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Dia Mundial da Voz

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A Lei Federal nº 11.704, de 18 de junho de 2008, oficializou o dia 16 de abril como o Dia Nacional da Voz. A data já era comemorada desde 1999 como o Dia da Voz Brasileira, por iniciativa da Sociedade Brasileira de Laringologia e Voz em parceria com a Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia. Para essas primeiras movimentações, houve também o “apoio institucional de diversas sociedades, associações, conselhos e entidades como Sociedade Brasileira de Endoscopia, Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Associação Brasileira de Canto e o Conselho Regional de Fonoaudiologia – 4ª região”, relembra o histórico publicado pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.

Desde o começo, os profissionais da área se organizaram em torno de campanhas temáticas voltadas à prevenção de doenças relacionadas ao aparelho vocal: “Não arrisque sua voz – cuide da sua voz”, em 1999; “Afine a sua saúde – cuide da sua voz”, em 2000 e “Voz é vida, cuide da sua voz”, em 2001. Em 2003, a celebração passou a ter expressão internacional, tornando-se o Dia Mundial da Voz, ocasião que ampliou para todo o globo as preocupações que os profissionais brasileiros já difundiam sobre a saúde vocal. 

Em 2022, o tema da campanha é “Você em alto e bom som”. De acordo com o presidente da Academia Brasileira de Laringologia e Voz (ABLV), Dr. Hugo Valter Lisboa, o objetivo é exaltar a voz como o mais importante instrumento de comunicação do ser humano. “É principalmente pela voz que você expressa sua opinião, seus sentimentos, constrói relacionamentos e exerce toda a sua liberdade de dizer para o mundo quem você é e como pensa”, contextualiza Lisboa. O médico acrescenta que a principal preocupação da ABLV consiste na prevenção ao câncer de laringe. “É preciso estar atento aos sinais que a sua voz emite sobre a sua saúde. O câncer de laringe ainda é um dos mais prevalentes na população brasileira e o diagnóstico precoce é fundamental, já que as chances de cura ultrapassam 90% quando essa doença é detectada em seu estágio inicial”. 

Atenção e prevenção

Especialista em Voz e Motricidade Orofacial, a fonoaudióloga Juliana Ribeiro explica que há diversos tipos de problemas da fala e que eles podem ou não estar associados a outras enfermidades. Por isso, para que o próprio paciente consiga detectar se é necessário procurar um especialista, a profissional indica um questionário adaptado dos autores Behlau e Rehder. As questões envolvem, por exemplo, hábitos que representam perigo para o aparelho vocal e aspectos fisiológicos que acendem o alerta dos especialistas. “Você fica rouco frequentemente? Você grita demais? Você sente falta de ar durante a fala? As veias ou músculos do pescoço saltam enquanto você fala? Sua voz some ou muda repentinamente de tom? Você fuma há muito tempo ou em grande quantidade? Você ingere bebida alcoólica destilada diariamente? Você tem azia, queimação no esôfago (ou estômago) ou refluxo gastroesofágico?”, questiona a profissional. 

Juliana também alerta que quem apresenta problemas dessa natureza não pode se automedicar ou ignorar os sintomas. Uma simples rouquidão, por exemplo, pode estar relacionada a quadros mais severos. “A disfonia pode ser passageira ou crônica. Rouquidão frequente não pode ser considerada normal, pois diversos fatores podem estar associados: refluxo gastroesofágico, nódulos ou outras lesões nas pregas vocais, esforço fonatório, câncer de laringe. A fonoaudiologia atua em parceria com o otorrinolaringologista para o diagnóstico e melhor definição de conduta”, esclarece. 

Aquisição da linguagem

Outro ramo em que os profissionais da voz estão sendo muito requisitados é a educação infantil. A aquisição de linguagem e o desenvolvimento da fala são importantes marcadores da evolução biopsíquica e social dos indivíduos. “A fonoaudiologia infantil já se mostra presente em maternidades, quando é realizado o Exame da Orelhinha e o Teste da Linguinha em bebês com poucos dias de vida. Exames obrigatórios que identificam alterações na audição e no freio lingual do bebê”, exemplifica o Instituto Otorrino. 

O fonoaudiólogo Evandro Gomes, que é especialista em transtornos dos sons da fala e gagueira, aponta para a necessidade de observar os marcadores de desenvolvimento neurolinguísticos das crianças. Quanto antes se iniciar uma intervenção precoce com crianças que apresentem atrasos no desenvolvimento, melhores e mais rápidos os resultados, além da prevenção, é claro”. Em episódios de gagueira, por exemplo, o profissional aconselha que alguns comportamentos típicos dos pais devem ser evitados. “Pedir para a criança ficar calma, para parar de gaguejar, pedir para respirar, falar pela criança. São reações comuns dos pais, mas que não contribuem em nada com o quadro. Ao invés disso, devem optar por olhar nos olhos da criança enquanto fala e fazer mais pausas durante a sua fala”, orienta Evandro. 

Saúde vocal em todas as idades

Sílvia Maria Ramos é professora da graduação em Fonoaudiologia na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e diretora-secretária do Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFF). Ela, que também presta atendimento clínico a profissionais da comunicação, defende que a voz deve ser encarada por todos como um patrimônio. “Os cuidados vocais devem ser constantes, pois qualquer alteração, mesmo mínima, pode prejudicar a performance vocal. Assim como um atleta precisa cuidar, diariamente, de seu condicionamento físico, o profissional da voz deve manter os cuidados vocais no seu dia a dia”, aconselha.

A emissão da voz não envolve apenas o aparelho vocal, mas também a postura, a alimentação e a saúde do corpo e da mente. Por isso, Sílvia Ramos apresenta uma série de cuidados cotidianos capazes de melhorar o controle vocal e a qualidade da comunicação oral. “Articule bem as palavras, sem realizar esforço vocal; mantenha uma boa postura corporal ao falar ou cantar; beba água com frequência para manter a hidratação das estruturas vocais; tenha uma alimentação saudável rica em frutas e proteínas; use roupas confortáveis que permitam uma boa movimentação de abdômen, tórax e pescoço; procure reduzir a quantidade de fala durante quadros gripais, crises alérgicas e período pré-menstrual”, enumera a profissional.

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