Uma a cada três crianças tem perfil aberto em redes

Dados foram divulgados nesta terça pela Unico e Instituto Locomotiva

Um levantamento da Unico, empresa de identidade digital, em parceria com o Instituto Locomotiva, revelou que uma a cada três contas atribuídas a crianças e adolescentes de 7 a 17 anos de idade em redes sociais no Brasil têm perfil “totalmente aberto”.

A pesquisa, divulgada nesta terça-feira (28), Dia Internacional da Proteção de Dados, foi realizada com 2.006 responsáveis por menores em todo o país e aponta um cenário preocupante: 75% das crianças e adolescentes brasileiros possuem perfis próprios nas redes sociais, e 47% não controlam quem pode segui-los ou interagir.

EXPOSIÇÃO E RISCOS

Além dos perfis abertos, a pesquisa destacou práticas de exposição preocupantes. Entre os jovens pesquisados, 61% compartilham fotos pessoais e familiares, localizações frequentes e até identificam membros da família. Cerca de 33% chegam a postar fotos em uniforme escolar ou marcando a escola que frequentam, o que, segundo especialistas, pode criar um “mapa de vulnerabilidades”.

Para Diana Troper, diretora de proteção de dados da Unico, o cenário é alarmante. “Informações publicamente acessíveis podem ser usadas para fraudes ou outros crimes, especialmente contra pessoas mais vulneráveis”, alerta. A especialista também reforça que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) exige bases legais para a coleta dessas informações, incluindo consentimento dos usuários.

Os riscos vão além da exposição. A pesquisa apontou que a maioria dos pais (73%) desconhece práticas que podem levar ao vazamento de dados, como usar redes públicas de Wi-Fi, repetir senhas ou baixar aplicativos de origem duvidosa. Ainda assim, 86% acreditam que educar os filhos sobre proteção de dados é essencial para evitar problemas no futuro.

CONTROLE E CONSCIENTIZAÇÃO

O monitoramento parental é uma das ferramentas adotadas por famílias preocupadas. Em Brasília, a mãe Keila Santana, de 47 anos, acompanha de perto o comportamento digital do filho Pedro, de 13 anos. Ele só pode usar redes sociais por duas horas ao dia e evita postar conteúdos. “Eu cuido também da minha irmã caçula”, diz Pedro, que ajuda a mãe a observar a irmã Clara, de 10 anos.

Para Keila, o maior desafio é lidar com a enxurrada de conteúdos que as crianças podem acessar. Ela teme especialmente a reprodução de padrões estéticos e discursos de ódio. “É muito difícil lutar contra algo que você nem sabe exatamente de onde vem, porque os caminhos são muitos”, desabafa.

Luciana Alencar, também de Brasília, compartilha a preocupação. Com dois filhos adolescentes, ela teme que conteúdos misóginos, homofóbicos ou racistas os influenciem. “Nossa luta é educá-los para não reproduzirem discursos preconceituosos”, explica. Ian, o mais velho, já planeja mudar os hábitos: “Pretendo passar menos tempo nas redes e mais jogando bola com os amigos. Perfil aberto, só no mundo real”, brinca.

EDUCAÇÃO DIGITAL COMO SOLUÇÃO

A conscientização digital é apontada como um caminho para proteger as futuras gerações. Troper destaca a importância de manter perfis fechados e educar sobre práticas seguras. “A educação digital é fundamental para garantir que crianças e adolescentes naveguem de forma segura”, afirma.

Enquanto isso, pais como Suzana e Keila seguem enfrentando os desafios do mundo virtual, tentando equilibrar controle e diálogo para preservar a saúde emocional e a segurança de seus filhos.