Órgãos não têm como chegar ao RS e até 2,7 mil pessoas podem ficar sem transplantes

Órgãos não têm como chegar ao RS e até 2,7 mil pessoas podem ficar sem transplantes

As inundações que atingiram o Rio Grande do Sul nas últimas três semanas tiraram, temporariamente, o estado da rede de envio e recebimento de órgãos e tecidos para transplantes. O motivo apontado para isso foi o fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre.

 

O Ministério da Saúde enviou uma nota na tarde dessa sexta-feira (17) informando que, a partir de segunda-feira (20), o Rio Grande do Sul poderá voltar a receber ofertas da Central Nacional de Transplantes (CNT).

 

O aeroporto em Porto Alegre era o principal ponto de chegada e saída de órgãos destinados a transplantes no estado, mas está fechado desde o dia 3 de maio.

 

A informação foi confirmada pela Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul à BBC News Brasil. Atualmente, o estado tem 2,7 mil pessoas na fila de espera por um transplante.

 

"As ofertas provenientes da Central Nacional de Transplantes foram suspensas devido à falta de acesso ao aeroporto Salgado Filho. Contamos atualmente com apenas duas pistas de acesso a aeronaves nos municípios de Caxias do Sul e Canoas", disse a nota enviada pela secretaria.

 

Segundo o Ministério da Saúde, a retomada prevista para segunda-feira foi viabilizada com a reabertura de pequenos aeroportos em Passo Fundo, Santa Rosa e Dom Pedrito.

 

Ainda segundo a pasta, na quarta-feira (15), foram retomadas as captações de órgãos e tecidos, em diálogo com a secretaria estadual.

 

A estimativa é de que as inundações causaram a morte de mais de 150 pessoas e afetaram 92% dos municípios gaúchos. Este já é considerado o maior desastre climático da história do Rio Grande do Sul e um dos maiores do Brasil.

 

De acordo com o chefe da divisão de Regulação Hospitalar do Estado do Rio Grande do Sul, Rogério Caruso, a saída temporária do estado da rede nacional de transplantes poderia prejudicar alguns dos pacientes que aguardam pelo procedimento.

 

"Infelizmente, isso coloca em risco a vida de algumas pessoas. Há pessoas que aguardam na fila (dos transplantes), mas não têm risco imediato (de morte). Outros pacientes podem correr risco imediato", disse Caruso à BBC News Brasil.

 

O médico explicou à reportagem que a saída temporária do Rio Grande do Sul da rede nacional de transplantes foi uma decisão do governo local em função do fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho.

 

"A gente informou que enquanto o aeroporto não estivesse funcionando, não teríamos como receber órgãos. A não ser que haja oferta de um voo da Força Aérea Brasileira (FAB)", disse Caruso à BBC News Brasil.

 

Normalmente, o transporte interestadual de órgãos e tecidos é feito em voos comerciais por meio de um convênio firmado entre o governo federal e as companhias aéreas.

 

Quando não há voos comerciais que atendam à especificidade do transplante, é possível que o órgão seja transportado em voos específicos da FAB.

 

Dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde na internet apontam que o Rio Grande do Sul é o quinto estado que mais realizou transplantes em 2023 em todo o Brasil: foram 733 procedimentos. O estado que lidera o ranking é São Paulo, com 2.955.

 

Rogério Caruso explicou que a saída temporária do Rio Grande do Sul dessa rede de doação de órgãos oriundos de outros estados afetaria os pacientes gaúchos, especialmente porque o estado é um dos maiores receptores de órgãos do Brasil.

 

"O Rio Grande do Sul recebe muitas ofertas de outros estados porque a gente tem equipes que fazem quase todos os tipos de transplantes possíveis. Se surge um órgão em algum estado do Nordeste, mas não há uma equipe lá que possa fazer o procedimento, esse órgão é ofertado a quem tem condições de fazê-lo. Por isso, recebemos muitos", explicou Caruso.

 

Nem Caruso, nem a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, por meio de sua assessoria de imprensa, souberam informar quantos transplantes deixaram de ser feitos durante o período das inundações.

 

O agravamento das enchentes afetou, inicialmente, tanto os transplantes que seriam feitos com órgãos de fora do estado como aqueles que poderiam ser realizados com órgãos captados dentro do Rio Grande do Sul.

 

As inundações comprometeram o funcionamento de hospitais e levaram ao bloqueio de diversas rodovias em todo o estado.

 

Por conta disso, o governo havia determinado a suspensão temporária das captações de órgãos disponíveis para transplante dentro do estado.

 

Na quarta-feira (15/05), o governo estadual autorizou a retomada da captação de órgãos para transplante dentro do estado.

 

"Com o auxílio da rede aeroviária nacional, foram disponibilizados helicópteros que favorecem o transporte não só de órgãos e tecidos, mas também de pacientes que necessitam acesso a outros locais do estado", disse a nota enviada pela Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul à BBC News Brasil.

 

Uma nota publicada pela Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul apontou que, desde o início das inundações, foram realizados 30 transplantes de córnea, mas todos eles a partir de órgãos que já estavam disponíveis nos estoques do estado.

 

Caruso disse que, no momento, as autoridades locais não avaliam a possibilidade de transferir pacientes que precisam de transplante para outros locais onde eles possam receber um órgão caso haja oferta.

 

Com informações da BBC News

 

Foto: Reuters