros, que não somos de ficar isolados. Nós somos de abraçar, somos felizes. A nossa felicidade, o nosso jeito alegre de ser, vem muito do poder do toque. Nós vamos tirar essa máscara, porque ela não faz parte do nosso guarda-roupa. O nosso modo de ser é contagiante, a gente sorri com os lábios mesmo, não só com os olhos. Eu realmente sou muito otimista e sei que vai dar certo”, vibrou.

Gestora comprometida com o bem-estar do povo que a elegeu, com seu inarredável entusiasmo, Adriete dá provas de que ser otimista não é, nem de longe, ser irresponsável. Mesmo já estando vacinada com as duas doses do imunizante contra o novo coronavírus, ela afirma continuar seguindo todos os protocolos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), tanto na vida pessoal quanto na pública. Um exemplo para muitos negacionistas.

Diferente daqueles que negam a ciência, Adriete afirma que tem feito dela a sua maior aliada na condução dos trabalhos à frente da Secretaria da Promoção e Ação Social. “Logo no início da pandemia, fizemos uma campanha de esclarecimento, conversamos com as pessoas e começamos a fazer máscara e distribuir para a população. Máscara de tecido, álcool gel, sabonete, pasta de dente, tudo isso a gente distribuiu para enfatizar a importância da higiene”, comentou Adriete.

Foi, aliás, à ciência, que Adriete diz ter dedicado parte da sua vida. Graduada em Direito e com três cursos de especialização, ela relata que durante alguns anos ficou exclusivamente voltada para o estudo e o cuidado com os filhos (Guilherme e Patrícia). Só mais tarde é que ela viria iniciar sua vida profissional e política. 

Quando assumiu pela primeira vez a Secretaria Municipal de Ação Social em Catalão (2001-2007), no primeiro mandato do seu marido como prefeito (nessa época, Adib Elias também estava no MDB), foi que Adriete deixou de se dedicar meramente às questões domésticas. Mal poderia ela imaginar que essa seria sua porta de entrada para a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás.

Até então, Adriete nunca havia assumido nenhum cargo público. Sua estreia na política aconteceu durante as campanhas eleitorais de Iris Rezende (MDB) para governador do Estado e Halley Margon (MDB) para a prefeitura de Catalão, ambas em 1982. Uma década mais tarde (1994), ela assume a coordenação da primeira campanha de seu marido, quando esse se candidata à vaga de deputado estadual (na época pelo PL). 

Adib fica, a princípio, com a primeira suplência e só assume, definitivamente, uma cadeira dentro do Parlamento goiano, meses depois, com a saída de Antonino Camilo de Andrade (PL), que se licenciou para assumir a Secretaria Especial do Entorno de Brasília e do Nordeste goiano. A pasta havia sido criada pelo então governador Maguito Vilela, através do decreto nº 4.462/1995.  Adib Elias permaneceu no cargo por duas Legislaturas seguidas (13ª e 14ª) e deixou a Alego no final de 2000, ao se eleger para o primeiro mandato como prefeito de Catalão (2001-2004). Anos depois, ele retorna para a Alego e cumpre seu terceiro mandato (2015-2019) como deputado estadual da 18ª Legislatura, sua última na Alego até hoje. 

Com o marido na prefeitura, ela se torna, ao mesmo tempo, primeira-dama do município e secretária municipal de Promoção e Ação Social (a partir de 2001), onde permaneceu por seis anos. Durante essa primeira passagem pela pasta, ela trabalhou na implantação de vários projetos, dos quais fala com muito orgulho. Dentre esses, ela cita o Acalanto, o Viver Melhor, a Vaca Mecânica, o Abraço de Natal, a Páscoa, o Casamento Comunitário. Uma breve descrição de cada um deles se encontra disponível no perfil da ex-deputada, divulgado no portal da Alego (procurar na 16ª Legislatura).

De todos esses projetos, Adriete confessa ser o Centro de Convivência do Pequeno Aprendiz – CCPA a sua menina dos seus olhos até os dias de hoje. Dentre as razões apresentadas, ela destaca as mudanças geradas na vida de milhares de jovens que estão iniciando uma carreira profissional. “É uma questão de educação tirar o jovem e a criança da rua, porque esse trabalho tem um papel estruturante na vida das pessoas”, avaliou. 

De forma geral, Adriete esclarece que o programa contribuiu, não apenas para reduzir a incidência de crianças nas ruas, mas também para melhorar a qualidade da educação pública. Segundo ela, através desse projeto, mais de três mil jovens tiveram acesso ao primeiro emprego com carteira assinada, no município.

As muitas lições aprendidas na Prefeitura de Catalão serviram de base para que Adriete pudesse se lançar em outros desafios, que acabariam por levá-la ao plenário da Alego. “Todo político tem que passar pela ação social. É uma escola, uma grande escola. É onde você realmente conhece a fundo a política, o que se faz, o que o povo precisa. É onde se desenvolve a sensibilidade, onde você vê a coisa nua, a verdadeira política. Ali você precisa fazer política 24 horas, porque ninguém chega na ação social para te trazer resultado, todo mundo chega com problemas e quer resultados”, sublinhou. 

Os resultados vieram e frutificaram, abrindo novas portas em sua trajetória política. O contato permanente com a população, durante o tempo em que esteve à frente da ação social de Catalão, foi fundamental para que Adriete vencesse as eleições para deputada em 2006, quando conquistou a marca de 35.476 votos e assumiu seu primeiro mandato na 16ª Legislatura da Alego (2007-2011). Na Legislatura seguinte, ela retorna como terceira suplente de Samuel Belchior, mas permanece no cargo por pouco mais de quatro meses, apenas (de julho a dezembro de 2012).

Da oposição à Mesa

A posse na Alego ficou marcada para sempre na memória de Adriete. “Quando eu cheguei na Assembleia, a Onaide Santillo (deputada da 13ª à 15ª Legislatura da Alego e candidata à vice-governadora de Goiás pelo MDB, na chapa de Maguito Vilela, em 2006) e o Marcelo Melo (deputado federal pelo MDB/GO de 2007 a 2011) foram me receber. Achei isso muito cordial da parte deles”, revelou entre risos. A recepção calorosa tinha, na verdade, um motivo bastante claro: apaziguar os ânimos junto à presidência da Casa. 

Isso porque, na ocasião, Adriete encontraria, ainda, entre os seus opositores, o próprio presidente da Casa, o ex-deputado Jardel Sebba (PSDB). A contenda entre ambos remetia a rivalidades decorrentes da política local de Catalão, que foram deflagradas em anos anteriores. Adib Elias era quem ocupava, na verdade, o centro dessa disputa. E a querela tinha contornos para lá de familiares, uma vez que o marido da entrevistada era o primo do então chefe do Parlamento goiano.

Apesar de encontrar o apoio do seu partido (na época, o MDB) e de muitos outros parlamentares, a entrevistada confessa que teve dificuldades de emplacar proposituras na Casa. “Eram perseguições bobas que eu sofria, como, por exemplo, retiravam verba do meu gabinete, engavetaram meus projetos”, revelou. 

Um exemplo que ela diz se lembrar bem foi o projeto da tornozeleira eletrônica para vigilância penitenciária (O PL 536/2007 recebeu parecer contrário do relator Marlúcio Pereira na CCJ). “Eu fiquei muito chateada, porque foi um projeto que eu coloquei, como se diz, ‘debaixo do braço’ e fui falar com o doutor Alcides [governador da época]. Ele achou o projeto muito bom e se comprometeu em fazer funcionar”, lamentou Adriete. A iniciativa, no entanto, só começaria a ser implantada, em Goiás, no governo seguinte e dois anos após o fim do mandato da ex-deputada.

No biênio seguinte, a situação se torna, no entanto, um pouco mais confortável para a entrevistada, que se alegra ao reconhecer que pode, finalmente, “conquistar seu espaço”. Isso porque ela passou a integrar a Mesa Diretora da Casa, atuando, na conjuntura, como 4ª secretária. Essa nova composição era comandada pelo ex-deputado Helder Valin (PSDB) e contava, ainda, com os trabalhos do atual deputado Álvaro Guimarães (hoje do DEM, mas, na época, do PR), como 1º secretário, e dos ex-deputados Frei Valdair (PTB), como 2º secretário, e Mauro Rubem (PT), como 3º secretário.

De fato, o espaço conquistado por Adriete deve ser comemorado. Poucas mulheres tiveram essa chance na história do Parlamento goiano. Antes da entrevistada, apenas quatro deputadas haviam ocupado lugar de destaque junto à Mesa Diretora da Casa. Cleuzita de Assis e Lamis Cosac estiveram ambas na vice-presidência. A primeira durante a Constituinte goiana, na 11ª Legislatura, e a segunda na 14ª Legislatura. Dária Alves e Mara Naves estiveram ambas na segunda secretaria da 13ª Legislatura. Essa última deputada também esteve como quarta secretária, na 15ª Legislatura. 

Nesta 18ª entrevista do projeto Mulheres no Legislativo, a Agência de Notícias da Alego traz as confidências e muitos outros relatos dessa autêntica representante do Sudoeste goiano. Num local público, porém muito reservado, Adriete compartilha, entre um café e outro, suas percepções de mundo e esperanças para o futuro. 

Em falas, entrecortadas por muitos risos, ela vai relembrando momentos marcantes de sua trajetória enquanto personalidade pública e revelando opiniões acerca de assuntos diversos. Um exemplo é a crítica que faz ao sistema de cotas, inclusive àquelas cotas que tentam positivar os direitos políticos das mulheres quanto à representatividade eleitoral. 

