Alta nos juros do cartão de crédito rotativo preocupa consumidores
A taxa média de juros do cartão de crédito rotativo para as famílias registrou uma alta de 7,1 pontos percentuais, passando de 422,4% ao ano em maio para 429,5% ao ano em junho, conforme dados das Estatísticas Monetárias e de Crédito divulgadas pelo Banco Central (BC). Apesar desse aumento mensal, em um intervalo de 12 meses, os juros dessa modalidade apresentaram uma queda de 6,3 pontos percentuais.
O crédito rotativo, que dura 30 dias, é acionado quando o consumidor paga menos que o valor integral da fatura do cartão, contraindo um empréstimo e começando a pagar juros sobre o valor não quitado. Essa modalidade é conhecida por ter as taxas mais altas do mercado.
Em janeiro deste ano, entrou em vigor uma lei que limita os juros do rotativo a 100% do valor da dívida. No entanto, essa medida não afeta as taxas pactuadas no momento da concessão do crédito e se aplica apenas a novos financiamentos, não impactando as estatísticas de junho.
Após os 30 dias iniciais, as instituições financeiras parcelam a dívida do cartão de crédito. Para o cartão de crédito parcelado, os juros caíram 5,4 pontos percentuais no mês e 15,6 pontos percentuais em 12 meses, ficando em 180,5% ao ano.
Além disso, o resultado do crédito livre às famílias em junho foi influenciado por um recuo de 6 pontos percentuais nas operações de crédito pessoal não consignado, que agora está em 87,8% ao ano, e por um aumento de 3,1 pontos percentuais no cheque especial, que atingiu 135% ao ano.
Com essas variações, a taxa média de juros no crédito com recursos livres para pessoas físicas ficou em 51,7% ao ano, uma redução de 0,7 ponto percentual no mês e de 7,4 pontos percentuais em 12 meses.
IMPACTOS PARA EMPRESAS
Nas operações de crédito com empresas, a taxa média de juros alcançou 20,9% ao ano, com um aumento mensal de 0,3 ponto percentual e uma queda de 1,9 ponto percentual em 12 meses. Contribuíram para esse resultado os aumentos mensais nas taxas médias do cheque especial (14,1 pontos percentuais), capital de giro com prazo superior a 365 dias (1,7 ponto percentual) e cartão de crédito parcelado (13,2 pontos percentuais). Em contrapartida, houve uma queda de 18,6 pontos percentuais no cartão de crédito rotativo e de 0,6 ponto percentual no desconto de duplicatas e recebíveis.
TAXAS MÉDIAS NO CRÉDITO COM RECURSOS LIVRES
No total do crédito com recursos livres, considerando pessoas físicas e jurídicas, a taxa média de juros atingiu 39,6% ao ano em junho, com uma redução de 0,3 ponto percentual no mês e de 4,6 pontos percentuais em 12 meses.
No crédito direcionado, onde as regras são definidas pelo governo e se destinam a setores específicos como habitação, rural e infraestrutura, a taxa média para pessoas físicas ficou em 10,1% ao ano em junho, um aumento de 0,2 ponto percentual no mês e uma queda de 1,6 ponto percentual em 12 meses. Para as empresas, a taxa subiu 0,6 ponto percentual no mês e 0,5 ponto percentual em 12 meses, chegando a 12,4% ao ano.
CENÁRIO ECONÔMICO E POLÍTICA MONETÁRIA
O comportamento dos juros bancários médios ocorre em um contexto de redução da taxa básica de juros da economia, a Selic, que vinha sendo cortada pelo BC como principal instrumento de controle da inflação. Desde agosto do ano passado, a Selic foi reduzida por sete vezes consecutivas. No entanto, devido à alta recente do dólar e ao aumento das incertezas econômicas, o Comitê de Política Monetária (Copom) interrompeu o corte de juros na última reunião, mantendo a taxa básica em 10,5% ao ano.
A trajetória da Selic reflete as ações do BC desde março de 2021, quando iniciou um ciclo de aperto monetário em resposta à alta dos preços de alimentos, energia e combustíveis. Após atingir 13,75% ao ano em agosto de 2022, a taxa começou a ser reduzida com o controle dos preços.
VOLUME DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO
Em junho, o volume das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 585,9 bilhões, um aumento de 2,4% no mês e de 9,3% em 12 meses. O estoque total de empréstimos concedidos pelos bancos atingiu R$ 6,018 trilhões, um crescimento de 1,2% em relação a maio e de 9,9% em 12 meses, impulsionado tanto pelo aumento de 2,2% no crédito às empresas quanto pelo aumento de 0,6% no crédito destinado às famílias.
O saldo do crédito ampliado ao setor não financeiro, que inclui empresas, famílias e governos, alcançou R$ 17,410 trilhões, uma alta de 2,2% no mês, destacando-se as elevações nos saldos de empréstimos externos, títulos públicos de dívida e empréstimos do SFN.