Política
Muito além de primeira-dama
Uma menina de origem rural que se muda com a família para a cidade em busca de melhores condições de vida. Assim começa a história de Laudeni Miguel Dionizio Lemes. Muito conhecida por ser, desde os 20 anos, a esposa de Divino Lemes (1) e primeira-dama de Senador Canedo por quatro mandatos.
Nesta entrevista ao projeto Mulheres no Legislativo, Laudeni demonstra que o casamento bem sucedido, de mais de 30 anos, é apenas uma de suas muitas vitórias, afinal ela traçou uma trajetória própria na vida profissional e política. “Aprecio muito essa parte da minha história, porque sei que consegui contribuir para o sucesso das administrações do meu marido. Por si só, isso já é motivo de orgulho, mas nunca fui somente primeira-dama. Eu me dediquei a aprender, eu estudei muito e encarei todos os desafios”, avalia Laudeni.
Além de mãe, esposa e primeira-dama, ela concluiu duas formações universitárias (uma em Gestão Pública e outra em Direito), exerceu também diversos cargos administrativos no município de Senador Canedo. Foi radialista, apresentadora de TV e aos 33 anos chegou à Assembleia Legislativa de Goiás com 35.784 votos, a maior votação do pleito de 2002. “Sou tida como uma mulher forte e acho que sou mesmo. Não tenho barreiras. Depois de casada, fiz dois cursos superiores. Com filho pequeno, eu fui deputada e estudava ao mesmo tempo. Então, eu sou uma pessoa de luta, sabe? Eu nunca tive receio de nada, não. O resto a gente enfrenta e vai à luta”, define.
Ela conta que concorrer ao Parlamento estadual foi sua primeira experiência como candidata e que, com a campanha já em curso, chegou a desistir de concorrer, sentindo-se pressionada pela necessidade de conciliar os compromissos eleitorais com a vida particular. “Nessa época eu era primeira-dama, estava estudando, tinha dois meninos pequenos e as obrigações de dona de casa. Já imaginou? Eram muitas responsabilidades, mas eu dei conta. Aí firmei e fomos até o fim. Chegar à Assembleia com aquela votação tão expressiva me trouxe um sentimento de vitória, fiquei muito feliz porque as pessoas confiaram em mim, no meu trabalho”.
Deputada pelo PSDB na 15ª Legislatura e suplente também efetivada na Legislatura seguinte, Laudeni apresentou 54 proposituras na Casa, foi vice-presidente da Comissão do Setor Mineral na Alego, participou da Comissão de Meio Ambiente e presidiu a Comissão do Voluntariado na Assembleia. “Minha passagem pela Alego foi muito proveitosa. Foi uma coisa que eu não imaginava, mas vi que era capaz. Eu me desdobrei. Trabalhei demais, fui recordista de projetos de lei na Casa. Na Assembleia, fiz parte do social e de muitos projetos”, relata a ex-parlamentar. Entre suas principais propostas, relembra Laudeni, estavam a criação da Superintendência de Estado de Promoção da Igualdade Racial e a criação do Bombeiro Mirim, projeto que, segundo a própria autora, é um instrumento eficaz voltado à educação de jovens em situação de vulnerabilidade social.
Disputas políticas
As mudanças nos cenários políticos também afetaram a carreira de Laudeni. Eleita pelo PSDB e presidente da legenda em Senador Canedo, ela integrou a base marconista na Alego durante toda a 15ª Legislatura e em parte da 16ª. Na gestão de Alcides Rodrigues (PP), com os enfrentamentos e posterior rompimento entre o governo pepista e o tucano(2), Laudeni ficou em uma situação delicada na Casa e optou por licenciar-se do cargo sem apresentar justificativa, em abril de 2008, poucos dias depois de ter sido empossada. (Nas eleições de 2006, com 20.342 votos, ela alcançara a 3ª suplência da coligação PP /PSDB, e assumiu então a vaga gerada pela posse de Túlio Isac (PSDB) na Secretaria Extraordinária de Comunicação).
Na ocasião do seu licenciamento, já se falava sobre um possível cargo no secretariado do Governo Alcides, o que só se concretizou cerca de seis meses depois. Em novembro de 2008, Laudeni foi nomeada titular da Secretaria Extraordinária de Assuntos Intermunicipais. Em outubro de 2009, filiou-se ao Partido Progressista (PP), tornando ainda mais clara sua opção diante do racha definitivo que sofrera a antiga coligação PP-PSDB. Nessa época, o nome de Laudeni foi envolvido em especulações sobre a motivação política da saída do então deputado Daniel Messac (PSDB) do secretariado do governador Alcides Rodrigues. O comentário, à época, era de que o retorno do deputado licenciado à Assembleia seria uma retaliação à filiação de Laudeni ao PP.
