Política
Combate ao uso de drogas
Data, 26 de junho, foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1987, para conscientizar a população sobre a problemática, enfatizando a necessidade de combater os problemas sociais criados pelas drogas ilícitas, além de planejar ações de combate à dependência química e o tráfico de drogas.
Mas ao que parece, os esforços nesse sentido não têm surtido muito efeito. O Relatório Mundial sobre Drogas 2021, divulgado essa semana pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) mostrou que cerca de 275 milhões de pessoas usaram drogas no mundo no último ano, enquanto mais de 36 milhões sofreram de transtornos associados ao uso de drogas. Outro dado trazido pelo documento revela que, entre 2010 e 2019, o número de pessoas que usam drogas aumentou 22%, acréscimo devido, em parte, ao crescimento da população mundial, o que não diminui a gravidade da estatística. O documento também mostra que, com base apenas nas mudanças demográficas, as projeções atuais sugerem um aumento de 11% no número de pessoas que usarão drogas globalmente até 2030 — e um aumento acentuado de 40% na África, devido ao seu rápido crescimento e à população jovem.
O levantamento trouxe, ainda, mais um fato preocupante: o crescimento do uso de drogas durante a pandemia, situação que tende a piorar. Segundo o documento “embora o impacto de covid-19 nos desafios das drogas ainda não seja totalmente conhecido, a análise sugere que a pandemia trouxe dificuldades econômicas crescentes que, provavelmente, tornarão o cultivo de drogas ilícitas mais atraente para as frágeis comunidades rurais. O impacto social da pandemia — que provoca um aumento da desigualdade, da pobreza e das condições de saúde mental, sobretudo entre populações já vulneráveis — representa fatores que podem levar mais pessoas a consumir drogas”.
Outro destaque do Relatório Mundial sobre Drogas 2021, foi com relação à percepção quanto aos riscos relacionados ao uso de drogas. A porcentagem de adolescentes que perceberam a droga como prejudicial, caiu em cerca de 40%, no período estudado. E em seguida, o documento alerta que esse é um grande entrave ao controle do problema. “Apesar de a porcentagem de adolescentes que perceberam a droga como prejudicial ter caído, persistem evidências de que o uso da cannabis está associado a uma variedade de danos à saúde. Os mais afetados são os usuários regulares a longo prazo”, diz o relatório.
A preocupação das Nações Unidas com esse ponto do levantamento é tamanho que o tema escolhido para a campanha do Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas desse ano, foi “Partilhe Fatos Sobre Drogas. Salve Vidas”, que é um pedido para que pessoas, entidades, governos e instituições, se esforcem pela informação correta, especialmente, dos jovens.
No Brasil, o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas Pela População Brasileira, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com outras instituições, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto Nacional de Câncer (Inca) e a Universidade de Princeton (EUA), também trouxe dados preocupantes. O estudo, divulgado em 2019, e considerado o mais completo levantamento sobre drogas já realizado no País, apontou que 3,2% dos brasileiros usaram substâncias ilícitas nos 12 meses anteriores à pesquisa, o que equivale a 4,9 milhões de pessoas. Entre os jovens, o percentual mais que dobra: 7,4% dos entrevistados entre 18 e 24 anos haviam consumido drogas ilegais no ano anterior à entrevista.
A droga ilícita mais consumida entre os pesquisados foi a maconha: 7,7% disseram ter usado ao menos uma vez na vida. Em seguida, veio a cocaína em pó: 3,1% já haviam consumido a substância. O levantamento também pesquisou outras drogas lícitas e ilícitas, como o crack, LSD, medicamentos, heroína, ecstsy, entre outros. Porém, os dados considerados mais alarmantes com relação aos padrões de uso de drogas no Brasil foram relacionado ao álcool. Mais da metade da população brasileira de 12 a 65 anos declarou ter consumido bebida alcoólica alguma vez na vida. Cerca de 46 milhões (30,1%) informaram ter consumido pelo menos uma dose nos 30 dias anteriores. E aproximadamente 2,3 milhões de pessoas apresentaram critérios para dependência de álcool nos 12 meses anteriores à pesquisa. Mais um problema que precisa ser combatido com informação, já que o álcool tem venda liberada e seu uso, no Brasil, é cultural.