“Sou contra qualquer tipo de cota. Você está mostrando que você tem um tipo de… não é exatamente discriminação… mas existe cota para homem? Então porque que vai existir cota para a mulher? Essa obrigação traz a invenção das candidaturas, as candidatas laranja. Então eu sou contra cota para os negros, eu sou contra cota de qualquer tipo, porque aí sim você mostra que tem preconceito. Pra mim, começou essa coisa de preconceito no Brasil quando institui os sistemas  de cota”, opinou, em certa altura.

A seguir, o leitor pode acompanhar, em detalhes, a entrevista completa com a ex-deputada Adriete Elias. 

Recentemente acompanhamos pela imprensa as notícias do seu marido, que acabou contraindo covid-19. Como ele está agora? 

Agora ele está bem. Teve trombose e esses dias está mais de repouso em casa. Está indo bem, com algumas recaídas, mas é assim mesmo… 

Essa volta parece ser um processo que requer muitos cuidados, não é mesmo?

Todo dia é uma coisa. Impressionante! Tem dia que ele está bem demais, amanhece bem, mas ainda está sensível, amedrontado. Não é pra menos. Só quem passa por isso sabe. 

Todo mundo fala que o mais importante da covid-19 é combater uma inflamação insistente que pode permanecer, que você tem que lutar contra aquela inflamação do corpo. Ele está tomando alguma coisa para combater a inflamação?

Está sim. Ele passou mal na terça-feira, na quarta ele fez uma série de exames e deram início ao uso de antibiótico. É uma pancada, porque eles não sabiam direito onde estava essa inflamação. Ele desenvolveu um problema no ombro e está com dificuldade para andar. Então aí você tem que procurar assistência, né? Quando o Adib adoeceu, a gente foi pra São Paulo e quem tratou dele foi o Dr. Roberto Kalil. Eles falavam “a gente não sabe nada dessa doença. A gente trata os sintomas, a gente não trata a doença”. Eu falo que o Adib ainda teve sorte demais, não teve nenhuma sequela neurológica, não teve audição e paladar comprometidos. No começo, ele teve muita fraqueza para andar, ficou mais sensível, mas eles diziam que isso tudo era muito normal, porque, até então, as sequelas, de fato, não tinham aparecido. A única coisa que ele teve de mais grave, eu diria, foi que afetou a visão e desenvolveu catarata. Até hoje não normalizou e acho que agora só com o tempo. Vamos ter que ter paciência. O caso dele foi muito grave. 

O novo coronavírus costuma ser um forte adversário, mas Adib vai vencer. Aliás, levando isso para o campo político, gostaria de saber de você se é possível fazer política sem desprezar o adversário?

Você tem que respeitar todo adversário, quem quer que seja, você tem que respeitar. Pensamentos e divergências são importantes. Meu Deus, seria horrível se o mundo fosse uma unanimidade (risos)! Você tem que ter as suas ideias, a sua visão, senão a gente estaria até hoje andando de carrocinha. Tiro por base até Catalão, mesmo. Eu não sou de lá, mas quando cheguei, em 1980, Catalão era uma cidade de muita precariedade. Só a partir de 2001 foi que começou a melhorar e hoje é uma cidade bem melhor. Catalão mudou muito.

Vamos voltar um pouco no tempo pra gente entender a sua história. Você é mineira de Itaúna e veio morar em Goiás. Você já tinha concluído o curso de Direito quando chegou aqui? 

Na minha cidade tem uma Faculdade de Direito. O curso lá, na época, já era de 5 anos. A gente tinha que cumprir um período de estágio, na assistência judiciária. Quando eu cheguei em Catalão, a Faculdade de Direito* ainda estava começando. Então, eu tive que esperar por um período, até chegarem ao quarto ano, para eu poder entrar e finalizar. Mas daí vieram os filhos, Guilherme e Patrícia, e fui protelando, até os meninos ficarem maiores, para eu poder finalizar. Você sabe que quando a gente não tem família por perto, depende sempre de alguém para ajudar com os filhos pequenos. Então, quando me formei fiquei um tempo no Direito, um ano e meio, trabalhando na assistência judiciária. 

A ex-deputada concluiu sua graduação em Direito pelo CESUC (Centro de Ensino Superior de Catalão).

Quando você veio de mudança para Goiás já estava casada? 

Sim, casada.

Vocês se casaram onde, exatamente?

Em Itaúna. 

E como você e o Adib se conheceram?

É uma longa história (risos). Eu tinha um cunhado, que já faleceu, ele era engenheiro de Minas e veio trabalhar aqui em Goiânia, na antiga Metago. Foi quando se descobriu as minas*, em Catalão. Ele foi um pioneiro. Foi um dos primeiros engenheiros que foram para lá para estudar o subsolo de Catalão. Naquela época, o foco maior era o fosfato. Então, ele fez um estudo na cidade, na região toda lá, e apresentou à Metago. Depois disso, ele foi designado para explorar o subsolo lá em Catalão. E a minha irmã, que era casada com ele e, por essa razão, estava longe da família, dizia: “vocês têm que vir pra cá, pra Catalão”. Ela estava desesperada pra ter contato com a gente. Então eu fui visitá-la e conheci o Adib. Ele ainda estudava medicina no Rio e estava passando férias em Catalão.  Naquela época eu ainda não tinha entrado na faculdade. Namoramos durante cinco anos e quando ele terminou a residência e teve que voltar para Catalão, eu estava no quarto ano de Direito lá em Itaúna. Então nos casamos, em 1980, e viemos morar em Catalão. 

* A Metago (Metais de Goiás S/A) foi uma estatal goiana criada em 1961. Funcionou até o final da década de 1980, quando entrou em processo de liquidação. O setor mineral do Estado de Goiás teve grande relevância no século XVIII, como produtor de ouro. A sua produção mineral esteve focada na exploração de ​​grandes reservas de fosfato, nióbio, titânio, terras raras e vermiculita em Catalão. 

Vocês dois são descendentes de libaneses? 

Eu não, sou descendente de italianos. Meus avós eram italianos. A minha cidade foi colonizada por muitos italianos e Catalão foi mais colonizada pelos árabes, sírios e libaneses. O Adib tem descendência libanesa pelos dois lados, tanto por parte de pai quanto de mãe. E lá, em Catalão, antes, essa tradição era muito forte. Hoje a cidade já cresceu muito e isso mudou. Mas, na época dos pais dele, era muito forte.

E, quando você veio para Goiás, ninguém mais da sua família veio com você?

Minha irmã (casada com engenheiro de Minas) chegou a ter uma passagem por aqui, mas foi muito rápida. Quem ficou morando, mesmo, fui eu.

E vocês são de uma família de quantos irmãos?

Somos sete irmãos. Família grande. Família típica de italianos. Quando eu me casei e fui morar em Catalão, minha irmã e meu cunhado ainda estavam lá, mas ele teve uma proposta muito boa para ir trabalhar na Mannesmann, que é uma fábrica de máquinas pesadas em Belo Horizonte. Daí eles resolveram voltar. Esse mesmo cunhado que me trouxe para Catalão, me deixou aqui (risos). Foram morar em Belo Horizonte e eu fiquei.  

E quando foi que o Adib resolveu entrar para a política? 

Se não me engano, foi em 1994. A primeira campanha dele foi como candidato a deputado estadual pelo PMDB [hoje MDB]. Mas ele ainda continuou na Medicina e eu acabei largando o Direito. Algum tempo depois, fiz vários cursos de especialização em Uberlândia (Direito civil, Penal e Administrativo), mas ainda era complicado demais porque tinha que pegar estrada para ir estudar. E eu ainda estava com os dois filhos pequenos. Naquela época, tinha um advogado, tio do Jardel, inclusive, que tinha uma história muito bonita comigo. Ele me chamou lá e eu acabei trabalhando com ele, no escritório. A gente sempre discutia muito o Direito. Então, veio a prova da OAB. Foi a primeira vez que a Ordem fez a prova escrita e oral. Fiz e passei na prova, mas foi quando o Adib entrou na Assembleia para o primeiro mandato dele (1995). Na época, o governador era Maguito Vilela. Adib ficou com a primeira suplência. Foi uma eleição incrível, porque ele teve apoio do povo, apenas. Logo no início, surgiu uma vaga para a suplência e ele iniciou o seu primeiro mandato. No primeiro ano, ainda fiquei em Catalão, com os meninos, porque eles estavam estudando e não podiam mudar, naquele momento, senão perdiam o ano. Mas, no outro ano, viemos todos para Goiânia.

Antes da campanha do seu marido você já havia participado de alguma campanha? 

Participamos ativamente da primeira campanha do Iris, em 1982. Lembro que o Guilherme, meu primeiro filho, já tinha nascido. Eu nunca tinha participado de eleição assim. Eu nunca tinha participado antes porque a minha família não tinha nada haver com política. Mas participei da eleição do Íris para o Governo do Estado e da eleição do Halley Margon, para a Prefeitura de Catalão. 

E, na família do Adib, já tinha alguém que costumava participar da política?

Na família dele, o irmão já tinha sido vereador e candidato a vice do Halley. Mas eu não tinha nem noção de como era a política. Na minha cidade, a gente ficava sabendo em quem votar quase que na hora, já quase na boca da urna (risos). A gente não tinha ligação nenhuma com política. A nossa família era toda voltada mais para a medicina, não tinha ninguém [na política] e foi uma novidade pra mim participar de comício e daquelas reuniões todas. Achava fantástico! Participei muito.