Quando deputada, ela foi combativa. Com frequência, subia à tribuna para manifestar seus pensamentos e defender seus aliados. Há, inclusive, alguns registros desses momentos no portal da Alego. Em 15 de novembro de 2009, por exemplo, quando já havia ocorrido o rompimento, ela rebateu críticas do então deputado Daniel Goulart (PSDB) sobre a situação da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Diz a matéria: “Laudeni Lemes afirmou que os números não mentem e que poderá provar as condições financeiras da UEG. ‘É bonito fazer cortesia com chapéu alheio. Mas alguém paga. É preciso que a educação oferecida aos universitários seja de qualidade. Gostaria de dizer ao nobre colega Daniel Goulart que ele anda descrente, que anda com falta de apetite. E isso tem nome. Não tem mais a máquina do Estado nas mãos’, afirmou Laudeni”.
Alguns de seus principais embates foram com Daniel Goulart, até então seu correligionário, que chegou a anunciar que a processaria, como mostra cobertura jornalística da sessão de 9 de setembro de 2009:
Na entrevista ao Mulheres no Legislativo, Laudeni preferiu não aprofundar suas recordações sobre essas experiências, mas ressaltou que, embora esperasse ser tratada com mais delicadeza, não fugia dos confrontos quando esses se faziam necessários. “Eu tive discussões calorosas, o que é normal. Lá na Assembleia não te diferenciam por ser mulher ou não, e eu acho que é certo. Foi bom. Eu sempre tirei de letra, mas hoje tiraria muito mais e com maior conhecimento jurídico também. Na época, eu estava estudando. Já tinha uma noção e nunca abaixei a guarda para ninguém. Nem para deputado, nem para governo. Sempre tive o meu ponto de vista. Eu concordava com a minha postura, com o meu ponto de vista, com as minhas convicções”, relembra.
Temas prioritários
Durante as sessões plenárias, a parlamentar também se posicionava constantemente sobre temas que envolviam a família, direitos sociais e a proteção às crianças, como mostram diversas coberturas registradas pela equipe da Agência Assembleia de Notícias.
13 de outubro de 2009: A deputada Laudeni Lemes (PP) disse (…) que somente denúncias da sociedade podem contribuir para minimizar o mal da pedofilia e da exploração sexual de menores. “O Disque 100 está aí para isso, o Governo do Estado vem fazendo um trabalho brilhante nesse setor. É preciso que essa luta não cesse”, afirmou.
9 de junho de 2009: Priorizar, no Programa Renda Cidadã, do Governo estadual, as famílias carentes integradas por pessoas portadoras de deficiência, hanseníase e câncer. Esse é o objetivo da emenda apresentada pela deputada Laudeni Lemes (PSDB).
Muitas das propostas de Laudeni na Alego eram voltadas a transformar instituições filantrópicas em entidades de utilidade pública, o que lhes conferia mais possibilidades de obtenção de recursos para obras sociais. Essas pautas faziam parte da atuação de Laudeni há muito tempo, visto que, enquanto primeira-dama, também foi secretária de Valorização Humana em Senador Canedo, de 1997 a 2001, e secretária de Assistência Social e Cidadania, no mais recente mandato de Divino Lemes, encerrado em 2020. “Minhas bandeiras foram essas, voltadas à valorização do ser humano”, resume.
Apesar do longo envolvimento no campo das ações sociais, Laudeni também teve uma importante passagem pela Secretaria de Planejamento Urbano e Governamental, a partir de abril de 2017. Ela relata que, na ocasião, passou a ter uma importância maior na gestão municipal, o que lhe rendeu algumas críticas. “Tem aqueles que acham que a gente manda até no marido. Se fosse um homem mandando na mulher, estaria certo, mas se é a mulher dando um palpite, aí vão dizer que a mulher está querendo mandar”, reflete.
Dilemas da mulher na Política
Por causa de embates dessa natureza, Laudeni menciona que sua experiência na política nem sempre foi prazerosa. “Lutei, enfrentei dificuldades. Aqui em casa não, mas lá na Assembleia existia um certo machismo. Não sei se ainda existe. Eu passei por cima disso, de todas as barreiras”, aponta a ex-parlamentar, que, ao longo de seus mandatos, integrou as maiores maiores bancadas femininas da Alego.(3)
Em 2020, Laudeni tornou-se presidente municipal do Partido da Mulher Brasileira (PMB)(4), em Senador Canedo. Ela, que elogiou a capacidade e a persistência de suas colegas de Parlamento, também lamentou a redução da quantidade de mulheres eleitas. Para Laudeni, a falta de apoio familiar e de financiamento partidário são alguns dos fatores que explicam a menor representatividade feminina na política atual. “Talvez as mulheres não estejam se interessando mais. Eu tenho uma parte fundamental que é o apoio do meu marido, por ele ser político. A questão financeira também conta, porque há gastos. Não se faz campanha sem material de divulgação, transporte, equipe de suporte. São muitos gastos. Eu nunca vi dinheiro de partidos, fundo partidário(5). O gasto é da gente mesmo. Então, de repente, está faltando apoio”, sugere.