A psicóloga Márcia Oliveira concorda com a necessidade de informações de qualidade à disposição, principalmente, dos adolescentes, já que é nessa faixa etária que a maioria das pessoas tem o primeiro contato com as drogas. Mas ela acredita que a informação deve vir no contexto das políticas públicas voltadas para a prevenção. “São vários aspectos envolvidos nessa problemática, algumas relacionadas à questões muito íntimas. Informação é importante, mas precisamos de muito outros instrumentos voltados para se evitar que os jovens enveredem por esse caminho”, diz ela.
Além da responsabilidade institucional, a profissional chama a atenção para a importância do papel da família nessa prevenção. “Conversa, conversa e conversa. Diálogo aberto, franco. E a proximidade com seu filho. Esteja sempre próximo, acompanhando, mostrando que ele pode confiar em você. Os pais também devem se informar e, quando notarem comportamentos diferentes, que sugiram que há algo de errado com o filho, que ele não está bem, aja o quanto antes. Busque ajuda profissional se for preciso e, faça-o entender que você o ama e que quer ajudá-lo.”
Essa proximidade orientada pela psicóloga foi o que valeu para o estudante universitário F.P.C (o entrevistado pediu para não ser identificado) se afastar da experiência com a maconha. Ele conta que alguns amigos da época do ensino médio, começaram a usar o entorpecente e ofereciam a ele também. O rapaz, hoje, com 19 anos, disse que ficou tentado a experimentar, pela curiosidade e ainda pelo receio de ser excluído do grupo, se não aceitasse. “Em algumas vezes, eu pensei em experimentar, pra saber como é, e, porque todo mundo estava usando e dizia ser uma sensação legal. Mas como minha mãe já tinha me dado muito material pra eu ler, sobre o perigo de usar como para experimentar e daí vir o vício, documentários que assistimos juntos, eu preferi nem usar uma única vez. Continuei a amizade, mas “saía fora” quando eles iam fumar. Depois eu comentei com minha mãe sobre tudo isso. E hoje eu vejo que foi o melhor que eu fiz”, relata o estudante.
Atuação da Assembleia
Na Assembleia Legislativa, o presidente da Comissão de Saúde, deputado Gustavo Sebba (PSDB) lembra que a Casa é uma das mais proativas em campanhas que alertam para a conscientização da população a respeito dos riscos do consumo de drogas. Para a lembrança ao Dia Internacional Contra Abuso e Tráfico de Drogas, ele lamenta não poder realizar nenhum evento, em função da pandemia de covid-19. “Mesmo solenidades e atividades que não geram aglomerações e que são majoritariamente virtuais, podem acabar pondo a saúde de servidores envolvidos na organização em risco, por exemplo. Por essa razão, não temos agenda prevista para a data”, esclarece.
Segundo o deputado, a competência para legislar sobre esse tema é predominantemente do Congresso Nacional, o que dificulta a atuação dos legisladores estaduais, mas mesmo assim, algumas iniciativas têm sido apresentadas e avalizadas pelos parlamentares. Sebba cita, ainda, a importância de olhar para outras substâncias, menos comuns, mas que também são utilizadas e causam diversas doenças.
Nesse sentido, ele cita o projeto de lei nº 2291/17, que estabelece controle da comercialização da cola de sapateiro e outros produtos derivados do benzeno, tolueno, xileno, clorofórmio e éter. A matéria proíbe a venda desses produtos para menores de 18 anos, como medida preventiva de combate ao uso e abuso dessas substâncias entorpecentes e como fator para diminuição da violência gerada pelo tráfico. “É preciso dificultar a venda de substâncias potencialmente nocivas a crianças e jovens, pois muitas vezes a gente se preocupa apenas com os entorpecentes e alucinógenos mais conhecidos e ignoramos que muitas coisas vendidas em mercados e farmácias sem receita, podem causar danos e até mesmo dependência química e física se o uso for abusivo”, conclui.
Você precisa estar logado para postar um comentário Entrar