Produtoras prometem ampliar participação de mulheres no audiovisual

Produtoras prometem ampliar participação de mulheres no audiovisual

Representantes de produtoras brasileiras assinaram hoje (28), em São Paulo, uma carta na qual se comprometem a ampliar a participação das mulheres no setor audiovisual. A carta compromisso foi assinada no final da tarde de hoje na Cinemateca Brasileira, durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, maior evento de cinema do país.

Firmada com o movimento +Mulheres Lideranças do Audiovisual Brasileiro e a ONU Mulheres [entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero e empoderamento das mulheres], os representantes das produtoras O2 Filmes, Conspiração, Gullane e Pródigo se comprometeram a dar visibilidade à pauta das mulheres no setor audiovisual. Este compromisso inclui um diagnóstico sobre gênero e raça em áreas-chave e em suas produções, desde roteiro, direção, produção, até cargos técnicos. Ele também prevê que, após esse diagnóstico, sejam estabelecidas políticas para ampliar o número de mulheres em cargos de liderança, com especial atenção para os cargos de direção e roteiro das obras.

“Esse documento é o primeiro passo de um projeto mais amplo, que é uma carta compromisso das produtoras, para que elas façam o diagnóstico das equipes e também das obras que foram produzidas nos últimos cinco anos para a gente entender como a igualdade de gênero tem sido refletida. E para que a gente consiga marcar metas e ferramentas para mudar a realidade em termos de igualdade de gênero”, explicou Daniele Godoy, gerente de projetos da ONU Mulheres Brasil, em entrevista à Agência Brasil.

Hoje a carta foi assinada por apenas quatro produtoras, mas o objetivo é que isso se amplie para outros atores do mercado audiovisual. “A ideia é que a gente traga outras produtoras, as plataformas de streaming, as salas de cinema e TV para que eles também se unam a esse movimento”, acrescentou Daniele.

O compromisso foi assinado de forma voluntária pelas produtoras. “Estamos nos voluntariando a ter um compromisso com a ONU Mulheres e com a nossa indústria audiovisual para trabalhar na equidade profissional entre homens e mulheres, em todos os sentidos, tanto na contratação, na representação, na paridade de salário e todo tipo de representação”, disse Renata Brandão, CEO e produtora-executiva da Conspiração Filmes. “Esse compromisso vem não só para alinhar o compromisso com a ONU mas também para trazer e inspirar outros produtores da indústria toda”, acrescentou ela.

“Não é somente [um compromisso] para essas quatro produtoras. Esse é um convite que a gente está fazendo para a indústria como um todo e muitas outras produtoras, tenho certeza, vão aderir a esse pacto. Hoje, a Pródigo, por exemplo, já tem o quadro majoritariamente feminino dentro do quadro das pessoas que trabalham no dia a dia. Mas ainda acho que nas produções dá para a gente aumentar em certas áreas - e acho que esse é o nosso objetivo”, disse Beto Gauss, sócio-diretor e CEO da Pródigo Filmes.

Segundo ele, a Pródigo vem tentando aumentar não só a participação de mulheres, mas também de pessoas negras na produtora. “Queremos cada vez mais ter uma equidade de raça, que acho que é uma das nossas maiores buscas hoje: ter cada vez mais mulheres negras com a gente, nas nossas produções e no comando das nossas empresas”, disse ele, em entrevista à Agência Brasil.

Baixa representatividade

Dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) apontam que as mulheres apresentam baixa representatividade na liderança das obras, com apenas 20% e 25% delas ocupando cargos de direção e roteiro, respectivamente. Os dados da agência também apontam que a presença das mulheres negras e indígenas nesses cargos cai para zero nos longas-metragens. “Na verdade, a gente não tem muitos dados para entender como essa configuração se dá no Brasil. A gente agora vai se debruçar para entender como o setor está funcionando”, falou a representante da ONU.

Para ela, ampliar a participação das mulheres no setor audiovisual é importante não só para oferecer igualdade de oportunidades, mas também para romper com estereótipos. “Mulheres negras, mulheres indígenas, mulheres com deficiência, mulheres acima dos sessenta anos, mulheres trans e lésbicas. A gente fala disso porque diversidade é o que vai romper muito com os estereótipos que a gente enfrenta na realidade, que são essas barreiras nocivas que nos fazem não acessar oportunidades, não acessar alguns espaços. De fato a gente está pensando nisso porque o audiovisual tem um poder de convocação, de tocar quem assiste. Ele contribui pra formar o nosso imaginário, para revalidar valores também como sociedade. Por isso é tão estratégico para a gente estar no setor audiovisual”, disse Daniele.

Para Andrea Barata Ribeiro, sócia da O2 Filmes, a participação de mulheres no setor vem crescendo nos últimos anos. Mas é preciso fazer mais. “Sou de uma geração anterior, onde esse número era bem desigual [entre homens e mulheres]. A gente vinha num mundo majoritariamente masculino e isso era até refletido na publicidade, no jeito que as mulheres eram retratadas. Acho que isso vem mudando ao longo dos anos e todo esse movimento que nós fazemos é para ajudar e contribuir para essa mudança e para a rapidez dessa mudança”, falou ela. “É importante que essas pessoas possam se enxergar e possam ter voz para a gente evoluir também novas histórias e novos pontos de vista”, disse ela.

Edição: Aline Leal

Fonte: EBC Geral