Embora se considere vitoriosa por ter conseguido conciliar bem todas as atividades acadêmicas e políticas com os cuidados demandados pela família, durante a entrevista, Laudeni deixa transparecer a existência de sentimentos dúbios acerca desse acúmulo de responsabilidades. Em alguns momentos, ela aponta que se orgulha de ter conseguido levar tantos afazeres concomitantes, mas em outros mostra que não tinha vontade de permanecer na vida pública, e o fazia por considerar uma necessidade maior. Esse dilema não é exclusivo dessa entrevistada. Foi um ponto comum entre as falas de várias outras parlamentares, principalmente dentre as que chegavam à Assembleia depois de já terem familiares ou maridos políticos. “Eu nunca quis ser candidata, mas meu trabalho no município sempre foi muito bem visto. Eu liderava muito, principalmente entre as mulheres. Aí o povo levou meu nome”, compartilha Laudeni.
Uma vez na política, porém, ela quis explorar seus limites e colocar em prática os conhecimentos adquiridos com dedicação aos estudos. Laudeni fala com orgulho da posição que assumiu na gestão mais recente de Divino Lemes, quando esteve à frente da Secretaria de Planejamento Urbano e Governamental. “É uma situação em que você tem que ter pulso firme. Não é tão simples. Não é o social, onde tem abraço e bebida. É um serviço de pulso firme. Não é maneiro não. É uma pasta pesada. As pessoas nunca me julgaram incapaz, porque elas conhecem a minha determinação”.
A capacidade de enfrentar desafios é a marca mais forte que os leitores poderão observar nas próximas páginas, onde Laudeni Lemes permite que conheçamos um pouco mais de seu passado, sentimentos e planos.
- Divino Lemes é considerado o primeiro prefeito de Senador Canedo, pois era o gestor quando a cidade foi emancipada, em 1989. Pelo PSDB, Divino foi eleito prefeito em 1996 e em 2000. No pleito de 2004, apoiou Alsueres Mariano, candidato derrotado por Vanderlan Cardoso. Lemes foi candidato em 2008 e também perdeu para Vanderlan. Novamente prefeitável em 2016, dessa vez pelo PSD, enfrentou problemas com a Justiça Eleitoral, tendo a candidatura impugnada por ser considerado ficha suja. Por ter conseguido reverter a situação no Judiciário antes do pleito, acabou eleito e logrou governar a cidade até 2020. Tentou mais uma vez a reeleição no final do mandato, agora pelo Podemos, mas perdeu para Fernando Pellozo, candidato do PSD.
- Alcides Rodrigues foi vice-governador nas duas primeiras gestões de Marconi Perillo (PSDB), de 1999 a 2006. Em março de 2006, assumiu o Governo quando Perillo se afastou do cargo para concorrer ao Senado. Naquele mesmo ano, foi candidato ao Governo, eleito com o apoio do PSDB. Porém, durante o Governo Alcides, em meados de 2009, houve o rompimento entre os dois grupos políticos, o que impactou a composição das bases (governista e oposição) na Alego.
- No primeiro mandato de Laudeni (15ª Legislatura), também foram parlamentares Carla Santillo (PSDB), Flávia Morais (PDT), Isaura Lemos (PC do B), Magda Mofatto (PMDB), Mara Naves (PMDB), Onaide Santillo (PMDB), Raquel Rodrigues (PPB) e Raquel Azeredo (PMDB). Já no segundo (16ª), além de Laudeni, também compunham a Casa as deputadas Adriete Elias (PMDB), Betinha Tejota (PSB), Cilene Guimarães (PR), Flávia Morais (PSDB), Isaura Lemos (PDT), Mara Naves (PMDB) e Vanuza Valadares (PSC).
(4) Em 24 de abril de 2021, a diretoria do Partido da Mulher Brasileira (PMB) aprovou a mudança de nome para Brasil 35. A sigla tinha o histórico de eleger parlamentares homens. Para a Legislatura de 2015-2019 da Câmara dos Deputados, o então PMB elegeu cinco parlamentares, todos homens. Nas eleições municipais de 2020 em Goiânia, foram eleitos dois vereadores homens pelo partido. Também nesse pleito, a então deputada estadual Marina do Modelo (RJ) foi a única prefeita eleita pelo partido, que fez apenas 46 vereadores em todo o país.
(5) Conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), desde as eleições de 2018 está em vigência a reserva de 30% do fundo partidário para campanhas eleitorais de mulheres. Entretanto, a exemplo do que ocorria no passado, muitas candidatas ainda relatam não receber recursos dos partidos, o que tem gerado investigações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acerca de candidaturas laranjas.
Como foi a sua infância? Onde a senhora nasceu?
Nasci na zona rural, no município de Bela Vista, em Goiás. Meu pai, Pedro Miguel, quando eu era criança, trabalhava como lavrador. Minha mãe era cozinheira. Meu pai já é falecido. Minha mãe, Zeni Maria de Souza, está viva, graças a Deus. Nós somos cinco filhos – quatro mulheres e um homem, todos vivos.