Os descendentes de italianos aqui no Brasil são reconhecidos por terem muita facilidade para o diálogo e boas conversas. Você acha que essa sua origem facilitou a sua afinidade com a política?

Verdade, acredito (risos). A gente gosta de falar muito. Naquela campanha, o Halley Margon (MDB) era o candidato a prefeito, casado com a Dona Joana (que viria a ser a primeira dama). Halley também ficou como prefeito naquele mandato tampão* (1982-1988), antes da Constituinte (1988-1989). Naquela época, eu estava grávida do Guilherme, mas acompanhei muito a Dona Joana nas visitas que ela fazia à zona rural. Na primeira gravidez a gente não tinha muito medo (risos). E comecei a gostar daquilo. Depois, eu estava com o bebê recém-nascido e já não podia mais participar. Nesse período, o Adib trabalhava como médico no posto de saúde. Foi assim que ele começou a se envolver e a gostar da política. Daí já veio a campanha do Íris… 

Período de tempo acrescido ao tempo regular de um mandato com o intuito de manter a estabilidade política.

Aliás, consta nos arquivos da Assembleia que você sempre foi extremamente simpática e nesta campanha do Iris você trabalhou e angariou muitos votos. Como foi isso? 

Foi na primeira campanha do Iris. O povo queria mesmo a volta dele. 

Aliás, só pra gente contextualizar, quais seriam os paralelos que podemos estabelecer entre a política que era feita naquela época e a política que é feita hoje?

Era uma coisa mais simples.  Realmente existia o coronelismo*. As pessoas eram muito ligadas a essas coisas. Mas era uma coisa mais honesta, mais idealista, eu acho. Tinham também aqueles que iam atrás, porque o coronel mandava [voto de cabresto]. A gente sabe que isso sempre existiu no Brasil. Mas não existiam aquelas campanhas milionárias de compra de votos**. Naquela época prevalecia mais o ideal. 

* Coronelismo é um fenômeno da política brasileira que se iniciou com a Primeira República. Caracteriza-se por uma pessoa, normalmente um grande proprietário rural, que, por deter o poder econômico, acabava exercendo uma forte autoridade local, normalmente por meio da violência e trocas de favores. Em analogia ao vínculo com as atividades agrárias, o termo “curral eleitoral” ficou marcado como a região de influência dos chamados coronéis e o “voto de cabresto” como a prática autoritária por meio da qual conseguiam vencer as eleições.

** Na verdade, a própria prática do chamado “voto de cabresto”, embora não denotasse uma atividade comercial propriamente dita, pode ser vista, sim, como espécie de compra de votos, uma vez que estava, em geral, condicionada à troca de favores, como a oferta de emprego nas fazendas, por exemplo 

E você acredita que esse ambiente que você descreve deixava tudo mais fácil para quem queria fazer política? 

Era mais pé no chão. Hoje a gente já tem internet e outros vários recursos, que maquiam muito uma situação. Mas, naquela época, era muito pé no chão e exigia muito a presença, que você tinha que ter. 

E qual foi o primeiro partido ao qual você se filiou? 

Fiz minha filiação no MDB, logo no início dos anos 1980, durante a eleição do Halley Margon, e foi quando o Maguito* saiu candidato a deputado e também ganhou a eleição. A campanha de Iris Rezende foi muito bonita, emocionante, nunca pensei que um dia ficaria atrás de candidato, mas quando o Iris passou por Catalão foi uma euforia e eu participei. Entrei de cabeça e gostei. Mas, até então, eu nunca tinha pensado em ser candidata.  O Adib também sempre foi MDB, mas para se candidatar como deputado na primeira eleição e ter chance de se eleger, mudou de partido. Ele foi orientado, pelo próprio Iris, a se filiar no PL, pois já existia um candidato a deputado pelo MDB, o professor Arédio Teixeira**. E o Iris, na época, tinha muita simpatia pelo Adib e o orientou a mudar para um partido coligado com o MDB. Foi então que surgiu o PL.

Maguito Vilela (MDB) foi vereador em Jataí, deputado estadual (1983-1987), deputado federal constituinte (1987-1991), vice-governador de Goiás (1991-1994). Foi governador de Goiás, de 1 de janeiro de 1995 a 2 de abril de 1998. Eleito senador em 1998, cumpriu mandato até 2006. Em 2008, foi eleito prefeito de Aparecida de Goiânia, sendo reeleito em 2012. Foi cotado novamente para a disputa ao governo de Goiás em 2014. Em 2020, durante o pleito eleitoral para a Prefeitura de Goiânia, contraiu o novo coronavírus. Mesmo internado num leito de UTI saiu vitorioso, mas infelizmente, não resistiu à doença. Morreu em 13 de janeiro de 2021, por complicações da covid-19, na UTI do Hospital Albert Einstein, onde ficou internado por mais de 80 dias.

** Arédio Teixeira (MDB) é natural de Catalão. Formado em Administração Pública pela FGV (1959) e em Direito pela Faculdade Nacional de Direito (1959). Fez Mestrado em Administração Pública pela Siracuse University nos EUA (1970) e Doutorado em Educação pela Stanford University (1981), no mesmo país. Foi Secretário da Prefeitura de Catalão (1960), Secretário de Estado da Administração no Governo de Iris Rezende (1983-1985). Foi também deputado estadual na 11ª Legislatura (1987-1991), mas licencia-se para assumir como Secretário de Estado de Minas, Energia e Telecomunicações no Governo de Henrique Santillo (1987-1989). Foi novamente deputado estadual, suplente do PMDB, 12ª Legislatura (1991-1995), assumindo temporariamente em períodos distintos, em 18.03.1991 até 31.12.1991 e em 30.06.1992, efetivando-se em  01.01.1993. Foi Diretor Parlamentar da Alego (1995-1998) e Presidente do IPASGO (1998). Juntamente com Itami Campos, lançou importante obra sobre a história do Parlamento goiano, a trilogia compõe uma série de estudos intitulada “O LEGISLATIVO EM GOIÁS – (1996)”. Os livros, disponíveis em formato pdf, incluem biografias de mais de 600 deputados e a composição das 16 legislaturas cumpridas pela Assembleia de Goiás. 

Quando o Adib se candidatou para deputado estadual pela primeira vez (pelo PL) você estava no PMDB. Ele fica dois mandatos na Assembleia, sendo o primeiro como suplente, e depois vai para a Prefeitura de Catalão? 

Isso. Quando assumiu a prefeitura, ele já estava no PMDB e eu entrei na Secretaria de Assistência Social.

Catalão é uma cidade polo naquela região e atrai muita gente. Então como foi seu trabalho à frente desta Secretaria?

Sim, Catalão é hoje uma cidade polo, naquela região. Catalão até os anos 2000 era, com certeza, muito mais precária do que hoje. Então, nós arregaçamos as mangas e começamos a trabalhar. Eu gosto muito de desafios. E o Adib falava assim: “olha, eu não posso contratar paisagista, não posso contratar arquiteto, então vamos ser nós dois”. Eu dizia: “eu topo, e ia embora” (risos). Era até engraçado, porque quando tinha que arrumar uma praça, ele já falava para o pessoal: “vocês já sabem atrás de quem vocês vão” (risos). Eu gostava de arquitetura, desenhava a grosso modo mesmo, me esforçava, dava palpite, conversava com todo mundo para encontrar a melhor maneira. Eu sempre gostei muito de planta e achava que a cidade devia ser bem arborizada, porque nossa região é muito quente. Dessa maneira, começamos a arrumar a cidade. Eu sempre fui muito entrona, gostava, mexia, corria atrás. E fizemos um bom trabalho. Veio a reeleição, ele foi reeleito com uma aprovação muito grande. Na época, foram quase 70% dos votos. 

E sua principal base eleitoral sempre foi Catalão?

Sim, minha base eleitoral sempre foi Catalão e os municípios daquela região*. Mas, como eu estava dizendo, no segundo mandato do Adib, o Alcides Rodrigues, uma pessoa maravilhosa, diga-se de passagem, me recebeu muito bem. Sempre foi muito cordial. Apesar do Jardel estar na Presidência da Assembleia, naquele momento, eu encontrei apoio em muitos parlamentares que o apoiavam e muita cordialidade junto ao governador e, por isso, acabei fazendo boas amizades, naquele período. Amizades como o Álvaro Guimarães**, o Samuel Almeida***, dentre muitos outros nomes. Por mais que tenha sido difícil, eu tenho muitas saudades.  

* ​​Os 11 municípios que compõem a microrregião de Catalão são: Anhanguera, Campo Alegre de Goiás, Catalão, Corumbaíba, Cumari, Davinópolis, Goiandira, Ipameri, Nova Aurora, Ouvidor e Três Ranchos.

** Álvaro Guimarães (DEM) é natural de Itumbiara. Bacharel em Direito, Empresário e Agropecuarista. Iniciou sua carreira política aos 18 anos. Foi vereador no seu município por 2 mandatos, sendo o primeiro em 1972.  É um dos deputados que mais cumpriu mandatos na Alego, estando atualmente no seu sétimo mandato (11ª,14ª,15ª,16ª,17ª,18ª e 19ª legislaturas). Foi deputado constituinte (1989), Secretário da Agricultura (1996), Presidente do Detran (1997), Secretário da Fazenda em Itumbiara (1999), Secretário Extraordinário de Assuntos Políticos do Estado (2001). Compôs a mesa Diretora da Alego junto com a ex-deputada Adriete Elias como Primeiro Secretário da Mesa Diretora (2008).  Ao longo dos seus mandatos, ocupou os principais cargos da Casa, exceto a Presidência. Representa mais de 40 municípios das regiões Sul, Centro-Norte, Sudoeste e Oeste de Goiás.

