O Dia Nacional de Prevenção da Obesidade alerta sobre os riscos causados por um dos mais graves problemas de saúde

O Dia Nacional de Prevenção da Obesidade alerta sobre os riscos causados por um dos mais graves problemas de saúde

Em 2030, aproximadamente 30% dos brasileiros adultos e 15,7% das crianças e adolescentes deverão ser obesos. A previsão é do Atlas Mundial da Obesidade 2022, publicado pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation). Ainda de acordo com o levantamento, a previsão a nível mundial é de um bilhão de pessoas. Uma a cada cinco mulheres e um a cada sete homens estarão obesos daqui a oito anos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera a obesidade como uma epidemia e um dos mais graves problemas de saúde a serem enfrentados. Para ressaltar a importância da prevenção e tratamento, em 11 de outubro é assinalado o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade.

No Brasil, segundo estimativas da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), a doença aumentou 72% nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019. Em Goiás, dados do Atlas da Obesidade apontam que a incidência está aumentando em praticamente todas as faixas etárias. Em 10 anos, apenas as crianças menores de cinco anos mantiveram estável o índice do excesso de peso. A faixa etária com maior aumento de sobrepeso é a dos adolescentes.

A OMS define a obesidade como o excesso de gordura corporal em quantidade que determine prejuízos à saúde. Uma pessoa apresenta o diagnóstico quando seu Índice de Massa Corporal (IMC) é maior ou igual a 30. Calcula-se o IMC dividindo o peso (em kg) pela altura ao quadrado (em metros). O índice é atualmente reconhecido como padrão internacional para avaliar o grau de sobrepeso. 

São vários os fatores que contribuem para o desenvolvimento da obesidade, não apenas uma única causa. A endocrinologista Camila Farias elenca, por exemplo, a tendência biológica do corpo humano em armazenar energia em forma de gordura; o acesso facilitado aos alimentos ultraprocessados; a predisposição genética, o estresse e o sedentarismo. 

“É uma condição multifatorial complexa que envolve a relação entre elementos econômicos, sociais e culturais. Não é apenas questão de comer mais ou menos, nosso corpo tem mecanismos que se adaptam à perda de peso. Quando estamos em processo de emagrecimento, o gasto energético cai e a fome aumenta. É natural”, explica a médica. 

Por ser uma condição crônica, caso não assistida, a obesidade se torna fator de risco para o desenvolvimento de outras comorbidades como hipertensão, diabetes, doenças hepáticas e asma. 

Por isso, o cuidado com o público obeso pode ser um desafio. Para ser efetiva, segundo a endocrinologista, a abordagem deve, necessariamente, envolver as diversas categorias profissionais das equipes de saúde e exige o protagonismo dos indivíduos, suas famílias e comunidade. É um esforço conjunto.

“A base de todo tratamento se baseia em adotar novos hábitos: ter uma alimentação mais saudável, praticar exercícios, cuidar das nossas noites de sono, das nossas emoções”, afirma Camila. 

O Ministério da Saúde tem lançado materiais técnico-informativos e estratégias para o enfrentamento do excesso de peso e da obesidade no Brasil. Alguns exemplos são o instrutivo de abordagem coletiva para o manejo da obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS) e o Manual de Atenção às Pessoas com Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária à Saúde (APS), com orientações práticas para o planejamento de ações e atendimento dos indivíduos com excesso de peso usuários do SUS.

O peso da discriminação

Os desafios no cuidado com as pessoas obesas não se restringem, todavia, às questões da promoção da saúde física. Um artigo publicado em 2022 pela revista científica Nature Medicine constatou que o preconceito contra a obesidade dificulta o acesso de pessoas acima do peso ao mercado de trabalho e a tratamentos adequados, afetando suas relações sociais e a saúde mental. O estudo, que é assinado por mais de 100 instituições de todo o mundo, aponta também que a discriminação é ainda mais perceptível entre as mulheres e entre indivíduos com IMC maior.

Generalizações sobre quem possui excesso de peso ou obesidade fazem com que essas pessoas sejam vistas de maneira negativa e seja criado um estigma sobre esta camada da população. Ainda há, igualmente, o risco de que o próprio indivíduo internalize esse preconceito de que é vítima e desenvolva transtornos como ansiedade e depressão.

A empreendedora e proprietária da Malaui, uma marca de roupas plus size, Laura Rodrigues, afirma que o maior prejuízo é a sensação da falta de pertencimento e amor próprio. “A sociedade faz com que a gente acredite que nosso corpo não deveria existir, que não devemos ocupar espaços, que não temos o direito de reclamar por esses espaços. Essa ferida de não pertencer acaba se tornando um peso real nas nossas vidas, fazendo com que a gente não se ache merecedor de nada, é muito injusto”.

E o preconceito costuma vir de diferentes lugares. Pessoas com obesidade podem sofrer com comentários e ataques de educadores, colegas ou chefes do trabalho, amigos, familiares, profissionais da saúde e até do conteúdo propagado na mídia.

Conforme defende Laura Rodrigues, o padrão físico que está estabelecido no ideal coletivo da sociedade é responsável pelo sofrimento daqueles que estão fora dele. “Não conseguem aceitar que um corpo gordo pode amar e ser amado, que um corpo gordo pode se alimentar bem e fazer atividade física sem ter o objetivo de perder peso. Para as pessoas é assim: qualquer coisa que uma pessoa gorda faça relacionada à saúde é porque quer perder peso, e não é isso”, declara. E emenda: “O corpo perfeito que tanto pregam por aí não existe. O corpo perfeito é o seu, do jeito que ele é!”. 