Aos oito anos, me mudei com toda a minha família para a região de Senador Canedo. Na época, Canedo ainda não era uma cidade. Uma parte pertencia a Bela Vista e outra a Goiânia*. Antes eu morava na fazenda, com a minha família. Tive uma infância muito boa ali, tranquila, mas sem tanta expectativa de crescimento. Embora a moradia fosse nossa, a gente tinha a expectativa de melhorar [de vida] cada dia mais. E como seria muito difícil fazer todos os dias esses deslocamentos entre uma cidade e outra, então minha família veio toda para a região de Senador Canedo, para que a gente pudesse ter uma escolarização melhor. Vim para estudar, depois me casei e estou aqui até hoje.
* Em 1953, o povoado de Senador Canedo era um distrito de Goiânia. Apenas em 1989, a emancipação do município foi aprovada pela Assembleia Legislativa de Goiás.
Como foi, para a senhora, essa mudança?
Foi bom demais vir para Senador Canedo, mas Senador Canedo nem era cidade. A gente praticamente saiu de uma vila e veio para outra. Por estar mais perto de Goiânia e dos recursos, já havia escolas melhores do que na zona rural. Eu sempre gostei muito de estudar, sempre tive a visão de que eu tinha que estudar. Eu era muito jovem, então nem tinha o pensamento sobre em que iria me formar.
Qual foi seu primeiro planejamento profissional?
Quando adolescente, eu já estava inteirada com a política dos colégios. Aos 16 anos de idade eu já me vi envolvida na política. Eu entrei para a vida pública de uma forma indireta e muito cedo. Eu vivia empolgada na política do colégio, com aqueles grupos, aquelas lideranças. Eu sempre estava à frente. O meu esposo era meu professor*. Era professor de matemática e geografia, e já era também político. Ele foi meu professor aos 11 anos e, depois, eu encontrei com ele novamente no segundo grau**. Quando ele era subprefeito, não havia gente formada. Como ele já era economista, ele dava aulas para ajudar. Ele era professor voluntário nessa época. Ele foi eleito como primeiro prefeito e, nesse intermédio, a gente começou a namorar. Eu tinha 18 anos.
* Divino Lemes é 14 anos mais velho Laudeni.
** Nomenclatura antiga do atual Ensino Médio.
Então a política entrou na sua vida muito cedo, né? A senhora não teve nenhum outro plano profissional?
Eu nem sequer cheguei a fazer outros planos. Naquela época ainda era só liderança de grêmio. Cargo mesmo não existia. Eram esses grupos, grupo de teatro, grupo de liderança. Na época, a gente não tinha essa ideia maior de política, de partido. De jeito nenhum. No primeiro mandato do Divino, eu assumi a Secretaria Municipal de Saúde. Eu tinha 18 e meio, 19 anos. Ainda antes de casar, com 18 anos, eu passei em um concurso, foi o primeiro concurso que eu fiz. Eu passei para agente administrativo e estava trabalhando, mas aí tive um problema e perdi o cargo contra a minha vontade.
Que problema?
A gente ajudou a eleger um prefeito na época, o Tomás de Aquino*, e depois que foi eleito, ele virou inimigo da gente. Isso porque ele queria que eu fosse fazer um trabalho de sair andando pelas fazendas acompanhada de um secretário. Não me senti à vontade. Aí eu recuei. Então ficou como abandono. Mas eu era agente administrativa, não era para andar por aí. Eu tinha que estar na minha vaga de agente administrativa, que era um serviço interno. Mas ele não me dava a vaga.
* Tomás de Aquino foi o segundo prefeito de Senador Canedo, eleito em 1992.
Como a senhora se sentiu ao ter que abrir mão de um cargo que a senhora conquistou pelo seu esforço?
Foi muito ruim porque houve uma perseguição política, nesse caso. Depois do primeiro mandato, como não havia reeleição na época, apoiamos esse candidato. Ele ganhou, se voltou contra nós e aí ficamos fora de tudo. Então, depois de quatro anos, o Divino se candidatou e ganhou novamente. Aí fui primeira-dama de novo. Fui primeira-dama quatro vezes e fui deputada duas vezes.
Como a senhora se colocava quando aparecia um desafio que a senhora não estava esperando?
Os desafios eu sempre encarei. Eu sabia que vencia um e viria outro. Não foi fácil. Ser mulher na política é complicado. Você é mãe, você é esposa, você não deixa de ser dona de casa e, ao mesmo tempo, entrar na política. É muita coisa. Então, para a mulher, tudo é mais difícil. Tem que ser mais forte do que imagina.
O que foi, para você, mais difícil do que a senhora acha que teria sido para um homem na política?
Ser mulher, dona de casa, mãe, esposa, porque, geralmente, o homem tem a política e mais nada. Já a mulher, não. Ela tem todas as funções que ela já exerce e mais a política. É um acúmulo.
Na sua opinião, isso está certo? É assim mesmo que tem que continuar ou isso precisa mudar?
Eu acho que não tem como mudar não, porque é o papel da mulher. Ela não tem como terceirizar o papel de mulher. Por mais que a gente tenha funcionários, não tem como você não administrar isso. A gente continua naquele papel. Você está fora, mas sabe o que está passando. É filho, é supermercado, é tudo. A mulher chega do trabalho e continua trabalhando até meia noite.