*** Samuel Almeida (PSDB) é natural de Itaguaru-GO. Cumpriu 3 mandatos como deputado estadual (14ª, 15ª e 16ª legislaturas – 1999 a 2011), foi líder do Governo na Alego (1999-2000) e chegou à Presidência da Casa (2004 a 2006) aos 34 anos de idade, o segundo jovem a ocupar o cargo. 

Você se lembra de algum momento marcante que tenha vivido dentro da Assembleia?

Tiveram muitos. Quando teve a eleição para a nova Mesa Diretora, o Jardel foi em todos os gabinetes pedindo para ninguém votar em mim. Mas como eu já tinha muitos amigos, acabei sendo eleita para compor a Mesa Diretora da Casa, junto ao novo presidente Helder Valin. E foi muito bom perceber que, realmente, eu tinha conquistado o meu espaço.

E seu partido, sempre te deu apoio?

Sim, mas também tivemos muitas divergências em algumas questões, com as quais nem sempre eu concordava, como, por exemplo, venda da Celg, na época*. Me davam muito apoio, mas eu sempre fui muito brigona, sempre tive posição, sempre quis mostrar que a Adriete podia pensar diferente do Adib. Uma coisa que me marcou muito também, quando eu cheguei, na Assembleia, foi a Onaide Santillo e o Marcelo Melo, que mesmo depois de terem concorrido para o Governo do Estado e para a Câmara Federal, respectivamente, foram lá me receber. Isso eu achei muito cordial da parte deles. Eu sempre tive muita amizade com eles e o José Nelto**. Um dia eles me chamaram, depois de um atrito com o Jardel e me pediram para evitar aquele tipo de situação. Eu disse logo: “olha, cada um tem um jeito, eu não sou de ir para embates, e se eu for, vai ser um embate apenas político, nunca será pessoal, jamais” (risos). Isso aconteceu porque houve uma discussão e, como se tratava da Adriete Elias, esposa do Adib, eles ficaram muito preocupados que isso pudesse se agravar. Naquele momento, eu disse pra eles: “cada um tem um jeito e não adianta eu falar que sou assim ou assado, aos poucos vocês vão conhecer o meu jeito”. 

Adriete se refere às discussões geradas dentro do próprio partido (PMDB) quando aconteceu a venda da Usina Hidrelétrica de Cachoeira Dourada, no Governo de Maguito Vilela (1997), considerada o principal ativo de Goiás à época. A usina foi arrematada pelo Grupo Endesa España – à época Chilena -, uma empresa de capital fechado, que possui 99,6% do que é hoje a Centrais Elétricas Cachoeira Dourada S.A. (CDSA). Anos depois, Marconi Perillo (PSDB) vendeu também a CELG (2015). Dessa maneira, ambos deixaram todo o sistema de geração e distribuição de energia do Estado completamente privatizado. 

** José Nelto (Podemos) é natural de Tiros-MG, mas veio para Goiânia ainda jovem. Iniciou sua carreira política no movimento estudantil no antigo Colégio Lyceu de Goiás. Ingressou no MDB, sendo seu 13º filiado. Foi vereador por Goiânia por três mandatos (1983 a 1994). Foi deputado estadual por cinco cinco mandatos (13ª, 14ª, 15ª, 16ª e 18ª Legislaturas). Foi líder do PMDB e da bancada da oposição na Alego. Eleito para a Câmara Federal, atualmente cumpre seu mandato como líder do seu partido naquela Casa. 

Seu marido sempre te apoiou nas suas posições?

Sempre me apoiou e sempre me orientou. Como ele já tinha passado pela Casa por dois mandatos, e eu estava no meu primeiro mandato, tendo estado, antes, apenas numa Secretaria, ele me orientava. Então eu ouvia, mas fazia o que eu achava que devia fazer. Eu também tive um apoio muito grande do pessoal da Casa, falo dos servidores da Assembleia mesmo.

Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou dentro da Assembleia?

A maior dificuldade que eu enfrentei na Assembleia foi a parte política com o Jardel, porque ele era o presidente da Casa, e isso coincidiu com o meu mandato. Eram perseguições bobas que eu sofria, como, por exemplo, retiravam verba do meu gabinete, engavetaram meus projetos.

E você se recorda de quantas deputadas havia na Casa naquela época?

Era a Casa das Sete Mulheres*.

A ex-deputada faz referência à minissérie produzida pela TV Globo, cuja trama desenvolve-se a partir da ótica das mulheres da família do líder da Revolução Farroupilha, Bento Gonçalves. As batalhas dos rebeldes separatista e republicanos contra as tropas do Império ocorreram no Rio Grande Sul e se estenderam de 1835 a 1845. A alusão decorre do fato de que, na 16ª Legislatura, além de Adriete, cumprindo igualmente seus mandatos na Alego, estavam as deputadas Betinha Tejota (PSB), Cilene Guimarães (PR), Flávia Morais (PDT), Isaura Lemos (PC do B), Laudeni Lemes (PP), Mara Naves (PMDB) e Vanuza Valadares (PSC).  Essa Legislatura se inicia com um total de oito mulheres, entretanto a deputada Flávia Morais se licenciou logo no começo do mandato para assumir a Secretaria de Cidadania e Trabalho.

E foi fácil essa convivência com as mulheres da Casa?

Demais! Eu e a Vanuza* até hoje somos muito amigas. Assim, de se falar todo dia, mesmo. Ela é hoje a prefeita de Porangatu e a gente se fala praticamente todos os dias. Inclusive, quando eu venho para Goiânia, a gente sempre combina de se encontrar por aqui. Só agora com essa pandemia que não deu pra gente fazer isso. Hoje, como eu vim num “bate e volta”, a gente se falou quando eu já estava na estrada e tentamos organizar um encontro, mas não deu certo porque, com o Adib desse jeito, eu não posso ficar muito tempo fora. Mas a gente sempre se encontra por aqui e se fala, nos tornamos grandes amigas mesmo. 

* Vanuza Valadares (PSC) foi deputada na mesma Legislatura, tendo sua base eleitoral fixada no nordeste goiano, mais especificamente no município de Porangatu e entorno. Teve uma atuação bastante voltada para as questões ambientais.

Foi uma das épocas em que mais houve mulheres presentes no Legislativo goiano…

Sim. Só a deputada Flávia* que ficou pouco tempo conosco, porque logo saiu para ocupar um outro cargo no Governo.  

Flávia Morais (PDT) se licencia, no primeiro ano do seu mandato, para assumir a Secretaria de Cidadania e Trabalho (2007 a 2010) a convite do então Governador Alcides Rodrigues, deixando uma vaga no parlamento. A pedetista cumpriu seu primeiro mandato (15ª Legislatura) na Alego pela legenda tucana e o segundo pelo atual partido (16ª Legislatura). Foi eleita deputada federal pela primeira vez em 2011, e atualmente cumpre seu terceiro mandato subsequente na Câmara Federal. 

Baseado no número de mulheres que há hoje na política, em Goiás, em quanto tempo você acredita que a Assembleia vá, de fato, poder contar com maior número de deputadas?

Acho que vai demorar um pouquinho. Minha experiência me faz crer que a própria mulher não acredita na mulher, infelizmente, até hoje. Existe um preconceito velado da mulher com a própria mulher. Está certo, tivemos muitos exemplos que não foram felizes para as mulheres. Mas, mesmo assim, existe uma grande quantidade de homens que também não dão certo, que batem a cara, mas mesmo assim os homens estão aí. Então, por quê nós não podemos ser assim também? A gente erra, todo mundo erra. Então por quê a gente não pode ter oportunidade? É muito difícil abrir espaço. Eu fui a primeira mulher eleita na minha região, de Catalão. A primeira!  Até hoje, candidatas a vereadoras na nossa cidade são muito poucas. Em Catalão, tivemos, até hoje, uma única candidata a prefeita. Eu acho que ainda há muito preconceito.

Mas um dado importante é que nós somos maioria da população…

Sim. Mas a mulher não vota em mulher. Mulher tem preconceito com mulher. Eu não sei se é uma disputa, porque a gente sempre vê a mulher como uma adversária… Talvez seja isso, mas é difícil. Eu já escutei isso muitas vezes. Eu fui candidata e, mesmo durante as campanhas do Adib, eu sempre tive muita sorte. Nunca recebi um não ou tive que enfrentar uma situação onde alguém fizesse cara feia ou desfizesse da minha presença. Graças a Deus eu sempre fui muito bem recebida onde eu fui, onde eu entrei. Onde eu bati, as portas sempre se abriram. Podiam até não votar em mim, mas sempre me trataram muito bem. 

Mas e os homens? Você acha que os homens apoiam as mulheres?

Não, muito pouco. São muito poucos os homens que apoiam as mulheres, principalmente dentro de casa.  

Eu não vejo como sendo apenas uma responsabilidade da mulher mudar o que está posto hoje, acredito que seja também uma responsabilidade do homem. O que você pensa sobre isso? Você acha que a gente precisa desses parceiros para caminhar juntos?