Conforme destaca a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica: “Um equívoco que pode ser comum para uma pessoa com obesidade ouvir é que é só questão de "tentar" comer menos e não "ter preguiça" de fazer exercícios físicos e, pronto, magicamente perderia peso”.

Ainda de acordo com a Abeso, o medo do estigma pode levar a pessoa a evitar a busca por cuidados médicos. “E combater a obesidade não é combater a pessoa com obesidade. E sim tratar a doença e respeitar quem convive com ela, acolhendo, ouvindo, estudando, andando junto”. 

Segundo a empreendedora Laura Rodrigues, a gordofobia por parte dos profissionais de saúde começa pela própria estrutura física dos consultórios. Isto é, muitas vezes, não há sequer acomodações apropriadas - desde salas de espera sem cadeiras confortáveis para pessoas maiores até macas e equipamentos médicos que não suportam o peso. 

Laura relata, também, a dificuldade de encontrar médicos compreensivos e que não reduzam a história do paciente aos números da balança. “A maioria acha que a pessoa gorda só vai ao médico simplesmente porque está gorda. Se procuro um atendimento para tratar, por exemplo, um corte no dedo, sempre dão um jeito de voltar a consulta para o peso, mesmo não tendo nada a ver”, conta.

A impressão que fica, segundo ela, é que os corpos gordos não são bem-vindos. E encerra com uma reflexão: “A melhor forma de oferecer apoio é sair da bolha do universo magro e entender que existem corpos de todos os jeitos possíveis. É criar espaços visando o bem estar de todas as pessoas, sem distinção”.

O papel do poder público

Na visão da coordenadora da pesquisa que resultou no Atlas da Obesidade no Estado de Goiás, Maria do Rosário Gondim, as ações desenvolvidas para a prevenção e controle da obesidade na Atenção Primária à Saúde não estão sendo suficientes para conter seu avanço. 

“Esse fato reforça a relevância do fortalecimento de ações multissetoriais, envolvendo secretarias de Infraestrutura, Saúde, Educação, Agricultura, Economia e Segurança Pública, entre outros. Além da educação permanente de gestores e profissionais nas novas estratégias preconizadas para o manejo individual e coletivo da obesidade na APS do SUS”, afirma.

Na Alego, parlamentares se dedicam à promoção da saúde do povo goiano tanto com leis já aprovadas, quanto com projetos que tratem diretamente da prevenção da obesidade e da vida saudável. 

Recentemente, o governador Ronaldo Caiado (UB) sancionou a Lei Estadual nº 21.354 (originalmente projeto de lei nº 1522/19), de autoria do deputado Bruno Peixoto (UB). A matéria propõe a instituição da semana estadual de conscientização da alimentação saudável, a ser realizada, anualmente, nas proximidades do dia 16 de outubro, data em que é celebrado o Dia Mundial da Alimentação.

“Todos os nossos órgãos e tecidos precisam de nutrição adequada para terem um bom funcionamento. Sem uma boa nutrição seu corpo fica sujeito à fadiga, além de infecções e outras doenças”, pontua o autor na justificativa da matéria.

Segundo o texto sancionado, durante a semana de que trata essa lei serão desenvolvidas pelo poder público estadual ações que contribuam para o esclarecimento da população goiana sobre a alimentação saudável, seus benefícios e no que contribuem para a saúde da população. “A sociedade civil e o poder público poderão promover eventos incluindo, entre outras atividades, promoção de palestras, debates e divulgação educativa."

Já em termos de iniciativas ainda em trâmite, o deputado Karlos Cabral (PSB) propõe, por meio do projeto nº2149/19, que seja criado um cadastro de obesidade infanto-juvenil para alunos do ensino público estadual. O objetivo é realizar uma triagem daqueles que apresentam desvios nutricionais e/ou risco para doenças crônicas não transmissíveis. Com isso, as escolas poderiam detectar precocemente potenciais problemas e encaminhar os alunos para o devido tratamento.

“Consideramos que as escolas constituem o ambiente perfeito para a implantação de programas de mudança de estilo de vida a fim de prevenir o surgimento e o agravamento do excesso de gordura corporal, bem como das doenças que acompanham a obesidade”, afirma o parlamentar. 

Ainda em relação à ações no âmbito escolar, Henrique Arantes (MDB) sugere, com o projeto nº 8845/21, a proibição do uso de qualquer tipo de açúcar no cardápio das escolas públicas estaduais. O impedimento proposto seria válido para açúcar invertido, cristal, refinado, de confeiteiro, mascavo e o demerara. 

A matéria tem como finalidade estimular a adoção de práticas e escolhas alimentares saudáveis que colaborem para a prevenção da obesidade, promoção da saúde e construção de hábitos alimentares mais saudáveis no ambiente escolar. 

A prática de atividades físicas como vetor para uma vida saudável também é tema de projetos de lei. No protocolado sob o nº 1965/20, o deputado Delegado Eduardo Prado (PL) pretende que seja reconhecida a essencialidade da atividade física e do exercício físico.

E o projeto nº 4004/20, de autoria do deputado Wagner Neto (PRTB), propõe instituir em Goiás a Semana Estadual da Atividade Física. O parlamentar esclarece que, por meio de palestras e eventos, a data tem como objetivo “incentivar a prática de atividades físicas, bem como a reeducação alimentar, incluindo profissionais da saúde e da educação”.

Fonte: Assembleia Legislativa de GO