A senhora acha que isso, de alguma forma, prejudica o trabalho das mulheres, seja na iniciativa privada ou na vida pública?
A mulher dá conta, mas não é fácil. As mulheres se acostumaram com essa situação de que elas têm que ser fortes e é por isso que eu acho que elas são mais fortes do que imaginam. Elas conseguem. O homem não faz duas coisas ao mesmo tempo. A mulher faz dez coisas ao mesmo tempo. Já tendo filho, fiz Gestão Pública na UEG e depois, tendo dois, fiz Direito na Universidade Sul-Americana, ambas em Goiânia. Houve momentos em que eu levava meus filhos para a escola, em Goiânia e ia para a faculdade. Eu saía da faculdade, os pegava e ia para casa.
Mas esse acúmulo traz algum prejuízo para as mulheres?
Olha, eu não tive prejuízo, porque eu fui muito presente para meus filhos pequenos. Eu era deputada, primeira-dama, estava na luta e, mesmo assim, eu nunca perdi uma “reunião de pais e mestres” dos meus filhos, nunca deixei de fazer um aniversário deles na escola. Eu fazia na escola porque em casa não tinha jeito, e também porque os coleguinhas já estavam lá. Era mais fácil. Eu era presente na escola. Volta e meia eu levava e buscava as crianças. Eu trabalho muito com planejamento, desde muito pequena. Então, graças a Deus, eu tirei tudo isso de letra. Não foi fácil, eu repito, mas eu consegui.
Teve uma época em que eu precisei parar o curso de Direito umas duas vezes, mas não foi por motivos de família, foi por política mesmo, campanhas. Foi muito difícil. Mas por questão dos filhos não. Eu sempre tive pessoas boas para trabalhar comigo, que me ajudaram muito. A gente conciliava. Graças a Deus, não teve nenhum episódio que senti algum prejuízo.
Como foram para a senhora os processos eleitorais?
Foram muito bons. No primeiro mandato, eu nem queria. Eu nunca quis ser candidata, mas meu trabalho no município sempre foi muito bem visto. Eu liderava muito, principalmente entre as mulheres, aí o povo levou meu nome. Eu tive uma votação muito expressiva na época. Fui uma das deputadas mais bem votadas em Goiás. O número de votos foi de quase 36 mil. Na época, era voto para deputada federal. Todo mundo falou que se eu tivesse ido para deputada federal eu ganharia, mas fui para estadual. Depois, na reeleição, eu tive 22 mil votos, mas devido a uma chapa muito pesada, eu fiquei como suplente. Cheguei a assumir. Passado algum tempo, nós voltamos à Prefeitura de Senador Canedo e agora terminamos o mandato.
E a senhora atribui isso à sua vontade de estudar e se qualificar?
Sim. Fui eu mesma que quis fazer, tive a necessidade e sempre sonhei que iria estudar. Fui eu mesma que escolhi os cursos. E, graças a Deus, conduzi um mandato de secretária, que foi muito proveitoso. Ajudei muito o meu esposo, dei muita responsabilidade para cada secretário, porque, no Planejamento Governamental, toda a administração passa pelas mãos da gente. Eu estava ao lado do social, acompanhando, mas eu não poderia ficar lá 24 horas. Eu acho que eu estudei para fazer mais do que serviço social, porque, por exemplo, uma prefeitura igual à daqui tem dez, vinte assistentes sociais. Agora, o Planejamento Governamental e Urbano precisa de muito mais dedicação, porque é muito documento, é muita pasta, é muito processo. Se passasse alguma coisa errada, comprometeria meu marido e, automaticamente, sobraria para todo mundo, porque processo administrativo não acaba.
Como foi para a senhora migrar da área social, que é tida como feminina, e ir para a área do Planejamento, onde me parece que, em geral, os secretários são homens?
Foi tranquilo. No início, foi um secretário, mas ele foi impedido, porque era funcionário público do Estado. Era o Geraldo Beltran. Aí ele ficou lá alguns meses e, como não tinha outro na hora, meu esposo me falou: “Segura as pontas lá para mim”. Eu fui e gostei. Ele viu que eu sabia fazer. Nem eu tinha noção de que eu sabia tudo aquilo. Os dois cursos que eu fiz que me deram essa ajuda, essa amplitude. Eu fiquei lá e acompanhei o social a distância. Eu sequer sabia que seria capaz, mas foi uma experiência muito boa, tanto para mim quanto para a prefeitura.
Como foi perceber que, mesmo sendo uma Pasta muito complicada, a senhora era capaz?
Foi muito importante, principalmente para o bom andamento da administração, para ver o que se estava fazendo. Tudo que a prefeitura precisava, eu sabia e sei de cor e salteado. Por exemplo, se um secretário quisesse fazer algo lá, o processo dele passava na minha mão e eu sabia se tinha que fazer a mais ou a menos, ou, até mesmo, não fazer aquele gasto. Então, foi muito importante.
O seu marido, então prefeito, também reconheceu a sua colaboração?
Reconheceu e reconhece.
A senhora sentiu uma diferença sobre o seu reconhecimento ao migrar da área social para a área do planejamento?