É aquilo que eu falo para você: a gente não tem que disputar com os homens. Pelo contrário, temos que trabalhar juntos. Não tem nada desse negócio de “atrás de um grande homem existe uma grande mulher”. Não existe isso, temos é que ser parceiros, entendeu? Caminhar lado a lado. Cabe aos homens também dar mais oportunidade para as mulheres. Está certo que ninguém dá oportunidade de mão beijada pra ninguém, a gente precisa conquistar. E a mulher tem feito isso. Mas eu digo dar oportunidade para as mulheres até mesmo dentro de casa. Os homens podem apoiar as esposas, as mães. Eu, por exemplo, sempre tive muito apoio dos meus filhos, o Adib era mais ciumento, mas é natural pela educação dele. O libanês tem essa cultura. Mas eu fui abrindo meu espaço aos poucos, mesmo. Por exemplo, agora vai ter uma pesquisa em Catalão e ele não me mostra (risos). Ele só diz assim: “74% das pessoas vão votar no candidato do prefeito”. E eu já pergunto logo: “quem é o candidato do prefeito?”. Fico brincando. Eu falo muito que, se for para ajudar, estou à disposição. Mas a gente sabe que a vida da gente muda muito. Eu tenho uma saudade imensa da Assembleia, foi uma época muito gostosa. 

Por falar nisso, o que muda de uma experiência para a outra, entre o Legislativo e o Executivo? Você consegue perceber diferenças importantes? 

Sim. A diferença é muito grande, muito grande, mesmo. No Legislativo você é muito dependente, e no Executivo você tem a canetinha. No Legislativo, você precisa de mais apoio, mais alianças, precisa construir uma base forte e sólida. No Executivo, nem tanto, você consegue executar mais facilmente aquilo a que você se propõe. 

Em qual dessas áreas você diria que incide uma responsabilidade maior? No Executivo, onde você possui maior liberdade, ou no Legislativo?

É. No Executivo você tem muita responsabilidade. Hoje vivemos um momento político difícil no Brasil, e o Executivo é muito vigiado, entende? Mas, nesse ponto, posso dizer que aprendi muita coisa com o Adib. A gente sempre prestou conta de tudo que fazia porque o dinheiro não é nosso. Então, você tem que ter muita responsabilidade com aquilo que está fazendo. Você tem a liberdade de executar, mas você também tem as obrigações, tem que ter o limite e prestar contas daquilo que você está fazendo. É uma liberdade vigiada, assistida, digamos assim. E o Legislativo, está certo, você tem que ter responsabilidade nos projetos e tudo, mas você praticamente transfere a responsabilidade para o Executivo. Por exemplo, eu faço um projeto e se ele não estiver bom, não estiver correto, o Executivo não precisa executar. Então, você tem que ter responsabilidade naquilo que você estava buscando realizar, no apoio que você vai dar ao governador, na hora da aprovação das contas [orçamento público]. Mas a responsabilidade de prestar as contas mesmo, você transfere para o Executivo. 

Mas você acha que o Legislativo representa mais o povo, já que nele você tem mais oportunidade de desenvolver projetos para quem você está representando?

Eu vou te responder como Executivo de cidade do interior. Nas cidades do interior, tudo é muito próximo, prefeitos e secretários. Você praticamente tem que fazer o papel do Legislativo, porque você tem uma proximidade muito grande com os vereadores, entendeu? Por exemplo, quando os vereadores são do seu partido, eles não vão fazer projetos mirabolantes que não podem ser executados pelo prefeito. Então, você tem uma proximidade muito grande com o povo. Às vezes, acontece muito isso, quando eu saio assim para um bairro, eu até posso ver uma necessidade, mas já sei que precisa da aprovação da Câmara. A gente então precisa conversar com os vereadores e pedir para que eles se sensibilizem com aquela situação para apresentarem projeto nesse sentido. Então, a gente passa a ter um contato muito grande e muito estreito com todas as pessoas. Já os deputados, eles também são procurados pelo povo, sem dúvida, mas os prefeitos naturalmente estão muito mais próximos e conhecem mais de perto a realidade do seu município, porque é quem está mais perto, mesmo. Querendo ou não, é o prefeito que está lá no município o tempo todo, enquanto o deputado, está lá na capital. Por mais que o deputado tenha base naquele município, ele trabalha, durante a semana, no Parlamento, e não tem como estar tão próximo. Então, o contato deles com as pessoas é mais superficial, eu diria.

E esse estar fora? Como é conciliar essa vida onde o parlamentar fica um pouco lá e um pouco aqui na Capital? 

É difícil, principalmente quando você tem filhos pequenos. A minha sorte é que, quando eu me elegi deputada, os meus filhos já eram maiores. Mas, mesmo assim, era difícil, porque, querendo ou não, você é cobrada. O Adib me deu muito apoio, mas me cobrava muito dentro de casa. Os filhos me apoiaram demais, mas, por exemplo, quando chegava o final de semana e tinha algum evento, em alguma cidade, eles reclamavam que, pelo menos o final de semana, deveria ser com eles. Eles já estudavam em Uberaba-MG e eu estava aqui. Então, a gente já sai para o compromisso com o coração doendo, com aquela coisa da cobrança. 

O que você acredita que tenha ficado para os seus filhos da vida política dos pais?

Eles acham interessante, mas gostam mais do pai prefeito e da mãe secretária, do que do prefeito pai e a mãe deputada (risos). Eles preferem a mãe mais perto e a gente compreende, porque em alguns momentos ficamos muito divididos. Durante meu mandato na Assembleia, eu andava pelo menos 600 km por semana, porque são 300 km para ir e mais 300 km para voltar*, fora as visitas e reuniões em outros municípios. Então, durante a semana, nos dias em que não tem sessão, a gente anda muito e você enfrenta de tudo, sol, chuva, noite, frio. Mesmo assim, eu adorava. 

* A distância percorrida entre Goiânia para Catalão totaliza 260 km.

Antes de ser candidata a deputada estadual você passou pela Secretaria de Ação Social por dois mandatos. Essa experiência foi importante para você lançar seu nome como deputada estadual?

Sem dúvida, principalmente por eu não ser de Goiás, não ter nascido em Catalão. Com o Adib médico, eu era mais dona de casa. Participava de algumas coisas, mas era mais ligada à vida doméstica, era mais reservada. Fiz amizades, mas, ainda assim, eu era dona-de-casa, cumprindo o papel de mãe.

O que então tira você dessa condição de se limitar ao âmbito mais doméstico, digamos assim, e a Secretaria de Ação Social. E quais foram as principais lições que a pasta trouxe para você?

Todo político tem que passar pela Ação social. É uma escola, uma grande escola. É onde você realmente conhece a fundo a política, o que se faz, o que o povo precisa. É onde se desenvolve a sensibilidade, onde você vê a coisa nua, a verdadeira política. Ali você precisa fazer política 24 horas, porque ninguém chega na Ação Social para te trazer resultado, todo mundo chega com problemas e quer resultados. 

Na Secretaria de Ação Social você conseguiu implantar muitos projetos? Qual deles você destacaria e acredita que tenha feito a diferença?

Eu destacaria o CCPA- Centro de Convivência do Pequeno Aprendiz.

É uma espécie de curso profissionalizante?

Sim. Desde de 2001, quando assumimos, eu já comecei a trabalhar com essa ideia de construir esse centro. Quando o Lula saiu candidato a Presidente da República* e falava sobre o primeiro emprego, a gente já tinha isso lá em Catalão. Em meados de 2001, eu já comecei a trabalhar nesse projeto. Fui para Brasília, no Ministério do Trabalho, para checar como a gente podia fazer, porque eu queria que os jovens tivessem a carteira assinada com todos os encargos sociais, como um trabalhador de verdade, mesmo. Foi muito trabalho até conseguirmos implantar isso lá em Catalão.

* Em 1989, Lula concorreu pela primeira vez à presidência da República, perdendo, no segundo turno, para Fernando Collor de Mello. Também foi candidato a presidente outras duas vezes, em 1994 e 1998, perdendo ambas as eleições, no primeiro turno, para Fernando Henrique Cardoso. Sua primeira vitória para a Presidência da República aconteceu em 2002, quando derrotou o candidato José Serra (PSDB), sendo reeleito no mandato seguinte. 

E você saberia dizer quantos jovens já foram atendidos através desse programa?

Naquela época, Catalão ainda era uma cidade menor, mas, ainda assim não foram menos de dois a três mil jovens atendidos. Desde então, nunca tivemos meninos de rua. Até hoje, nós não temos. 

Pelo que você apresenta, o seu município parece ter uma taxa muito baixa de vulnerabilidade juvenil. Você acredita que essa realidade hoje é produto dessa condição que foi oferecida lá atrás?

Sim. Nós não temos grandes problemas nessa área. Importante ressaltar que tivemos um apoio muito grande das empresas, na época em que fundamos esse projeto. Muitas empresas foram se instalar em Catalão. Eu também sempre fui muito destemida. Algumas vezes até cara de pau mesmo (risos). Não tinha vergonha de bater na porta de ninguém. Eu dizia: “olha, eu tenho jovens assim e assim…”. E eles achavam interessante. Na época, não tinha tantas obrigatoriedades que hoje tem, tantas cotas. Era mesmo mais uma questão de bater na porta, pedir apoio, mostrar o trabalho, mostrar a seriedade do trabalho. E assim a gente começou a fazer esse trabalho no contraturno escolar. Um período na escola e um período no CCPA.

Você acredita que, como reflexo disso, a educação no município também tenha avançado? Porque hoje em Catalão tem UFG, UEG, CESUC, SEPAC, SENAC, SENAI e SEBRAE?