Senti. Há as pessoas que não concordam, que, às vezes, acham que a gente é mais dura naquela pasta e que deveria ter alguém mais flexível, mas, ali, na pasta em que eu estava, tem que ser dura, porque os bens públicos são uma coisa muito séria. É uma coisa que eu não admitia deixar passar de qualquer jeito. Tem que ter muita seriedade, no rigor da lei. Eu trabalhei e sempre vou trabalhar no rigor da lei.
A senhora chegou a receber esse tipo de crítica?
Recebia algumas, sim. Gente que queria fazer a mais do que poderia fazer ou do que precisava. É uma situação em que você tem que ter pulso firme. Não é tão simples. É uma pasta pesada.
As pessoas nunca me julgaram incapaz, porque elas conhecem a minha determinação. Nunca fui julgada como incapaz. Fui julgada assim: “Ah, mas ela é dura demais”. Não é nem ser julgada, é apenas a verdade. “A Laudeni não deixa passar isso”. E eu acho mesmo que não deveria. Tudo tem hora certa. Eu sempre trabalhei de acordo com o Ministério Público. Ainda mais sabendo que era meu nome e o nome do meu marido que estavam em jogo.
O que representou, na sua vida, ser primeira-dama tantas vezes? E o que representa para a cidade essa figura?
Aprecio muito essa parte da minha história, porque sei que consegui contribuir para o sucesso das administrações do meu marido, e, por si só, isso já é motivo de orgulho, mas nunca fui somente primeira-dama. Eu me dediquei a aprender, eu estudei muito e encarei todos os desafios. Para mim, foi muito importante, foi um crescimento muito grande, mas realmente eu nunca fiz apenas o papel de primeira-dama, de ser só do docial. Eu sempre interagi no meio, sabe? Praticamente de igual para igual.
Então eu sou feliz por isso, eu tenho um currículo. Só lembrando aqui que, além dos cursos e dos mandatos, eu fazia outras coisas, tipo, eu fui apresentadora de um programa de televisão na TBC. Foram dois programas, um se chamava “Pampa e Cerrado” e o outro chamava “Mostrando Goiás”. Fui radialista também. Fiz muita coisa. Hoje eu penso que quero estar mais quieta, mais calma, cuidando das minhas coisas, principalmente por causa dessa pandemia*. Acho que é um momento de reflexão, um momento de parar e perceber que a gente tem que descansar um pouco e a pandemia não permite que a gente faça muita coisa fora. Então, a gente está cuidando mais das nossas coisas mesmo, das nossas famílias.
* Laudeni refere-se à pandemia do novo coronavírus, que chegou ao Brasil em março de 2020. Desde então, a doença tem exigido medidas de isolamento social.
Como está sendo essa fase de ser avó? A senhora falou que quer ficar um pouco mais tranquila e talvez o João Miguel tenha a ver com isso, né?
É muito bom. Eu não tive muito tempo de ficar com meus filhos quando eles eram pequenos e tenho mais tempo com meu neto agora. É, como dizem, avó é mãe duas vezes. O João Miguel tem quatro anos e, por enquanto, é meu único neto. Ele não me atrapalha. Assim como eu criei meus filhos, ele é criado também. Nós temos funcionárias. Eu saio, fico dois, três dias fora, viajo. Não atrapalha em nada. E o pai dele, o Daniel, mora aqui com a gente também.
Houve, para a senhora, internamente, essa cobrança de ser além da esposa do prefeito?
Eu sou uma pessoa de luta, de muita coragem, e meu marido gosta que eu faça isso, que eu o ajude. Então, é como eu te falei, a gente trabalha de igual para igual. Na vida política, há alguns que tentaram atrapalhar. Eles acham que a gente manda muito. Mas essas críticas nunca alteraram nada. Meu esposo nunca permitiu que as pessoas alterassem a nossa vida. Ele sabe da minha importância na vida pública, no profissional. Ele me respeita muito. Houve críticas sim.
Isso contou para que a senhora se interessasse por ele e vocês iniciassem essa jornada juntos?
Na época, eu não pensava nisso porque eu era muito nova. Depois fomos nos desenvolvendo na mesma situação, porque eu gostava de política e ele também. Ele estava sempre misturado nas escolas, nos colégios, nas formaturas. Então, nesse convívio, foi crescendo minha admiração pela pessoa e pelo caráter dele. Ele é uma pessoa muito boa, de família muito boa. Isso contou muito também, porque é uma família boa, são pessoas de caráter. Graças a Deus, está dando certo há tantos anos.
Nós construímos uma família bonita. Meus filhos são pessoas maravilhosas, trabalhadoras, e posso dizer que sou uma mulher realizada. Conseguimos educar bem nossos filhos e isso é muito importante. Meu mais velho, Daniel Uiatan, tem 26 anos. Ele cursa Direito e é empresário rural na área de construção civil. O segundo se chama Divino Pereira Lemes Filho, tem 23 anos, estuda Direito também e é empresário na área da construção civil.
Em algum momento, algumas palavras do seu marido ou dos seus filhos foram marcantes para a senhora, a respeito da sua luta, da sua força, da sua vontade de participar da vida pública?
Eu sempre tive incentivo deles. Se dependesse apenas de mim, eu nunca teria me candidatado. Sempre eles fizeram as minhas campanhas. O Divino trabalhava mais na minha campanha do que eu mesma.
Se a senhora não tivesse se casado com ele, acha que teria surgido esse interesse de, por exemplo, chegar a ser deputada estadual, ou isso ia se perder?
Deputada eu não sei, mas penso que estaria sim envolvida no meio da política, porque eu já era envolvida na política desde a época das lideranças dos colégios. Agora, se não fosse por ele, com certeza eu teria mais dificuldade. Sendo casada com um político, a gente já vive essa rotina, e ele gosta muito que eu participe. Ele sempre ajudou muito.
No começo, quando eu não queria sair candidata, foi o povo mesmo que estimulou. Foi um movimento popular e, como ele gosta muito de política, ele interagiu. Não foi ele que começou tudo, cresceu no meio popular. Ele já estava no mandato e foi conversando com as lideranças.
Inclusive, nessa campanha de 2020, eles quiseram me lançar para vereadora e eu fugi. Chegaram até a fazer adesivos com a hashtag #ComElaEuVou, porque não podia colocar o nome ainda. Acontece que eu já tinha feito um certo compromisso de apoiar outro candidato e esse cara ficou louco*.
* Laudeni optou por não mencionar o nome do ex-aliado.
Nessa última eleição, quem foi responsável por tentar lançar o seu nome?
Ninguém da minha família, foi o povo da comunidade. Foi espontâneo. Eu estava focada na Secretaria de Planejamento. Nem se eu quisesse, eu poderia sair.
E como foi a sua campanha para a Alego?
Foi uma campanha linda. Principalmente pelas crianças. Crianças de quatro, cinco, seis anos faziam campanha para mim (risos). A maior alegria era ser recebida pelas crianças. Quando eu chegava, elas me rodeavam. Eu era muito nova. Acho que as crianças gostavam por isso. Tinha criança que brigava com o pai e com a mãe. Elas falavam: “Se você não votar nela, você vai ver” (risos). Eu nunca esqueci. Outra situação é que eu desistia da campanha. Eu ligava para o prefeito cedinho e falava: “Olha, não estou mais”. (risos) Eu estava rodando Goiás inteiro. Era para ter obtido muito mais votos do que 36 mil. Eu dispensei muitos prefeitos.
Mas o que motivava a senhora a desistir nessas ocasiões?
Meus meninos pequenos*. Saudade, por deixá-los em casa para andar o estado inteiro. Eu saía na cidade e voltava logo, mas, no estado, você sai cedo e volta de madrugada ou dias depois. Eu tinha o sentimento de deixar as crianças, porque elas eram pequenas. E, em relação à campanha, eu não tinha sentimento de voltar a ela não. Voltava porque era obrigada. Eu gosto de política, mas, se fosse para escolher entre a política e meus filhos, eu nunca teria sido candidata a nada. O povo queria, o povo não parava de pedir. Então eu levava a campanha porque sabia que não tinha outra saída.
* Em 2002, ocasião da primeira campanha de Laudeni para deputada estadual, seus filhos tinham 7 e 4 anos.
Tinha um certo sentimento de culpa? Parece que muitas mulheres que têm filhos e trabalham sofrem muito com esse sentimento.
Não tenho culpa, sinceramente, porque eu consegui conciliar. Na época, não tinha Whatsapp, mas tinha o telefone deles. Qualquer coisa, eles ligavam. Eu estava fora, mas estava sempre falando com eles.
Nessa época eu era primeira-dama, estava estudando, tinha dois meninos pequenos e as obrigações de dona de casa. Já imaginou? Eram muitas responsabilidades, mas eu dei conta. Aí firmei e fomos até o fim.
Qual foi o sentimento ao obter quase 36 mil votos?
Foi um sentimento de vitória. Fiquei muito feliz. Foi um sentimento de realização. Minha passagem pela Alego foi muito proveitosa. Foi uma coisa que eu não imaginava, mas eu vi que era capaz. Eu me desdobrei. Eu trabalhei demais, fui recordista de projetos de lei na Assembleia. Trabalhei muito mesmo. Aí sim, na Assembleia, fiz parte do social, apresentei muitos projetos com a temática social.
Que projetos foram mais marcantes para a senhora?
Eu fui à tribuna, porque eu achava que era importante ir, falar dos meus projetos, das necessidades do Estado. Meus projetos foram mais voltados para o social, para o ser humano. Eu ergui a bandeira da igualdade racial. Criei, através desse projeto, a Superintendência Estadual de Igualdade Racial*. Sou autora do Bombeiro Mirim do Estado de Goiás**, uma coisa que é muito importante, porque trabalha com a questão de tirar as crianças da rua. As crianças que estão em situação de risco, a gente encaminha para o Bombeiro Mirim e essas crianças têm ali uma função, uma disciplina que não tem igual. Até hoje está em vigor.