Sim. A gente sempre trabalhou muito nesta questão da educação. Sempre foi uma grande preocupação. Então, quando se fala sobre a educação no Brasil, precisamos lembrar que antes tem que pôr no papel para depois executar. Na época que a gente estava na secretaria, nos primeiros anos, o Adib passou a creche para a secretaria e a gente fez um trabalho muito bom nas creches de Catalão, especialmente nos primeiros anos, até a coisa engrenar. A gente queria que a creche fosse para a mãe trabalhadora. Mas, até o pessoal da cidade, que tinha alguma condição, queria que a gente abrisse vaga para atender seus filhos também. Como o trabalho da prefeitura é voltado para todos, muitas vezes a gente tinha que abrir, por mais que você tentasse conversar e explicar que a preferência era das mães trabalhadoras. Alguns casos não tinham jeito. Eles diziam: “mas aqui é bom e as crianças são bem cuidadas”. As creches eram sempre muito bem vistas, nesse sentido. Hoje, temos muitos outros órgãos ligados à secretaria. Além do CCPA, tem também o abrigo dos idosos, a morada da criança, o restaurante popular, o CRAS*, o CREAS*, e programas como o Bolsa Família. Todos ligados à secretaria. Eu sempre tive uma coisa, eu fico um período na secretaria, mas no outro período eu gosto de andar, coloco o pé no asfalto e vou ver o que está acontecendo e nunca aviso. Sou sempre visita surpresa. Então eu chego, vejo o que está acontecendo, vejo como está o andamento do trabalho. Infelizmente, devido a pandemia, desde o ano passado o CCPA não está funcionando.

* Com base na Política Nacional de Assistência Social (PNAS) que normatiza o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) é o responsável pela prevenção de situações de vulnerabilidade e risco nos territórios, enquanto o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) trata as consequências e acompanha as famílias e indivíduo que já tiveram seus direitos violados. 

O que você diria que mudou com a pandemia nessa questão da Educação e da Ação Social?

Mudou demais. Na Ação Social foi a questão das necessidades, que aumentaram demais, porque houve um desemprego formal e as pessoas perderam até a renda do informal. As empresas tiveram que dispensar muitas pessoas.

E de certa forma também houve uma desassistência às crianças que não puderam estar presente nesses locais devido à pandemia?

Com certeza. E a gente sente demais, por isso. Por conta dessa situação, a gente começou a ver que os pais acabam deixando as crianças um pouquinho mais soltas. Mas, ainda assim, a gente não tem criança de rua. Teve até uma vez uma denúncia de um engraxate que havia entrado numa relojoaria. A gente foi atrás para verificar e descobrimos que a família já era assistida pela Ação Social e não teve nada daquilo, aquilo foi uma invenção do relojoeiro para fazer uma mídia. Só que ele escolheu a estratégia errada para tentar aparecer, porque ele usou a criança. No final, ficou parecendo que havia sido tudo planejado, porque depois que a gente conseguiu desvendar. Isso foi tudo muito chato, porque a criança nem sabia o que era ser engraxate. Nós perguntamos pra ela, se ela tinha a caixinha, aquela coisa toda. A mãe mentia muito, mas a criança não mente, você sabe muito bem que a criança não mente. Ela acabou contando tudo pra gente, o que realmente tinha acontecido. Nós também não temos trabalho infantil lá, graças a Deus! É claro que a gente não dá conta de vigiar tudo, mas a gente procura sempre estar de olho. Na verdade, até suspeitamos que tenha, mas não que seja visível, até o momento. 

Estamos há praticamente um ano e meio de pandemia e gostaria de saber, na sua opinião, qual vai ser o reflexo disso na área da educação?

Ah! Vai ser grande. A sociabilidade das crianças vai ficar comprometida, porque você percebe que, principalmente as criancinhas, aquelas que estão no ensino fundamental, é na escola que elas interagem. É na escola que elas têm a segunda interação com a sociedade. É onde elas têm mais convivência social. Então, você veja: aulas online podem até dar certo, mas eu acho que para a educação infantil, especialmente, é muito ruim. E até para o aprendizado, mesmo. Eu acho mais difícil de aprender. Não adianta falar que na aula online a criança que ainda não foi alfabetizada está aprendendo. É muito difícil. Se a criança está na aula online e passa um passarinho, ela vai deixar de olhar? E na sala de aula, no convívio com o professor, no dia-a-dia, as necessidades da criança, as indagações vão sendo olhadas. Acho que isso é muito importante. E isso, no online, é muito difícil de ocorrer. 

Nem sempre a família também tem condições de proporcionar o acesso à educação online para a criança, não é verdade?

Isso mesmo. E, nem sempre, a família pode estar sentada ao lado do filho, auxiliando e ajudando ele a prestar atenção. Então, eu acho que a educação foi muito afetada (fala com ênfase). Além disso, com o desemprego, a gente nota isso lá em Catalão, a necessidade das pessoas cresceu muito. A gente vê muita gente de fora vindo para a Catalão, inclusive, por conta disso. 

E, na Secretaria da Ação Social, o que vocês têm feito para tentar ajudar essa população desassistida? 

Olha, a necessidade maior das pessoas, por mais incrível que pareça, é a cesta básica. Tá certo, a gente enfatiza muito a questão da higiene, que se tornou ainda mais necessária durante a pandemia. Quando começou a pandemia, inclusive, fizemos uma campanha de esclarecimento, conversamos com as pessoas e começamos a fazer máscaras e distribuir para a população. Logo no início da pandemia, fizemos uma campanha de esclarecimento, conversamos com as pessoas e começamos a fazer máscara e distribuir para a população. Máscara de tecido, álcool gel, sabonete, pasta de dente, tudo isso a gente distribuiu para enfatizar a importância da higiene. Aumentou muito também os pedidos de ajuda para pagar o aluguel e os pedidos de cesta básica. A cesta básica foi mesmo o carro chefe. A gente faz o seguinte: nós temos assistentes sociais que acompanham cada uma das famílias que buscam ajuda lá na secretaria. Aumentaram muito também os riscos com as pessoas todas dentro de casa. A violência contra os jovens, as crianças, os idosos e as mulheres aumentou demais! Como eu já comentei, a gente toma conta da Morada da Criança. Lá a gente acolhe crianças que estão em estado de vulnerabilidade. Existe um caos criado pela pandemia, incluindo a solidão, associada ao aumento das necessidades. 

Pelo pouco que pesquisei sobre você, já deu para entender que você é uma pessoa otimista. Então o que você acredita que a gente pode esperar daqui pra frente?

Eu acredito demais que, daqui pra frente, com essa vacina que está saindo para todos, nós vamos voltar à nossa vida normal. Principalmente, nós, brasileiros, que não somos de ficar isolados. Nós somos de abraçar, somos felizes. A nossa felicidade, o nosso jeito alegre de ser, vem muito do poder do toque. Nós vamos tirar essa máscara, porque ela não faz parte do nosso guarda-roupa. O nosso modo de ser é contagiante, a gente sorri com os lábios mesmo, não só com os olhos. Eu realmente sou muito otimista e sei que vai dar certo. Eu acredito que vai voltar. Home-office está bom, mas não funciona para o brasileiro “ad eternum”. O brasileiro gosta de estar ali no escritório, conversar com os colegas, brincar com o chefe. A convivência, o lado social é muito importante e está arraigado no Brasil. As nossas crianças, eu acho que a criança brasileira está sentindo mais falta do convívio do que as americanas, inglesas, portuguesas. O brasileiro é muito caloroso e nós gostamos de manter contato com as pessoas. O dia que abre uma portinha, sai todo mundo (risos). Eu digo por mim mesma, inclusive. Essa falta de contato é a coisa que mais senti falta, porque minha casa sempre foi muito cheia de gente. E o pior é que estamos perdendo um tempo precioso na nossa vida. Está certo, a gente sabe que tem muitas famílias que perderam não só o emprego, mas também muitos entes queridos e que, para elas, tem sido tudo muito mais difícil. Nós que também passamos por isso, de certa forma, a gente sabe o quanto é sério, perigoso, difícil. 

É sem dúvida, um aprendizado, uma nova fase, uma readaptação para todo mundo, não é mesmo?

É realmente um grande aprendizado. A gente está aprendendo, a gente está se reinventando. Mas essa reinvenção nossa vai ser por pouco tempo, se Deus nosso senhor quiser! Eu acho que o ano que vem vai ser um ano diferente para todo mundo, para todos nós.

Falando do ano que vem, um ano eleitoral importante, o que você diria que a gente pode esperar para 2022? Quais são suas perspectivas?

Eu estou muito preocupada, muito preocupada… Me desculpa, mas não consigo esconder isso. Eu tenho pavor do Lula, tenho pavor do PT, porque a gente vê tanta coisa. Eu participei desse governo, eu participei da mentira que foi esse governo Lula. Lembro que quando começou esse negócio do Fome Zero*, ele não fez nada. O que ele mandava a gente fazer? Mandava você colocar uma caixa de papelão decorada nas portas dos bancos, do comércio, para as pessoas doarem, porque ele mesmo não deu um papel a mais de incentivo para o programa. Eu posso falar porque eu estava na Secretaria de Ação Social. 

Apenas trinta dias depois de assumir a Presidência da República, Lula lançou o Programa Fome Zero, cujo desafio era integrar políticas estruturais e emergenciais no combate à fome, criando uma rede de proteção social. Para alicerçar essa política, o Governo Lula criou o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (2004) e lançou o Programa Bolsa Família, que fazia a transferência de renda exigindo uma contrapartida dos beneficiários, como frequência escolar, acompanhamento do pré-natal e vacinação em dia. 