Há outros projetos que eu tinha, mas minhas bandeiras foram essas, voltadas à valorização do ser humano e, ao mesmo tempo, eu sempre fui muito firme nas minhas convicções. Lutei, enfrentei dificuldades. Aqui em casa, não, mas, lá na Assembleia, existia um certo machismo. Não sei se ainda existe. Eu passei por cima disso, de todas as barreiras. Sou realizada pelos projetos que eu tenho e que estão aí até hoje, são inúmeros projetos. Eu acho que valeu a pena demais.
* O projeto apresentado por Laudeni Lemes foi aprovado e sancionado no Governo de Alcides Rodrigues. Trata-se da Lei 16.042, de 1º de Junho de 2007.
** Com o projeto 1287/03, a então deputada sugeriu a criação do Programa Bombeiro Mirim nas diversas unidades do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (Proebom), que resultou na Lei 14.805, de 9 de junho de 2004. O projeto oferece, a crianças e adolescentes, aulas teóricas e práticas com noções de ética e cidadania, salvamento aquático, combate a incêndio, salvamento terrestre, primeiros socorros, atividades recreativas e muitos outros conteúdos.
A senhora percebe em seus filhos alguma vontade política ou não?
Já percebi, mas hoje em dia não estou vendo isso. Eles estão envolvidos com o trabalho deles. São muito trabalhadores, graças a Deus. Eles estão muito focados na vida particular deles. Nem eu e nem o pai deles nunca incentivamos, porque a vida política é cheia de altos e baixos. Não é fácil. Ser político não é para quem quer, é para quem consegue. Mas não me arrependo de jeito nenhum.Eu tenho vários projetos importantíssimos que se tornaram leis. Eu sou realizada como deputada e como figura política em geral.
A senhora tem vontade de voltar a ser candidata?
Vontade não, mas, se for uma coisa pela qual tenha que passar novamente, estou preparadíssima, de cabeça erguida. Não tenho essa vontade, não estou com essa pretensão, mas o dia de amanhã, só Deus sabe. Eu sou uma pessoa muito mais madura, aprendi demais. Acho que, pela experiência que eu tenho, de vida e profissional, hoje eu sofreria bem menos. Principalmente com o machismo, ou, às vezes, com algumas indiretas. Eu tive discussões calorosas, o que é normal. Lá na Assembleia, não te diferenciam por ser mulher ou não, e eu acho que é certo. Foi bom. Eu sempre tirei de letra, mas hoje tiraria muito mais e com maior conhecimento jurídico também. Na época, eu estava estudando. Já tinha uma noção, nunca abaixei a guarda para ninguém, nem para deputado, nem para governo. Sempre tive o meu ponto de vista. Eu concordava com a minha postura, com o meu ponto de vista, com as minhas convicções. Eram discussões calorosas de tribuna, mas, para mim, era normal. Para mim, não era nenhuma surpresa. É como se estivesse tratando com um dos homens mais fortes e mais brutos que tem. É de igual para igual. Jogar indiretas e ser preconceituoso a gente não aceita. E lá é um lugar de muita visão, de muita imprensa, então ninguém é bobo de fazer isso.
Os seus projetos eram levados em consideração do mesmo jeito que os dos homens?
Sim, sempre foram. Nesse ponto, os deputados são muito parceiros uns dos outros. Todo mundo vota com seus projetos. Esse problema não há. A Assembleia é unida, mas ninguém é amigo de ninguém.
A senhora participou das legislaturas com a maior bancada feminina. Como era a relação de vocês?
Sim. Éramos muitas mulheres e a gente se dava muito bem. Eram mulheres maravilhosas, muitas líderes natas. As mulheres eram unidas, assim como os homens também eram unidos, mas lá todo mundo é igual. Eu vejo que hoje o número está bem menor. Eu acho que talvez as mulheres não estão se interessando mais. Eu tenho uma parte fundamental, que é o apoio do meu marido, por ele ser político. A questão financeira também conta, porque há gastos. Não se faz campanha sem material de divulgação, transporte, equipe de suporte.
Para encerrar, que mensagem a senhora deixa para as mulheres, aquelas que pensam em ingressar na política, aquelas que estão ainda em dúvida e as mulheres que veem a necessidade de que haja mais mulheres, mais representantes femininas na política?
Eu acho muito importante que as mulheres participem mais, principalmente porque os projetos das mulheres geralmente são projetos que valorizam a família. Não estou falando mal dos homens, mas os projetos delas, você pode olhar, são sempre valorizando a família, sempre tentando ajudar. Talvez elas pensem menos em obras de concreto, elas pensam mais no ser humano. Então, eu sou muito a favor de que tenhamos mais mulheres nas Assembleias, nas Câmaras de Vereadores, nos sindicatos, na Câmara Federal, no Poder Executivo, em todas as instâncias. Acho interessante que as mulheres participem, mas elas têm mais dificuldade sim. Até porque tem essa dupla jornada na vida para conciliar. Então, minha mensagem é que não desistam, que enfrentem as dificuldades e superem os obstáculos para seguir seus ideais e fazer diferença na política.
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