Então o que você está querendo dizer é que a União só fez basicamente propaganda do Programa Fome Zero?

Propaganda, foi só propaganda. Desde a época dele a gente via isso. Hoje não mais. A gente sabe, por exemplo, que a miséria no Nordeste tem jeito, mas quantos anos para chegar a água? Não estou defendendo o Bolsonaro, não, a única coisa que eu gosto do Bolsonaro é porque ele tirou o PT*, mas o Bolsonaro também eu acho que já deu. Ele errou demais**. 

Você acredita então que o melhor para o país seria buscar uma terceira via? 

Sim. A terceira via é o sonho de todo brasileiro, atualmente.  Fomos vistos pelo mundo inteiro como o país que teve maior roubo na vida pública. Aquela Operação Lavajato, mesmo. Gente, foi um absurdo o que aconteceu ali*! Agora querem livrar ele e deixar ele voltar**. O que é isso? Como homem, não merece meu respeito. Digo, nem como homem, porque quando a mulher dele morreu, em um depoimento, ele jogou a culpa na esposa morta para se livrar***. Então ele não merece nenhum respeito, nem como homem, entendeu? Eu me lembro que, na época, eu fiquei indignada de escutar aquilo. 

* A Operação Lavajato é uma  iniciativa de combate à corrupção e lavagem de dinheiro da história recente do Brasil e uma das maiores do mundo. Ela teve início em março de 2014, quando pela primeira vez, o país assistiu à prisão de muitos empresários e políticos importantes.  Dentre eles, estava o ex-presidente da República, Luís Inácio da Silva, que foi preso pelas acusações de crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, na ação penal envolvendo o triplex no Guarujá (12.07.2017).

** O ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foi mantido por 580 dias preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, Lula foi solto no dia 8 de novembro de 2019, um dia após o STF ter considerado a prisão em segunda instância inconstitucional. Lula já anunciou que deverá ser candidato novamente no próximo pleito (2022).  

*** O ex-presidente Lula também foi acusado de ter aproveitado o velório da sua esposa, (Marisa Letícia faleceu em fevereiro de 2017, vítima de um aneurisma cerebral), para pronunciar a frase que acabaria por ganhar o alto das páginas dos jornais: “Marisa morreu triste por conta da canalhice que fizeram com ela”.  

Como construir esse entendimento e buscar uma terceira via com o país tão polarizado como a gente tem visto?

Tem tanta coisa que a gente está vendo, que as pessoas de bem já não estão mais querendo entrar na política. A gente sabe que existe gente ruim na política, assim como existe na medicina, na engenharia, em todas as áreas. Mas o que dá Ibope na televisão e no rádio é a política. Não a política bem feita, mas a mal feita, infelizmente. Então, se propagou tanto essa coisa do político que rouba, que hoje as pessoas de bem tem receio de entrar na política. Eu falo até por mim, mesmo. Graças a Deus não tenho nada que desabone o meu nome, nem o do Adib! A gente anda de cabeça erguida. Mas a gente sabe que é assim. Principalmente na área do Legislativo. Quando se fala que é deputado, todo mundo já olha torto. É uma carga que vamos carregar por muitos anos, até mudar. Agora, terceira via, meu Deus! Rezo, por isso, todos os dias (risos). 

Em Goiás, o que você enxerga de possibilidades para a próxima eleição para governador? 

Olha, eu não sei se é pelo que nós passamos agora, depois que o Adib assumiu a prefeitura nesse atual mandato, com a prefeitura totalmente endividada e a cidade totalmente detonada… Vou te falar pelo CCPA, que é a menina dos meus olhos. Quando eu entrei lá, eu tive vontade de chorar. A gente tem lá a Vaca Mecânica, que produz leite de soja*… Eu não acreditei, quando eu vi o estado que deixaram aquilo. A câmara fria, onde a gente deposita o leite, aquilo tinha virado depósito de lixo! Porque a vida do leite de soja é curta, então você tem que produzir e imediatamente colocar na câmara fria. Quando nós chegamos lá, os computadores, uns que a gente tinha comprado e outros que a gente tinha ganhado, estavam todos estragados. O teto caiu e eles deixaram os computadores debaixo da chuva. Eu tenho fotos disso lá, o dia que você quiser eu te mostro. Eu tive vontade de chorar. Fiquei extremamente revoltada e isso foi em todos os órgãos. Além de querer construir as coisas novas, enfrentamos muita dificuldade. Então, eu vejo que o Caiado [Ronaldo Caiado, do DEM, atual governador do Estado de Goiás] também está enfrentando essa dificuldade. Mas nós somos um município, agora o estado é muito difícil. Então, hoje, a gente vindo pra Goiânia, deu pra ver que eles já estão arrumando as estradas, recapeando, não só aqui nessa região, mas a gente tem notícias também das outras regiões. Então, a gente estava comentando que nós temos que dar a oportunidade de um segundo mandato para o Caiado, porque aí sim, ele vai pegar um estado mais enxuto, mais organizado. Quatro anos é muito pouco, muito pouco mesmo! Você não consegue fazer tudo o que quer. Agora eu falo em termos de cidade, imagine você em termos de estado. Ele também teve que reconstruir muito rapidamente toda a estrutura da saúde por conta da pandemia. Também reconstruiu as escolas. As escolas estaduais em Catalão, nossa senhora, estavam uma vergonha! Se você ver como elas foram transformadas! E eu falo que não foi só Catalão, não, porque a gente sabe notícias das outras cidades. A gente tem amigos, né? O estado reformou mil escolas. E o tanto que ele organizou o estado, os salários, a polícia. Eu tenho que citar Catalão toda hora porque é onde eu moro. Em Catalão, a gente estava com medo de sair à noite, a violência era enorme, éramos manchete de jornais por conta da violência. Hoje, ele armou a polícia e a gente vê novos veículos, armas novas, salários em dia, isso é muito importante porque ninguém trabalha de graça. E outra coisa, o policial ele tem que ser respeitado porque ele sai de casa para enfrentar o bandido. Então, eles têm mesmo que ter bons salários, salário em dia, defendo muito isso. E ele tem que se armar, porque o bandido está muito armado.  E você consegue ver que o Caiado já fez tudo isso. 

Projeto Vaca Mecânica foi implantado para produzir e distribuir cerca de 800 litros de leite de soja para alunos do CCPA, entidades carentes e assistenciais como Morada da Criança, Abrigo dos Idosos, Ação Social, Cras, Creas, Bolsa Família e Terceira Idade. 

Então você conseguiu ver uma redução bem significativa com relação à violência?

Olha, o Adib está reconstruindo as praças e arrumando a cidade e você vê que as pessoas hoje conseguem passear e andar nas praças sem medo. Antes, ninguém saia de casa. Você não via isso acontecendo. A questão da segurança era muito séria. Acho que nós todos temos que dar uma oportunidade para um segundo mandato do Caiado. E nem estou falando por paixão, mas por justiça. Porque acho que o que a gente está vendo o que ele está fazendo e isso faz a gente crer que ele merece uma segunda chance.

E você hoje está no Podemos? 

Estou no DEM, o Adib é que está no Podemos. Mas eu tenho a impressão que logo, logo, o Adib vai para o DEM ou eu vou para o Podemos. Na época, como o Caiado estava reestruturando o DEM, ele queria que alguém de Catalão estivesse no DEM, então fui, com o intuito de reestruturar o DEM em Catalão. 

E você pretende se candidatar na próxima eleição?

Não é minha pretensão. Mas, se tiver que ser… Acho que não tenho o direito, pelo tanto que Catalão já fez por mim e pelo Adib, acho que não tenho o direito de fugir.

E por falar nisso, você e o Adib nunca perderam uma única campanha?

Perdemos, perdemos uma (risos). Ele perdeu a primeira campanha para o Jardel*. Inclusive, essa foi a campanha mais milionária que eu já vi em Catalão. O Marconi foi várias vezes lá. O pai do Marconi ficou quatro meses morando em Catalão. Virou questão de honra para eles ganharem do Adib. E mesmo assim, a diferença de votos foi de apenas 1.600. Foi uma coisa absurda o que aconteceu lá. Depois, nas eleições seguintes, o Adib ganhou com quase 80% dos votos. 

Jardel Sebba (PSDB) venceu a eleição de 2012 numa disputa apertada, com diferença de cerca de 2 mil votos. O PMDB estava no comando de Catalão há 12 anos. 

Você avalia que esse desempenho se deu depois que a população pôde observar a diferença das administrações? 

Às vezes a gente quer mudar, mas, lá na frente, percebe que não deu muito certo. Acho que tiveram a chance de voltar atrás, graças a Deus! E o Adib conseguiu tentar de novo e se reeleger. 

Durante o seu mandato como deputada estadual você se recorda de algum projeto que tenha apresentado e que tenha orgulho de ter feito?

Eu tive muitos projetos, mas muitos deles  não foram votados.  Fica até difícil a gente lembrar. Esses dias o diretor Rubens Sardinha falou que vai fazer um levantamento dos projetos para mim. Eu me lembro de alguns, sim. Teve projeto sobre os mais variados assuntos: proibindo uso da linha de cerol, legalizando uso da tornozeleira eletrônica, restringindo o uso de celular nos presídios, proibindo venda de anabolizantes. Até que foram muitos projetos, mas eram tão pouco discutidos (risos). Eu ficava tão chateada! Eu me lembro bem desse projeto da tornozeleira. Porque esse foi um projeto que eu coloquei, como se diz “debaixo do braço” e fui falar com o doutor Alcides [referência ao governador da época]. 

* Rubens Sardinha Bueno da Costa foi diretor Parlamentar no período em que a deputada Adriete Elias cumpriu seus mandatos como deputada estadual pelo MDB. Atualmente, ele é Assessor Adjunto à Presidência da Alego. 

Por que, naquela época, ainda não tinha tanta necessidade do uso da tornozeleira eletrônica como hoje?

Não tinha. Mas, no Brasil, já estava surgindo isso e pensei: “por que que Goiás vai ficar para trás?” E a restrição do uso do celular também, ele [o então Governador Alcides Rodrigues] achou muito bom. Me lembro bem desses dois projetos.

Se você fosse deputada hoje tem algum projeto que você gostaria de apresentar?

Olha, não sei se foi por causa dessa pandemia, mas eu fiquei muito próxima desse problema da violência com as crianças. E, como o CCPA foi uma coisa que a gente fez em Catalão e que deu certo, eu tinha muita vontade de levar isso para o nível estadual, para a gente ajudar essa juventude. Você está vendo que o crescimento das drogas está demais. O Adib está, inclusive, construindo um centro de recuperação municipal. Então, você está vendo que a juventude está indo por um caminho muito difícil de ter volta. Essa é uma coisa que eu tinha muita vontade de propor: ajudar na busca do primeiro emprego, porque isso é muito importante para o jovem. É uma questão de educação, você tirar o jovem e a criança da rua para trabalhar, porque o trabalho tem um papel estruturante na vida das pessoas. Tem até aquele ditado que diz: “cabeça vazia é oficina do diabo”. E realmente. Principalmente para o jovem, para a criança, porque, às vezes, eles não têm apoio dentro de casa, mas podem ter apoio em uma escola. A gente trabalha com meninos a partir dos 8 ou 9 anos. Você vê direitinho quando a criança tem um problema em casa, pelas cores que ela usa no desenho. A gente observa muito pelos trabalhos manuais, pela cor do tapete, da tinta. Então, você podia se aproximar daquela criança e ajudar. A criança vai dando sinais e a gente tem que saber entender esses sinais. Acho muito importante isso. Eu acho que se a gente realmente quiser mudar, a gente tem que cuidar das criancinhas para mudar o País. O Pelé falava isso há mil anos atrás (risos)*. E eu concordo plenamente com ele. Hoje todo mundo sabe: precisamos proteger as crianças. Hoje, quando a gente vê a violência, eu não aceito, principalmente com criança. Com velho eu também não aceito. Mas com criança, meu Deus! O idoso, às vezes, ainda recebe uma violência que ele construiu ao longo da sua vida…. Mas e a criança? Ela não tem culpa de nada, não tem culpa de nascer, não tem culpa das coisas que acontecem. Eu fico revoltada quando vejo violência contra uma criança. É uma coisa que não consigo perdoar. Tem também outros projetos… De vez em quando, vem umas ideias… Acho muito importante também projetos na área da saúde e segurança.

* Em novembro de 1969, após fazer gol de pênalti em Andrada, do Vasco, o Rei Pelé aproveitou o Maracanã lotado para chamar a atenção de todos para uma causa urgente e disse: “Vamos proteger as criancinhas necessitadas”. Desde então, ele empresta seu nome a esta causa, tendo fundado em 2005, o Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, que desenvolve um projeto social e se dedica a estudar temas relacionados à saúde de crianças e adolescentes. 

E a questão das cotas femininas para as candidaturas, o que você pensa a respeito?

Eu acho errado. Sou contra qualquer tipo de cota. Você está mostrando que você tem um tipo de… não é exatamente discriminação… mas existe cota para homem? Então porque que vai existir cota para a mulher? Essa obrigação traz a invenção das candidaturas, as candidatas laranja. Então eu sou contra cota para os negros, eu sou contra cota de qualquer tipo, porque aí sim você mostra que tem preconceito. Pra mim, começou essa coisa de preconceito no Brasil quando começou essa coisa de cota. Por quê, que o negro não precisa mostrar a capacidade dele? Claro que precisa, ele tem que ser tratado igual. Hoje em dia está difícil! Quando o Paulo Gustavo morreu, parecia uma pessoa da minha família, porque eu chorei muito**. Mas eu falei: “é difícil fazer humor no Brasil hoje”. Porque, antigamente, você tratava o negro e o branco da mesma maneira. Você fazia piada com os dois. Mas hoje você não pode fazer, nem brincar, nem falar. Por isso, sou extremamente contra. Acho que o deficiente, por exemplo, tem que ter mais oportunidade, mas não cota. Você tem que ter o lado humano de chamar o deficiente para trabalhar na sua empresa, dar oportunidade para ele, mas não estabelecer cotas. Por quê o brasileiro não pode ter sensibilidade e obrigação social, sem que necessariamente isso tenha que passar por uma lei? 

* A Lei nº 9.504/97 foi criada para estimular a participação da mulher na política. Através dela, a Justiça Eleitoral obriga que 30% das candidaturas de coligações sejam femininas. A norma é colocada como condição para que os partidos tenham acesso ao Fundo Eleitoral. No entanto, existem várias denúncias de candidaturas “laranjas” de mulheres que candidatas teriam se registrado apenas para cumprir a cota de cada partido.

**O humorista Paulo Gustavo faleceu em maio desse ano em decorrência de complicações relacionadas à covid-19.

Qual seria então a maneira que você entende que a mulher poderia ter uma entrada nesse mundo da política?

Ela tem que começar a se interessar mais por esse assunto, participar mais, saber escolher bem os candidatos, entender o processo político-eleitoral de uma campanha. Porque assim você começa a mostrar o seu lado, você quer participar, começa a se entusiasmar. Hoje a gente não tem muito entusiasmo, porque a mulher fala:  “Ah! Eu vou entrar, mas não vou ter voto. Quem vai votar em mim?”. A gente já começa assim e acaba não participando. Então, precisa participar, encontrar sua própria capacidade, conquistar mesmo seu espaço. 

E você acredita que pode haver algum programa nas escolas voltado para as meninas que possa de fato ampliar a participação da mulher na política?

Claro, a gente não falou do Péle, das crianças? É de criancinha que você vai começar a estimular e a colocar representantes mulheres nas escolas, para que elas possam aprender a debater e valorizar a mulher. Acho isso muito importante. Isso pode, sim, começar pela escola. Aliás, tudo pode começar pela escola, até o respeito. A escola acaba sendo a segunda sociedade. O lugar onde a criança vai aprender. Tá certo: família é o principal. Mas, na escola, também sempre se aprende muita coisa. O convívio social é extremamente importante. 

E de que forma os homens podem ajudar as mulheres a chegar lá?

Acredito que através do incentivo. Com o incentivo dos filhos, dos pais, do marido, da família, dos irmãos. E, principalmente, mostrar confiança. Por que a mulher só serve para ser arrimo de família? Nós temos que acreditar na mudança, porque quem acredita na mulher, que sustenta a família, é a família. Mas, nós temos que acreditar que a mulher pode sustentar mais, eu vou dizer assim, um estado, uma cidade, um país. Podemos acreditar que ela pode mudar a realidade social. A gente não pode se apegar ao que as pessoas dizem, às críticas que não colaboram. Tem muita mulher boa e tem muito homem ruim na política também. Não podemos ficar apegados a certos exemplos. A questão não é o gênero, mas sim a cabeça, o coração. 

Nesse projeto, Mulheres no Legislativo, que estamos desenvolvendo, na Casa, desde 2019, buscando mostrar o trabalho desenvolvido pelas deputadas que passaram pela Alego, a gente pode perceber que existe muita diferença entre o trabalho deles e delas. 

Com certeza. [Nós, mulheres], temos uma visão muito mais ampliada [da realidade]. Não somos iguais [aos homens] e nem devemos buscar a igualdade [em relação a eles]. Devemos, sim, respeitar as [nossas] diferenças, e mais, nos unirmos em torno delas. Não adianta a gente falar que somos iguais, não somos. Somos iguais em capacidade. A mulher tem a mesma capacidade de gestão, por exemplo. A gente tem visão diferente, mas a capacidade é a mesma. É um absurdo que, até hoje, os salários entre homens e mulheres sejam diferentes. Sei que isso acontece no mundo todo, não é problema somente do Brasil, não. No mundo inteiro a gente vê isso acontecer. Muito se fala de igualdade, mas nunca seremos iguais e nem temos que ser. A começar pela nossa estrutura física e nosso tipo de funcionamento. A mulher tem uma multiplicidade de papéis e consegue contornar mais facilmente as circunstâncias desafiadoras, sem necessariamente bater de frente. Tem mais jogo de cintura. O homem, pela força física que possui, fica mais tendencioso a partir para as vias de fato. A mulher não. A mulher contorna obstáculos. 

E qual legado você acha que mulheres, como você, por exemplo, deixam para o Parlamento goiano e para o estado de Goiás?

A gente tem vontade de ter deixado até mais, porque deveria até ter mais mulheres ali. Mas eu acho que o legado é a vontade da mudança, de ir à luta, de não ter medo. Te dou o exemplo de uma candidata vereadora que me falou: “depois que você foi candidata, eu perdi o medo de ser candidata”. Então, a gente percebe que o papel de uma, já faz diferença para a outra. A gente precisa estimular as candidaturas femininas.

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